PEDAGOGIA DA AFETIVIDADE



1. INTRODUÇÃO

Este trabalho tem o intuito de ressaltar o papel da afetividade no processo de aprendizagem. Visando conhecer um pouco do universo das emoções e dos grandes estudiosos que abordam este tema da AFETIVIDADE.
Esperou-se, com este trabalho abrir um leque de discussão acerca de como o afeto em na formação do indivíduo.
O objetivo maior foi pesquisar como se constrói laços de afetividade e como a mesma pode interferir no processo de ensino-aprendizagem norteando assim a relação entre professor/aluno, discutindo a postura do professor diante de dificuldades no relacionamento com os alunos
A escola tem que procurar criar um ambiente acolhedor fazendo com que a criança sinta-se bem, para que consiga aprender.


Pedagogia da afetividade

A afetividade em sua totalidade, considerando-a em sua relação com a emoção, o sentimento e a paixão. Com esse sentido ela é abrangente estando sempre relacionada aos estados de bem-estar do indivíduo. Assim, podemos afirmar a existência de manifestações afetivas anteriores ao aparecimento das emoções, dentre três aspectos da afetividade, as emoções são as que exercem maior impacto corporal, possível de ser visualizado por quem observa.

Wallon estabelece uma distinção entre emoção e afetividade. Segundo o autor (1968), as emoções são manifestações de estados subjetivos, mas com componentes orgânicos. Contrações musculares ou viscerais, por exemplo, são sentidas e comunicadas através do choro. Ao defender o caráter biológico das emoções, destaca que estas se originam na função tônica. Toda alteração emocional provoca flutuações de tônus muscular.

A importância da afetividade para o desenvolvimento da criança é bem definida. Ela tem papel imprescindível no processo de desenvolvimento da personalidade e este por sua vez, se constitui sob a alternância dos domínios funcionais. A afetividade que inicialmente é determinada basicamente pelo fator orgânico passa a ser fortemente influenciada pela ação do meio social."[?] a constituição biológica da criança ao nascer não será a lei única do seu futuro destino. Os seus efeitos podem ser amplamente transformados pelas circunstâncias sociais da sua existência, onde a escolha individual não está ausente." (WALLON, 1959, p. 288).

Como se pode observar, Wallon (1968) defende que, no decorrer de todo o desenvolvimento do indivíduo, a afetividade em um papel fundamental. Tem a função de comunicação nos primeiros meses de vida, manifestando-se, basicamente, através de impulsos emocionais, estabelecendo os primeiros contatos da criança com o mundo. Através desta interação com o meio humano, a criança passa de um estado de total sincretismo para um progressivo de diferenciação, onde a afetividade está presente, permeando a relação entre a criança e o outro, construindo elemento essencial na construção da identidade.

Para Vigotski (2003) a atividade humana caracteriza pelas "funções superiores" compõe de um processo interligado da memória, da percepção e da imaginação, as quais são elaboradas que desenvolvem por meio de imagens mentais, o processo de criação. O universo da arte, e sua capacidadede mobilização dos valores estéticos, impulsionam ao exercício de perceber, imaginar e criar, utilizando-se de recursos e referências, muitas vezes não- verbais, que favorecem o diálogo interno do aluno com sua própria produção. De acordo com Martins (1988, p.141): "O educador é um mediador entre a arte e o aprendiz, promovendo entre eles um encontro rico, inteligente e sensível".

O aluno poderá estabelecer novas relações no seu modo de produzir ou de pensar, nutrindo seus sentidos e favorecendo seu crescimento cognitivo, afetivo e psicomotor.

A construção de aprendizagens significativas implica que todos os alunos tenham uma predisposição favorável para aprender, atribuam um sentido pessoal as experiências de aprendizagem e estabeleçam relações substanciais entre as novas aprendizagens e o que já sabem (BLANCO, 2004, p. 294).

