QUAL É TUA COR?



Em 2003 quando cheguei a Portugal, estava eufórica e feliz. Era sem dúvida um novo começo. Deseja imenso que tudo desse certo; em todos os detalhes. Ja que no Brasil estava me sentindo um pouco perdida, pensava que essa era, a oportunidade de me encontrar.
Sentia ?me totalmente insegura. Tinha ja meus 24 anos mas não via um futuro claro para mim. Evangelica desde meus 11 anos, não conheci muito da vida. Toda minha juventude foi passada na igreja e ainda bem porque hoje em dia as coisas para os jovens tem sido tão difícies. Nada como nos tempos antigos onde podíamos aproveitar mais da vida sem estragarmos nossa saúde.
Só se fala em drogas ou sexo desmedido e sem grandes preocupaçoes. Apesar de tantas informaçoes, parece que não ha desejo algum por parte de certas pessoas de ver a realidade dos tempos que estamos vivendo.
Como diz a Bíblia Sagrada, estamos nos últimos instantes da humanidade sobre a terra. E seja hateu ou não, não é difícil ver as coisas como eram e como estão agora e analisar cada passo. É verídico que estamos mesmo no fim dos tempos. Mas enfim, quero falar um pouco de mim.
Tentava me encontrar e descobrir o por quê de tanto vazio apesar de estar sempre rodeada de pessoas amadas e amigos. Apesar de ter quase tudo ao meu alcance.
Parecia que nada estava perfeito; em ocasiao nenhuma.
Fugir, era essencial pois precisava urgente me encontrar. Crescer, era necessário e para crescer devia sair de perto de mãe, tios, avós. Precisava lutar por algo sozinha e me sentir vitoriosa ou perdedora.
Chorar, chorar mas recompor-me e me por de pé e voltar a tentar.
Tamanha era minha necessidade de fechar as lacunas que não importava bem que destino tomar. Na verdade, sempre sonhei em conhecer os Estados Unidos. Quando pequena sonhava que existia uma ponte muito grande que ligava o Brasil aos Estados Unidos, através do oceano e as pessoas podiam passar por ela a pé. Em meus sonhos, essa ponte chamava ?se "Ponte da Amizade". Até em adulta ainda continuava a sonhar com ela. No último sonho que tive e isso antes de decidir se realmente iria conhecer algum país, eu estava atravessando a pé a ponte que sempre balançava muito devido as ondas do mar e os carros tambem passavam por ali tranquilamente. Era engraçado, infantil e estranho ao mesmo tempo mas era quase que real. E não havia sequer polícia de imigração. O único incoviniente da travessia era chegar toda molhada do outro lado. Mas como era longa a travessia, em meus sonhos nunca levava bagagem e estava sempre vestida de branco, da cor da ponte.
Por algum tempo, pensei... será estes sonhos a indicação de minha morte? Mas como já não sonho a tanto tempo, penso que era apenas vontade de viajar e conhecer novos oceanos.
Em Abril de 2003, foi rescindido meu contrato com a Prefeitura de Governador Valadares onde já trabalhava a cerca de quase três anos e fui em vários lugares a procura de trabalho. Não tive sorte em nenhum dos lugares nem das entrevistas. Fiz um novo concurso público e tambem, apesar de ficar "dentro" das vagas propostas, tambem nao fui chamada.
Em julho, chamei minha mãe para conversar e em uma longa conversa disse a ela que desejava muito conhecer outro lugar. Fosse qual fosse. Queria ir. Como qualquer mãe, a decepção dela foi enorme mas entre deixar-me vir e não, acabou por deixar.
Deixava para trás um grande amor. A única pessoa que gostei muito e não aceitou-me por ser morena. Ele era descendente de Italianos. Era muito branco e louro. Desde meus 14 anos esperei por este amor na esperança de que como éramos da mesma igreja, ele um dia entenderia que, o amor é mais que uma cor mas não acontecia e eu já não podia esperar. Precisava sair dali. Precisava encontrar o que faltava em minha vida.
Em dez de agosto de 2003, embarquei em Belo Horizonte, desejosa de encontrar finalmente um rumo, embora evangelica e sabendo que não era acertado minha fuga mas precisava de um sentido. De entender e procurar respostas.
Quando cheguei tive várias oportunidades. Muitas mesmo. Comecei a trabalhar muito mas também conheci muitas pessoas e tive alguns namorados. Era algo tao inédito. Lá ficava a espera de um amor nao correspondido e em outro país, talvez por eu ser novidade, nao sei, era como se eu tivesse que fazer escolhas. Escolher o que me agradaria mais.
E talvez seja mesmo em meio a tantas escolhas que acabei por me apaixonar por alguem que era identico ao rapaz que deixei para trás. Também louro, tambem dos olhos azuis e tambem preocupado com "cor".
Tive varios trabalhos, muitos deles em restauraçao. Não cheguei a ficar muito tempo desempregada. Foi bom pois pude adquirir conhecimentos que talvez não teria se fosse sempre secretária no Brasil.
Apenas 2 anos estava fora de meu país e ja estava grávida. Foi extremamente complicado. Pois estava sozinha e sem apoio do pai. Tantos preconceitos que trazia em si, dificultava qualquer decisão.
Na época, era ainda ilegal no país e ele se recusava a tratar dos papeis para eu ficar legalizada tambem. Sentia-se golpeado pela minha decisão de ter a criança.
Estive alguns meses aflita mas a Graça de Deus nunca faltou. As ajudas foram chegando de forma incrível. Nem eu precisava voltar pro Brasil desmotivada e com cabeça baixa nem precisava estar a espera da ajuda do pai do bebê pois as associaçoes onde eu havia feito insçrição, contactava me agora oferecendo todo o tipo de ajuda. Desde o enxoval para o bebê como alimentação.
De repente, havia tanta coisa para ele que quase não havia espaço para mim no quarto. Eu tambem ja estava trabalhando. Estava entregando publicidade de porta em porta; não ganhava muito mas o suficiente para pagar a casa onde vivia.
Depois fui vender telefone ainda grávida também de porta em porta. Com uma equipe de brasileiros.
As portas que Deus foi abrindo a minha frente para que eu descobrisse as respostas que vim buscar.
Estranhamente, ainda ha tantas perguntas. Os meses foram passando, os anos, e vi que algumas situações em que envolve aproximaçao de pai e filho não se resolvem facilmente.
O coraçao de um ser humano pode ser duro feito uma pedra e normalmente um filho o amoleceria mas o coraçao do pai do meu filho continua igual. Nem um sorriso lindo, nem um beijo carinhoso, nem um abraço tão inocente o fez perceber que a vida passa diante dos olhos e não se leva nada. Nem mesmo a "COR".

Autor: Creuza Ferreira Dos Santos


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