A FORMAÇÃO DOCENTE PARA O ENSINO DE INGLÊS NO BRASIL
O processo de formação de professores no Brasil tem inicio na era colonial com os jesuítas . Além de catequizarem os índios, os jesuítas eram responsáveis pela formação de professores na época, ensinando Letras, Filosofia e Teologia. Com a expulsão dos jesuítas do Brasil são implantadas as Aulas-régias que dividiram o ensino por disciplinas como Primeiras Letras, Gramática, Latim e Grego. As Aulas-régias, porém, não conseguiram substituir com eficiência o ensino jesuítico, e a formação docente no Brasil ficou a cargo de um ensino desorganizado e insatisfatório até 1824, quando foram criadas as primeiras Escolas Normais , que tinham como função preparar professores para o ensino primário. A preparação de professores para o ensino de inglês no Brasil, teve inicio em 1809, quando através de um decreto, D. João VI mandou que fossem criadas uma escola de língua francesa e outra de língua inglesa no país. O texto do decreto diz que:
E, sendo, outrossim, tão geral e notoriamente conhecida a necessidade de utilizar das línguas francesa e inglesa, como aquelas que entre as vivas têm mais distinto lugar, e é de muita utilidade ao estado, para aumento e prosperidade da instrução pública, que se crie na Corte uma cadeira de língua francesa e outra de inglesa. (Oliveira, 1999 apud Chaves, 2004, p.5).
A necessidade de professores de Língua Inglesa na época se dava devido às relações políticas e comerciais com a Inglaterra, o ensino de inglês era de utilidade prática, voltado à capacitação de professores para ensinar o idioma à profissionais brasileiros que buscavam aproveitar as oportunidades no mercado de trabalho que surgiam juntamente com desenvolvimento do Brasil e devido a relações cada vez mais estreitas com outros países, principalmente com a Inglaterra. Os responsáveis por ensinar inglês nas escolas na época, eram estrangeiros que vinham de países onde o inglês era língua oficial. Esses professores nativos, no entanto, não eram preparados para a docência, possuíam sim o domínio da língua que ensinavam, mas não dispunham de nenhum preparo pedagógico ou metodologia que pudessem utilizar para ensinar o idioma. A crença de que o domínio de determinada língua ou conteúdo é suficiente para que uma pessoa se torne um profissional da educação naquela área infelizmente ainda existe em algumas instituições de ensino na atualidade. Na década de 1930 a formação de professores de Inglês no Brasil começa a tomar um novo rumo. Algumas escolas particulares passaram a pressionar o governo por seu reconhecimento legal. Porém para que isso acontecesse, a lei exigia que essas escolas tivessem em seu quadro docente professores habilitados. Surgiram então as Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras, as primeiras instituições de formação superior para profissionais da educação no Brasil, instituições que graduavam e licenciavam professores a nível superior. De acordo com o decreto 19581/31 do Ministério da Educação e Saúde, essas faculdades teriam como objetivo "ampliar a cultura no domínio das ciências puras, promover e facilitar a prática de investigações originais, desenvolver e especializar conhecimentos necessários ao exercício do magistério". Essas instituições tinham um modelo curricular inicial que ficou conhecido como 3+1, pois se dava da seguinte maneira: os três primeiros anos de estudo eram compostos por disciplinas especificas e formava o bacharel, e com mais um ano de estudo de Didática o aluno obtinha a licenciatura. Os Cursos de Letras da época eram divididos em Letras Clássicas, Anglo-Germânicas (grupo onde se encontra o Inglês) e Neo Latinas, e funcionavam com o mesmo modelo curricular dos demais, com a divisão entre conteúdos específicos e pedagógicos. Em 1962, os Cursos de Letras foram reorganizados. O Conselho Federal de Educação aprovou o parecer nº 283, onde Valnir Chagas propunha o Currículo Mínimo para o curso de Letras, no documento Chagas diz que "A presente estrutura dos nossos cursos superiores de Letras dá a impressão de algo que se planejou para não ser executado". A afirmação desfavorável de Valnir Chagas aos Cursos de Letras se justifica na divisão do curso em conjuntos de línguas, onde somente no grupo de Neo Latinas era prevista a aprendizagem de cinco línguas e suas respectivas literaturas. Meta quase impossível de se atingir em três anos. Outro motivo para a criação do Currículo Mínimo foi a necessidade