Cultura, Folclore E Etnocentrismo: Termos Que Se Completam Nos Estudos Sócio-antropológicos





Cultura, