Revolução Argentina de Maio e Documentação Histórica



É engraçado como nós, brasileiros, desconhecemos a História de nosso continente. Somos tão diferentes de nossos irmãos vizinhos que parece que estamos em outra região do mundo. Ao contrário de nós, os demais países da América do Sul e Central tiveram um processo de independência relativamente homogêneo e com características muito similares. Isto é manifestado pela ausência de produções acadêmicas, seja de artigo científico como de dissertações de mestrado ou TCCs de autores brasileiros que tratem sobre o tema. A emancipação americana se deveu a um conjunto de acontecimentos e fatores que desembocaram de forma relacionada entre si no início do século XIX na formação de juntas de governo (maiormente de nacionais, em contraposição aos colonos espanhóis) que respondiam pelo menos em teoria à figura do rei espanhol cativo na cidade de Baiona (Fernando VII). Este contexto prévio caracterizado pela efervescência ideológica herdada da difusão do liberalismo e o iluminismo, do efeito propagador da independência norte-americana e da revolução francesa, esses ideais de liberdade, igualdade e independência semearam o germe destrutivo contra os desmandos do período colonial espanhol, já em decadência (que tentou ser revivido pelas reformas borbônicas) e caracterizado pelo rigoroso monopólio político e comercial, um aumento das pressões impositivas e um marcado centralismo repressivo que pouco entendia das demandas indígenas e das críticas dos produtores crioulos. A seguir se citam alguns fragmentos textuais de documentos da época e transcritos em monografia de História que revivem as paixões e o clima de tensão que protagonizaram aqueles que forjaram a história dos países irmãos do Brasil; a Revolução de Maio Argentina Bs. As., 1810: Relatava Castelli: "Excelentíssimo senhor: temos o sentimento de vir em comissão pelo povo e o exército, que estão em armas, a intimar a V.E. ?vossa excelência- a cessação no comando do vice-reinado (?). Responde o Vice-rei Cisneros: "Bem pois, já que o povo não me quer, e o exercito me abandona, façam vocês o que queiram. De cor autobiográfica de Martín Rodríguez. No ata do cabildo do dia 23 de Maio se lia: "(?) No ato se procederam a regular os votos e feita a regulação com o mais prolixo exame, resulta dela a pluralidade com excesso, que o excelentíssimo Vice-rei deve cessar o comando e recair provisionalmente o mesmo no excelentíssimo cabildo". Situação que finalmente se definiu por pressão cívico-militar em 25/5/1810 com a criação de uma junta provisória. de governo presidida por crioulos. De um resumo histórico de Tomás Guido, expressa em um artigo científico argentino se extrai: " Nestas circunstâncias o senhor Dom Manuel Belgrano (?) que vestido de uniforme escutava a discussão numa sala contígua, reclinado num sofá (?) pôs-se de pé e subitamente e a passo acelerado e com o rosto acendido pelo fogo de sangue (?) e pondo a mão direita na cruz de sua espada disse: Juro à pátria e a meus colegas, que se às três da tarde do dia imediato o vice-rei não tiver sido derrubado, a fé de um cavaleiro, eu lhe derrubarei com minhas armas". Em escritos de Manuel de Pueyrredon, publicados em uma coletânea de projeto de pesquisa publicado pela Universidade da Argentina: "Em dia 25 de maio de 1810 meus pais estavam na praça, com todos seus amigos. Todas as portas e janelas estavam fechadas, nem uma alma se via nas ruas, o dia era escuro, uma neblina densa cobria o horizonte, a atmosfera daquele dia parecia anunciar desgraças (?) Assim permanecemos até as 4 ou 5 da tarde, que veio meu pai anunciando o triunfo dos patriotas e a deposição do Vice-rei (?) depois as janelas se abriram e se assomou Dom Antonio Teço e, dirigindo-se a minha avó, disse : Que manda você para Espanha, minha senhora dona Rita? E respondeu minha avó: Como que se vai você para Espanha, senhor dom Antonio?, e este lhe contestou: Sim, sim ?replicou. Vou-me, porque meus paisanos se tornaram loucos. Ah cachorro mulato?disse minha avó em voz baixa." Memórias de Belgrano e Saavedra em 25/5: "Concluiu assim esse dia por sempre memorável 25 de maio de 1810: dia que admiravelmente vieram os acontecimentos preparando, para começar nele por sacudir o duro jugo do domínio que nos apequenava e para abrir nossos lábios com liberdade, para pensar e sentir por ela". Quanto devemos retomar destes valores e destes exemplos para assegurar nossa soberania ameaçada não só desde o político, senão fundamentalmente desde o econômico e cultural num mundo tão conectado e tão globalizado mas com tão pouca identidade e tão pouca memória que chegamos a esquecer o essencial; sem raízes firmes e vigorosas nunca cresceremos fortes nem daremos bons frutos.
Autor: Carlos Silva


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