Kitty



Há muito tempo venho acompanhando a sina de Kitty. Ela pode não se queixar, mas que não está feliz, disto não tenho a menor dúvida. Kitty é do tipo de pessoa que deve ser livre para poder ser feliz, e liberdade é a palavra que não existe no seu vocabulário. Casou com um homem que joga qualquer mulher para baixo. Ela passou a vida sonhando com uma mudança de atitude. Hoje se condena porque pensa que seu companheiro sempre teve um desvio de comportamento que ela fez questão de ignorar. O desapego, a insolvência, a agressividade, a mentira, coisa que ele gosta de cultivar, mente sem necessidade, e não se sente responsável pela mulher, que vive à deriva. Kitty casou cedo, não tem formação acadêmica, solteira dava aulas no pré-primário, é uma remanescente dos anos sessenta, com pitadas de ousadia dos anos dois mil. Estudou depois que seus filhos cresceram, emendou um curso em outro curso, acabando chegando tarde, e nunca se encontrou. É como estar na festa errada, com a roupa errada, está desconfortável, porque aprendeu que o caráter não muda, e que não deve esperar nada. Ela acaba de passar pelo fogo cruzado, está correndo risco, foi envolvida em uma trama maligna por maldade de terceiros. Contratou uma advogada errada, pois está pensando como a advogada é amiga da parte oposta, Kitty pediu ajuda, e o marido se fez de desentendido. Cansada de rogar, procura um facho de luz do fundo do poço. Porém longe de querer morrer, Kitty quer mais é viver! Pode não estar feliz no momento, mas sabe que algo de bom está prestes a acontecer. Kitty tem filhos lindos e vencedores e sabe que é querida pelos familiares e amigos que conhecem a qualidade de seu caráter. Kitty é daquelas criaturas que respeitam o próximo. Kitty sem ter curso acadêmico já ganhou muito dinheiro e assumiu muitas responsabilidades que não eram suas. Ela sabe que é vencedora porque pariu seus filhos, educou, pagou bons colégios e muitas vezes fez frente as despesas da casa. Não garantiu uma aposentadoria para si, isso é verdade! E hoje paga caro por esse lapso. Kitty viu o advento da pílula, a luta internacional pelos direitos da mulher, acompanhou a chamada revolução sexual. Profissionalmente, por trás dos panos, Kitty fez o seu trabalho de mãe, amiga e companheira Se não teve reconhecimento do marido que nunca deu uma mamadeira para os filhos, e nunca cuidou de uma criança à noite, para que sua mulher pudesse dormir, e que esta mesma mulher que cuidou do sono de seu amo porque ele deveria sair pela manhã descansado para mais um dia de trabalho, ela passou muitas noites em claro, trabalhando. Este reconhecimento não vem de seu companheiro, mas veio de seus filhos. Aquela mulherzinha lá atrás não nada além de preparar gente digna de respeito. Kitty faz fila com as mulheres vencedoras, que nunca pisaram nos palcos da vida, mas que estavam lá atrás dos panos. Kitty sabe que não está só, muitas mulheres de sua época já estavam casadas e com filhos; como largar tudo e ir em busca de um sonho? Elas permaneceram na mesma vidinha de suas mães com maridos machistas e prepotentes, mas cuidaram para que o futuro se sua prole fosse muito diferente. Elas plantaram, adubaram para que suas crias pudessem desabrochar para a vida, sem sentir vergonha de ser feliz. Kitty você sempre foi uma grande mulher!

Autor: Nadia Foes


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