Reflexões acerca do ensino de História



Reflexões a cerca do ensino de História

Todos os setores, instituições e sistemas sociais passam por mudanças, transformações ao longo do tempo. Tais mudanças são frutos das necessidades de cada momento histórico, isto é, resultantes dos novos desafios que a sociedade apresenta. Neste sentido, o Sistema Educacional Brasileiro sofreu grandes alterações, ora em sua estrutura, ora na forma de se pensar a educação, a função da escola, e especificamente sobre o papel de cada disciplina. Veremos aqui algumas reflexões a cerca do ensino de História, analisando as idéias apresentadas pelos autores Marcos Silva e Selva Guimarães Fonseca, Maria Auxiliadora Schimidt e Marlene Cainelli e Circe Maria Bittencourt.
No primeiro texto "Ensinar História no Século XXI: Em busca do Tempo Entendido, os autores Marcos Silva e Selva Guimarães trazem uma reflexão a cerca do currículo das escolas brasileiras, atentando especificamente para a disciplina História. Fazem alguns questionamentos tais como: como são selecionados os conteúdos? Com qual objetivo são ensinados? de que forma são introduzidos? quais as metodologias e recursos adotados pelos professores? Os métodos, recursos e conteúdos são adequados a série e a faixa etária dos alunos?
Assim, ao mesmo tempo em que abordam a forma de organização dos nossos currículos e as suas finalidades, os autores fazem uma critica desse processo "isolado" de se pensar e construir os currículos, uma vez que temos uma sociedade multicultural, ou marcada pela diversidade. Acreditam que deveriam incluir uma participação mais significativa, havendo a necessidade de se pensar nas diferenças. Ressaltam que já vem sendo trabalhadas essas questões ao se incluir, por exemplo, os temas Ética e Pluralidade Cultural nos PCN, e mais recentemente a obrigatoriedade do ensino de História e cultura Afro-brasileira com a Lei 10.639/03, porém são propostas que apenas configuram no papel, distantes da realidade das escolas brasileiras.
De modo geral, podemos resumir a discussão dos autores em dois pontos significativos: o primeiro seria como ensinar numa sociedade multicultural e o segundo seria a questão da influência da mídia na vida dos alunos e na educação o que nos implica em questionar de que forma transformar tanta informação em conhecimento. Neste sentido, nosso grande desafio é pensar na proposta de construção curricular temática e multicultural, voltada para uma perspectiva crítico transformadora, que vai muito mais além da reforma de diretrizes curriculares. Depende muito de outros fatores, principalmente da reflexão sobre a docência, de repensarmos enquanto educadores e historiadores a nossa prática pedagógica, analisando nossas ações, o cotidiano escolar e, sobretudo, pensarmos sobre nosso papel de cidadão e nossa função de educador, bem como a função da escola.
No segundo texto Ensinar História, de Maria Auxiliadora Schimidt e Marlene Cainelli, as autoras trazem uma reflexão a cerca do saber e o fazer históricos em sala de aula, parindo da problematização da predominância da tendência tradicional, onde o ensino de História é baseado na repetição enfadonha dos conteúdos pelos alunos, levando os mesmos a ter antipatia com a disciplina, desconhecendo a importância da mesma na sua formação.
Segundo as autoras, essa prática é contraditória a proposta do ensino de História atual, o que se propõe é uma prática docente distanciada da imagem do professor como transmissor do saber, pois o professor é mediador, ele oferece condições para que o aluno construa o conhecimento, tornando-se sujeito do processo. Assim, a relação pedagógica ganha um enfoque plural, cabe ao professor dar ao aluno as ferramentas para aprender a pensar historicamente, o saber-fazer, o saber-fazer-bem.
Cabe ressaltar aqui, outro ponto importante discutido pelas autoras que são os significados de expressões muito usadas pelos professores, mas que desconhecem o significado, tornando-se assim discursos utópicos como procedimento histórico, método ou abordagem didática, técnicas de ensino, recursos didáticos, materiais e estratégias de ensino. Todas essas são ações indispensáveis para o processo, mas tem significados diferentes e atendem a perspectivas distintas as quais o professor deve adequar a cada situação no processo ensino-aprendizagem. Nessa perspectiva, são colocados em discussão várias abordagem ou os principais métodos e/ou maneiras de ensinar, a exemplo, abordagem magistral, dialogada e construtivista. As autoras explicitam cada uma delas apontando suas diferenças, pontos positivos e negativos (vantagens e desvantagens) junto a diferentes situações dentro da sala de aula.