. Para Wallon (1978), o conhecimento do mundo subjetivo é feito de modo sensível e reflexivo, envolvendo o sentir, o pensar, o sonhar e o imaginar.
Para Vigotsky (1998), faltava uma perspectiva de desenvolvimento para a explicação das emoções. Procurava esboçar a transição das primeiras emoções primitivas para as experiências emocionais superiores, pois, segundo ele, os adultos têm uma vida emocional mais refinada do que as crianças. Por isso, uma explicação puramente mecanicista das emoções, centrada exclusivamente nos processos corporais, ignorava as qualidades superiores das emoções humanas.
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Dantas afirma que, é a atividade emocional que:
Realiza a transição entre o estado orgânico do ser e a sua etapa cognitiva racional, que só pode ser atingida através da mediação cultural, isto é, social. A consciência afetiva é a forma pela qual o psiquismo emerge da vida orgânica: corresponde a sua primeira manifestação. Pelo vínculo imediato que se instaura com o ambiente social, ela garante o acesso ao universo simbólico da cultura, elaborada e acumulado pelos homens ao longo de sua história. Desta forma é ela que permitiria a tomada de posse dos instrumentos com os quais trabalha a atividade cognitiva. Neste sentido, ela lhe dá origem. (DANTAS, 1992, p. 85-86).

É importante destacar que a afetividade não se restringe ao contato físico. Como salienta Dantas (1993, p.75), conforme a criança vai se desenvolvendo, as trocas afetivas vão ganhando complexidade. "As manifestações epidêmicas da "afetividade da lambida" se fazem substituir por outras, de natureza cognitiva, tais como respeito e reciprocidade". Adequar à tarefa as possibilidades do aluno, fornecer meios para que se realize a atividade confiando em sua capacidade, demonstrar atenção as suas dificuldades e problemas, são maneiras bastante refinadas de comunicação afetiva.

Wallom sem dúvida foi o autor que soube muito bem privilegiar a relação entre o domínio afetivo e cognitivo, na medida em que criou uma teoria de desenvolvimento da personalidade. Ocupando-se em estudar a passagem do orgânico ao psíquico, verificou que, nesse processo, ocorre concomitantemente de ambos os domínios. O desenvolvimento da personalidade oscila entre movimentos ora afetivos, ora cognitivos, que são interdependentes; em outras palavras, à medida que a afetividade se desenvolve, interfere na inteligência e vice-versa.

O desenvolvimento humano não está pautado somente em aspectos cognitivos, mas também e, principalmente, em aspectos afetivos. Assim a sala de aula é um grande laboratório para se observar e questionar os motivos que levam o convívio escolar do professor e aluno, muitas vezes, a ficar desgastado e sem estímulo.
Experiências vividas em sala de aula ocorrem, inicialmente, entre os indivíduos envolvidos, no plano externo (interpessoal). Através da mediação, elas vão se internalizando (intrapessoal), ganham autonomia e passam a fazer parte da história individual. Essas experiências também são afetivas. "Para aprender, necessitam-se de dois personagens (ensinante e aprendente) e um vínculo que se estabelece entre ambos. (FERNANDEZ, 1991, p.47 e 52).

A afetividade na relação professor/aluno

Falar de afetividade na relação professor/aluno é falar de emoções, disciplina, postura do conflito do eu e do outro. Isto é uma constante na vida da criança, em todo o meio do qual faça parte, seja a família, a escola ou outro ambiente que ela freqüente estas questões estão sempre presentes. A afetividade se manifesta no clima de acolhimento, de empatia, inclinação, desejo, gosto, paixão, de ternura, da compreensão para consigo mesmo, para com os outros e para com o objeto do conhecimento. A afetividade dinamiza as interações, as trocas, a busca, os resultados. Facilita a comunicação, toca os participantes, promove a união.

