A relação sociedade - natureza no pensamento de Ratzel, Marx e Engels
* Trabalho realizado no Curso de Teoria e Método da Geografia II da Universidade de São Paulo, ministrado pelo Prof. Dr. Elvio Rodrigues Martins no primeiro semestre de 2010.
Anderson Gabrelon
Geógrafo formado pela FAFIL/FSA e
pós-graduando em Ensino de Geografia na PUC
Introdução
O ritmo da natureza impõe uma ordem territorial nas coisas da realidade, precedendo a produção da existência humana as forças naturais potencializadas pelas energias solar e geotérmica condicionam a diferenciação de áreas independente da ação humana, este arranjo territorial podemos nomear de geografia natural, que apesar de se formar sem a influência do ser humano, somente é concebido como tal a partir do momento que uma sociedade reconhece a sua existência, portanto a relação sociedade-natureza é um par inseparável da realidade, um só existe em função do outro. Não há como conceber uma sociedade que prescinda a natureza.
A relação sociedade ? natureza.
As coisas da realidade são espaço-temporalmente materializadas como objetivação do processo histórico de produção da existência humana. A partir do momento que o ser humano deixa sua condição de ser coletor dos elementos necessários a sua sobrevivência que são fornecidos ao ritmo da natureza, o mesmo passa a se organizar em sociedade para produzir a sua existência através da realização da atividade do trabalho que propicia a sua relação com a natureza. Com o desenvolver das técnicas da agricultura (mesmo que de forma itinerante) e do pastorio os seres humanos passam a domesticar a natureza, esta relação realiza-se de maneira dinâmica e se transforma com a história que é objetivada e se torna visível em diferentes geografias.
A sociedade não precede a natureza, pois quando a mesma se apropria do meio, este por si é uma geografia natural de um dado lugar, porém necessita de alguém, de um grupo de pessoas que assim a conceba, descrevendo o que os seus sentidos podem observar, a ordem dos elementos, a geografia. Não existe sociedade sem natureza, este é um par inseparável da realidade, pois não há natureza que não seja social. A sociedade quando se apropria da natureza constrói outra geografia, humanizando e transformando-a assim em geografia humana que tem a sua base na geografia física.
Desde o período que se iniciou a discussão entre as correntes do pensamento determinista e possibilista, eliminou-se a interpretação sobre a natureza. O pensamento Ratzeliano de início se ocupa com um problema que se originou na filosofia que é a discussão sobre a relação homem-meio e entre outros a explicar o homem do século XIX, sendo Ratzel criticado pelos franceses que o julgavam como político e não como cientista.
Perguntas foram surgindo como o que são as diferenças entre os povos? Qual é a essência de um povo? Se há relação entre homem e meio e porque acontece este relacionamento?
Para Ratzel as necessidades humanas são centradas na alimentação e na habitação e forçam o relacionamento do homem com o meio. Ele inicia a compreensão da relação sociedade-natureza, porém não da continuidade, pois se concentra em criticar seus antecessores; a afirmar que as condições geográficas influenciam as sociedades e o agrupamento de indivíduos se realiza em torno da sobrevivência originando assim o povo, seu território, o Estado onde conforme a relação sociedade-natureza se configuram diferentes Estados; e a discutir epistemologia e a metodologia.
Para Marx e Engels existe uma relação entre os homens mediante apropriação da natureza onde emerge a divisão social do trabalho. A história e a geografia se inauguram ao iniciar-se a relação sociedade-natureza, pois quando a sociedade se apropria da natureza ela cria uma nova ordem espaço-temporal.
A distinção entre os homens e os animais é caracterizada pela condição dos seres humanos produzirem sua vida material e, portanto construírem-se a si mesmos, diferente dos animais que agem de acordo com seus instintos e necessidades momentâneas. Entre si os homens distinguem-se conforme a posição que cada qual assume na divisão social do trabalho, que é o que condiciona o seu acesso aos bens que foram produzidos, criando a sua vida material, influenciando a forma da sociedade se relacionar com a natureza e divergindo em diferentes geografias. A maneira de organização de cada sociedade para relacionar-se com o meio, reapropriando-se constantemente da natureza ira se expressar na paisagem dos diferentes arranjos territoriais que se materializaram no decorrer do processo de produção histórico da existência humana que se objetiva em geografias.
A divisão social do trabalho (cidade-campo) e a origem da propriedade privada têm em essência a exploração do homem pelo homem que se realiza através do trabalho realizado socialmente, onde a maioria das pessoas não se identifica com o produto final do seu trabalho, pois o mesmo não lhe pertence, porém são obrigadas a cooperar por uma questão de sobrevivência porque para a realização do seu ser neste modo de produção social dividido em classes o que lhes resta como alternativa é a venda da sua mão de obra.A relação entre os homens se realiza mediante a apropriação da natureza, onde emerge a divisão social do trabalho. A estrutura social se define em função da maneira de produzir de acordo com as suas forças produtivas e a divisão do trabalho, sendo que o que varia entre as sociedades são as forças produtivas constituídas pela força de trabalho e os meios de produção como máquinas, ferramentas e matéria-prima.
A definição de produção material e do pensamento derivam da sobrevivência, maneira com a qual o homem organizado socialmente realiza o trabalho e se apodera da natureza, pois na medida em que o homem produz a sua existência ele constroe a si mesmo, materialmente e nas formas do pensamento.
Cada sociedade (Comunal, escrava, feudal, capitalista) tem uma concepção de natureza conforme a sua condição material, por conta da distinção entre as diversas maneiras de se relacionar com o meio conforme se organizam para produzir a sua existência e diferentes pensamentos, quando o modo de produzir muda, transforma-se a relação homem-homem, sociedade-natureza e uma nova geografia se ordena.
Considerações Finais
Tanto em Ratzel como no pensamento de Marx e Engels o princípio da discussão é a questão da existência do ser, a sobrevivência das pessoas que se realiza de acordo com a relação sociedade-natureza, ou seja, o homem produzindo a sua existência que se objetiva em geografias. Mas Ratzel em seu raciocínio não analisa a maneira dos homens organizarem-se em sociedade e a exploração do homem pelo homem, a técnica, a ciência, a geração de excedentes, o lucro, ou seja, ele não considerou a propriedade privada e a importância das relações sociais de produção, o que para Marx e Engels o homem se define conforme as condições materiais da sua produção, ou seja, de acordo com a sua posição na divisão social do trabalho.
Referências
MARTINS, Elvio Rodrigues. Geografia e Ontologia: O fundamento geográfico do ser. São Paulo: Geousp ? Espaço e Tempo, n 21, PP. 33 ? 51, 2007.
MARX, Karl; FRIEDRICH, Engels. Obras escolhidas em três tomos- Tomo I. Lisboa: Avante, 1982.
MORAES, Antonio Carlos Robert. Ratzel ? Geografia. São Paulo: Ática, 1990.
Autor: Anderson Gabrelon
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