Por fim, é apontada a relação entre método e ensino de História. São apontados como métodos possíveis o indutivo, os indícios e a investigação como pontes que ligam o aluno ao conhecimento histórico. Tais métodos colocam o aluno na condição de sujeito ativo que interage sobre o objeto de estudo, assimilando e acomodando a si mesmo para que a aprendizagem aconteça. Com o objetivo de nos levar a refletir sobre tais métodos, são dados sugestões de planos de aulas para as últimas séries do Ensino Fundamental, acompanhados de atividades e analise a cerca do ensino da disciplina História.
No terceiro texto, Ensino de História: fundamentos e métodos Maria Bittencourt, foca sua discussão sobre a História nas atuais propostas curriculares ressaltando a importância de se analisar os processos de mudanças ao longo do tempo e como atualmente ocorre "a seleção cultural" do conhecimento considerado essencial para os alunos. É importante lembrar que as renovações curriculares na década de 90 do século XX não foi um fenômeno nacional.
No Brasil, as reformulações curriculares têm seguido modelos externos, especialmente os da França, para o ensino de História. Tais reformas iniciaram-se na década de 80 com o processo de redemocratização do país, pautadas na formação política, voltada para as camadas populares. Para atender os novos pressupostos educacionais, o MEC promoveu as reformas curriculares em todos os níveis de escolarização. Foram elaborados os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para o ensino Fundamental e Médio, sob uma orientação internacional oriunda de pressupostos da psicologia piagetiana e da Tendência Construtivista.
Outros pontos abordados pela autora são as Concepções de conteúdos escolares e de aprendizagem. No Brasil, na década de 80 tal tema dividiu os educadores preocupados com as reformulações curriculares. De um lado havia os defensores da "pedagogia dos conteúdos". Em oposição a essa linha conteudista, os defensores da "educação popular", baseados em Paulo Freire. Neste contexto surgem dois pontos de discussão para a política educacional: critérios de seleção de conteúdos e a relação ensino-aprendizagem, os Métodos e as novas tecnologias propostas nas renovações dos currículos atuais.
Segundo Bittencourt, para atender as novas demandas educacionais foram criadas as propostas curriculares de História para a educação básica além dos PCN, as quais abordam características em comum e outras especificas para cada nível de ensino. Para as séries finais do ensino fundamental busca-se situar o atual estágio da produção historiográfica, os conceitos são considerados base para o conhecimento histórico, deve haver coerência entre os objetivos da disciplina e os fundamentos historiográficos e pedagógicos, há a preocupação com o conceito de história sociocultural. A seleção de conteúdos baseia-se em eixos temáticos ou temas geradores.
Para finalizar sua discussão Maria Bittencourt, comenta sobre os objetivos e temas para o estudo de História. Um dos objetivos centrais referidos nos PCN é sua contribuição na constituição das identidades, na formação política e intelectual (cidadania) e na formação humanística dos educandos. Quanto aos temas, estes se baseiam em estudos organizados pelos eixos temáticos, que devem ter como base responder aos desafios de um ensino histórico que pretenda atender ás necessidades da nova geração. Neste sentido, incorporou-se aos currículos o ensino baseado na interdisciplinaridade, transversalidade e contextualização, a partir de um tema gerador, dividido em eixos temáticos.
Em linhas gerais, todos os textos encontram-se inter-relacionados, um complementa o outro. São referenciais riquíssimos para refletirmos a cerca não apenas das diretrizes curriculares, ou da organização do sistema educacional do Brasil, mas, sobretudo refletirmos sobre nossa prática enquanto educadores, em especial como professores de História por sermos formadores de opiniões e responsáveis pela formação política, e sócio-cultural de nossos alunos.
Em resumo, precisamos desconstruir em nossos alunos o conceito de História como uma ciência do passado, e levá-los a construir um conceito de História viva, disciplina fundamental na sua formação. Torna-se necessário resgatar ou aguçar a curiosidade dos alunos para a importância do estudo dos processos históricos para que os mesmos percebam que é através da investigação dos acontecimentos passados, que passamos a entender o presente e planejar o futuro.

Refrencias:

FONSECA, S. G; SILVA, Marcos. Ensinar História no século XXI: em busca do tempo entendido. 1. ed. Campinas SP: Papirus, 2007. p.65-88.
SCHIMIDT, Maria Auxiliadora & CAINELLI, Marlene R. (orgs.). III Encontro
Perspectivas do Ensino de História. Curitiba: Aos Quatro Ventos, 1995.
Autor: Lucival Fraga Dos Santos


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