Para Vygotsky (1996:78), relação professor/aluno não deve ser uma relação de imposição, mas, sim de cooperação, de respeito e de crescimento. O aluno deve ser considerado como um ser interativo e ativo no seu processo de construção do conhecimento.É preciso levar em conta o sujeito concreto, contextualizado no tempo e no espaço, professor/aluno, atuantes no cenário educativo, que pensam, sentem, sofrem, amam e criam. O sujeito é um espaço de singularidade, gestado no conflito, nas diferenças, no heterogêneo
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Neste sentido a afetividade esta intimamente ligada à construção de laços de amizade, confiança, auto-estima. Logo a relação professor/aluno deve ser a mais próxima possível, pautada em partilha de sentimentos e respeito mútuo."É preciso juntar a humildade com que a professora atua e se relaciona com seus alunos, outraqualidade, a amorosidade, sem a qual seu trabalho perde o significado. Eamorosidade não apenas aos alunos, mas próprio processo de ensino." (FREIRE,1993, p.57).Toda aprendizagem está impregnada de afetividade, O afeto desenvolve um papel essencial no funcionamento da inteligência.

Nas relações, vividas em sala de aula, costuma surgir hostilidade da criança em relação ao professor; tanto pela falta de êxito da criança, pela severidade do professor, por motivos pessoais oriundos da família, quanto por problemas afetivos de origem psíquica, mas secreta da criança. Wallon, diz que determinada conduta, em relação ao professor, pode ocorrer ainda em função dos seus colegas, para chamar a atenção, por vaidade, por sentimento de inferioridade ou simplesmente pelo desejo de cortejá-los.

A escola, na figura do professor, precisa compreender o aluno e seu universo sócio-cultural segundo Morgado (1995:113):"O professor trabalhará para que o aluno cresça intelectualmente e não para que se transforme em um filho ideal; o aluno trabalhará para aprender e não para conquistar o amor ou a hostilidade do professor".

Assim sendo, a prática educativa na escola deve primar pelas relações de afeto e solidariedade, proporcionando situações que dê prazer ao aluno de construir conhecimentos e de crescer junto com o outro. O professor deve ser um mediador de conhecimentos, utilizando sua situação privilegiada em sala de aula não apenaspara instruções formais, mas para despertar os alunos para a curiosidade; ensiná-los a pensar, a ser persistentes a ter empatia e serem autores e não expectadores no palco da existência.

Segundo Paulo Freire não há educação sem amor, sem o mesmo a profissão de docentes será apenas um ganha pão, sabemos das dificuldades enfrentadas e como a convivência escolar é complicada, mas o que seria da prática pedagógica se não houvesse amor pelo que se faz, é imprescindívelexistência da afetividade na relação professor aluno para que efetivamente haja aprendizagem satisfatória.
Por definição o professor é o elemento chave no bom sucesso de uma escola, nas relações humanas dentro dela, no rendimento escolar, no aproveitamento dos alunos. O educador deve ser cidadão consciente, possuindo uma visão crítica de mundo (ou de si), para poder propor situações de aprendizagem para a vida, com base em princípios e valores (éticos morais e religiosos).

Educador mau preparado não terá êxito no seu trabalho escolar: Segundo Beant et. al. (1995), a auto estima afeta o aprendizado, neste contexto teórico da educação tratam como fator preponderante a construção de autoconhecimento do aluno e a afetividade como base na construção de laços fortes de confiança entre ambas as partes, ou seja, entre aluno/ professor.



REFERÊNCIAS

CHALITA, Gabriel. Educação: A solução está no afeto. São Paulo: gente, 2001.

DANTAS, H; OLIVEIRA, M. K. Afetividade e a construção do sujeito na psicogenética de Wallon. In: La Taille, Y; Dantas, H., Oliveira, M. K. Piaget, Vygotsky e Wallon: teoriaspsicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus Editorial Ltda, 1992.


MAHONEY, Abigail Alvarenga; ALMEIDA, Laurinda Ramalho de. Afetividade e processo ensino-aprendizagem: contribuições de Henri Wallon. Psicologia da educação, São Paulo, n. 20, jun. 2005 . Disponível em . Acessos: em 08 agosto. 2010.


Autor: Jocileia Izidorio Paiva Silva


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