O Bêbado Da Praça
Êle era o maior pau d'água ... Só vivia de pileque e tinha sempre uma garrafa de cachaça numa das mãos e outra escondida dentro do paletó ... E quando as duas esvaziavam, êle fazia algum biscate para ganhar um dinheirinho que lhe permitisse comprar outra garrafa: ... carregava algum embrulho que não fosse pesado, jogava água nas rodas de algum carro para tirar a lama, ou passava nos vidros de algum carro, uma flanela velha que tinha sempre num dos bolsos da calça e, assim, conseguia algum trocado p'ra comprar mais cachaça ...
Êle ficava ali na praça, junto da estátua do Marechal Deodoro, bem embaixo do cavalo, e era ali que êle comia, dormia, bebia, dormia de novo e dizia que toda aquela urina e os excrementos que ficavam espalhados pelo chão eram do cavalo ...
Se esquentasse, tomava um gole ... e se esfriasse, tomava outro ... E assim ia vivendo, até o dia em que passou por ali um caminhão cheio de estudantes a caminho de uma pelada de fim-de-semana (mas não é pelada porque está sem roupa, não ! ... É pelada – jogo de bola !...) e, então, um dos estudantes teve uma idéia genial:
- "Vamos levar o bêbado!...", gritou ...
E lavaram ! ... Jogaram o bêbado p'ra cima da boléia e lá foram êles, numa zorra total ...
E lá no campinho foi um paraíso p'ro bêbado: bebeu, dançou, gritou e só o que não fez foi assistir futebol ... Aliás, êle nem sabia que era jogo de bola ... Pensava que era brincadeira de pega-pega ! ...
Mas foi na volta que se deu o problema ! ... Ninguém se lembrou do bêbado e êle continuou por lá, tomando umas e outras pelo gargalo ... Com alguns trocados que ainda tinha num dos bolsos, entrou num boteco, comprou mais uma garrafa de cachaça, sentou no meio-fio e tome de beber cachaça ! ... Mas a certa altura êle começou a ficar meio inconveniente, dizendo alguns impropérios e palavrões pelo que, chamaram a Polícia e apareceram, então, dois daqueles soldados que eram chamados de "Cosme-e-Damião" que, montados nos seus cavalos, começaram a atiçá-los p'ra cima do bêbado, só para assustá-lo e afastá-lo dali, e foi então que êle, olhando na direção de um dos cavaleiros, disse com uma voz arrastada:
- "Aí, Marechal ! ...De roupa nova, hein !!! ...".
Autor: Marcelo Cardoso
Artigos Relacionados
Eu Já Nasci Desempregado
Amor é Fogo Que Arde Sem Se Ver
O Troca Palavra
Dois AcarajÉs
Poema Iv ( O Poeta E O Bispo )
Queda Na Bolsa Dos Valores Humanos
Via LÁctea (poesia)