Você já entendeu o que anda acontecendo no mundo árabe?
Vou simplificar a história pra vocês: problemas econômicos e sociais desencadearam uma onda de protestos na Tunísia e provocaram a fuga do presidente, Zine El Abidine Bem Ali, para a Arábia Saudita, após 23 anos no cargo, no que está sendo chamado de Revolução de Jasmin (flor típica do país). Com um cenário semelhante, os egípcios se espelharam no exemplo dos tunisianos e foram às ruas para protestar contra o regime do governo Hosni Mubarak, que já atingiu a marca de três décadas no poder.
Para quem não sabe, o Egito é o principal aliado dos Estados Unidos no mundo árabe e, por isso, o que mais recebe dinheiro dos ianques. É exatamente aí que mora a contradição que já faz parte da folclórica história das relações internacionais dos norte-americanos. Os EUA se autodeclaram os grandes guardiões da democracia no mundo. Não poupam esforços para demonizar países considerados ditatoriais e em alguns momentos inclusive utiliza seu gigantesco poderio bélico para "implantar a democracia" nestes locais.
Não obstante, fecha os olhos para as inúmeras ditaduras africanas, uma vez que para a diplomacia norte americana trata-se de países em que não existem interesses estratégicos (leia-se: "lá não tem grana!"). Mais ainda, ignoram o fato de que muito deste homens "do mal" já foram um dia amiguinhos. Saddam Hussein e Osama Bin Laden, sem contar ditadores latino-americanos nas décadas de 1960 e 1970 (inclusive os torturadores brasileiros), receberam todo o apoio dos ianques quando lhes convinham. O mesmo ocorre agora no Egito, quando foi preciso 30 anos e um país em pé de guerra para os Estados Unidos se pronunciarem a favor de uma democratização. Faça-me o favor! É muita hipocrisia para um país só!
Pode parecer que sou um daqueles comunistas desiludidos a quem só restou o discurso antiimperialista e contrário a tudo que vem dos EUA. Iria mudar de opinião ao descobrir que só uso calça jeans e t-shirt, adoro os combos do McDonald?s, perco horas assistindo os filmes e séries enlatadas (desculpa Renato Russo!) e penso seriamente em aprender a falar inglês até os 30 anos.
Não sei se te ajudei a entender o que está acontecendo no mundo árabe (na verdade foi só um gancho que utilizei... desculpa, vai!), pois ainda teria que fazer uma alusão aos indícios de que outros países como Mauritânia, Argélia, Sudão, Iêmen, Omã e Jordânia possam seguir o mesmo caminho da Tunísia. Além disso, teria que analisar como isso tudo mudaria drasticamente o paradigma político dos países de maioria muçulmana. Isso dá tranquilamente uma tese de doutorado, mesmo que todas as mudanças parem por aqui (o que particularmente não acredito que ocorra). Entretanto, meu objetivo mesmo era evidenciar a incoerente política norte americana nestes acontecimentos, coisa pouco falada no noticiário e que merece maior discussão.
Autor: Luiz Eduardo Farias
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