O Alimento



Ocorre, nestes nossos dias de hoje, aquele fenômeno; "coma num restaurante por quilo que é mais barato!"

Óbvio que isso só pode funcionar para quem está em pleno regime, sofre de anorexia ou acertou na mosca o peso de seu prato! O que nunca foi o meu caso!

Com a chegada do inverno, então, é minha recente (bem, nem tão recente assim!) versão de ex-magro, que sofre as conseqüências. Comida, muita comida. O apetite dilatado pelo frio exige.

E lá estou eu... empunhando um prato, carregando nas colheradas e aumentando o peso (o meu e o do dele!).

De posse da comanda brilham os 600 gramas. Um absurdo!

Passados alguns minutos, entra no restaurante um jovem, 15 anos no máximo, baixinho e franzino, mal vestido e um pouco molhado.

Avança no corredor de iguarias variadas com uma certa ansiedade, servindo-se de tudo um pouco. Enche o prato de tal forma que me faz sentir bem. Penso que ali deva haver cerca de um quilo. Quando chega à balança decepciono-me um pouco com meu chute; "só" 850 gramas.

Vem então a surpresa;

-Xii moça, não posso pagar tudo isso não - diz com um sorriso ao mesmo tempo maroto e inocente. Só tenho dinheiro para duzentos gramas!

-Como? - retruca a funcionária, obviamente desconfiada da cena que se produz a sua frente. Mas você não viu que ia dar muito mais do que isso?

-Eu não sabia muito bem não quanto isso ia pesar.

Sem saber o que fazer, já que o prato estava feito e não haveria possibilidade de reaproveitamento da comida ela chama o gerente.

Ele mede o piá de cima a baixo, discute baixinho algo com ele, olha para os clientes. Não, não é um destes velhos conhecidos da casa. Não tem dinheiro mesmo. E está com fome. Pede para que ele espere.

O garoto ansia por uma definição. Olha em sua volta e, percebendo-se o centro das atenções, sorri sem jeito para todos que acompanham a situação.

Neste momento estou disposto a me levantar e oferecer a refeição ao mesmo. Não dá tempo!

O gerente volta, olha mais uma vez para o garoto, pergunta quanto ele tem no bolso. Faz menção, em tom mais grave, que abrirá somente esta exceção e entrega-lhe o prato.

O garoto, feliz, senta-se e começa a refeição. Come com gosto, saboreando cada garfada, apesar de um tanto corrido.Eis então, que o gerente retorna à mesa. Carrega uma bandeja e nela um copo de suco que é oferecido ao rapaz.

Terminada a refeição o menino se levanta e dirigindo-se ao caixa, puxa do bolso uns poucos trocados.

O gerente balança a cabeça em negação, sorri e devolve o dinheiro.

Sai o menino feliz e alimentado. Fica o gerente, feliz e com a alma alimentada. Saem os clientes restantes com a esperança renovada.

Hoje, menos uma pessoa passou fome, nesta nossa terra, ainda ingrata!


Autor: Alberto Montenegro Siqueira


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