de professores de Língua Portuguesa devido ao aumento da carga horária nos currículos das escolas naquela década. Essa situação impulsionou outra estrutura para os cursos de Letras, a licenciatura dupla, onde o aluno saia da faculdade habilitado em Língua Portuguesa e em uma Língua Estrangeira Clássica ou Moderna, a sua escolha. Daí surgiram as primeiras habilitações em Língua Inglesa. Essa estrutura seria a base principal para os cursos de Letras até hoje. O Currículo Mínimo defendido por Valnir Chagas para o Curso de Letras foi organizado da seguinte forma, compreendia cinco disciplinas obrigatórias: Língua Portuguesa, Literatura Portuguesa, Literatura Brasileira, Língua Latina e Lingüística, e mais três disciplinas escolhidas dentre as seguintes: Cultura Brasileira, Teoria da Literatura, uma Língua Estrangeira Moderna (definiria a habilitação dupla), Literatura Estrangeira (de acordo com a Língua Estrangeira escolhida), Literatura Latina, Filologia Românica, Língua Grega e Literatura Grega. Além das disciplinas pedagógicas obrigatórias que eram: Psicologia da Educação, Didática e Estrutura e Funcionamento do 2º grau, estas duas ultimas foram posteriormente extintas e deram lugar à Prática de Ensino sob forma de estágio a ser feito em escolas da comunidade. Em 1966 a Universidade de São Paulo ? USP solicitou a permissão para uma habilitação de diploma único em Língua Estrangeira, como proposta experimental, o pedido foi concedido não somente à USP mas também passou a ser válido para todo território nacional. O novo modelo de habilitação, porém, não alterava o Currículo Mínimo estabelecido anteriormente. A terceira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional lançada em dezembro de 1996 foi um grande passo para a melhoria dos cursos de licenciatura em Língua Inglesa. Esta lei excluiu a obrigatoriedade do Currículo Mínimo e sugeriu as Diretrizes Curriculares. A partir de então o currículo deixa de ter foco nas disciplinas e passa a ser considerado "todo e qualquer conjunto de atividades acadêmicas que integralizam um curso". A exclusão do Currículo Mínimo abriu a possibilidade de se ter mais horas dedicadas ao ensino de conteúdos específicos de Língua Inglesa. Em 18 de fevereiro de 2002, as diretrizes, que se tratavam de sugestões, foram instituídas nos cursos de licenciatura do país. De acordo com a resolução, a carga horária das licenciaturas passa a ser de 2800 horas, divididas em 400 horas práticas, 400 horas de estágio supervisionado, 1800 horas de conteúdos curriculares de natureza cientifico - cultural e 200 horas para outras formas de atividades acadêmico ? científico - culturais. As diretrizes defendem que o profissional de língua estrangeira deve dispor de múltiplas competências e habilidades, como preparação profissional sempre atualizada, domínio da língua alvo, domínio dos conteúdos dos projetos de ensino e aprendizagem do ensino básico e conhecimento de métodos e técnicas pedagógicas.
[...]domínio dos conteúdos básicos que são de objeto dos processos de ensino e aprendizagem no ensino fundamental e médio. [...] domínio dos métodos e técnicas pedagógicas que permitam a transposição dos conhecimentos para os diferentes níveis de ensino. [...] a capacidade de resolver problemas, tomar decisões, trabalhar em equipe e comunicar-se dentro da multidisciplinaridade dos diversos saberes que compõem a formação universitária em Letras.
Apesar de muito ter acontecido no processo de formação de professores de Língua Inglesa da era colonial até hoje, muitos profissionais desta área ainda enfrentam dificuldades, pois, teoricamente o professor de inglês sai da faculdade com as habilidades necessárias para exercer a docência. Porém, na prática, vemos professores frustrados tendo em mãos um vasto conhecimento da língua e sua literatura, mas com poucas habilidades pedagógicas e metodológicas essenciais para a atuação em sala de aula. Isso se dá devido à falta de uma estrutura pedagógica direcionada. O que vemos na maioria dos cursos de Letras são disciplinas pedagógicas sem foco na língua alvo. Alunos de diferentes habilitações cursando juntos, disciplinas que tem como objetivo preparar o professor para os desafios em sala de aula, mas que não levam em consideração as especificidades de cada língua. Como se fosse possível ensinar Inglês, Português e Espanhol com a mesma metodologia.
Autor: Maria Raquel Fernandes Pereira
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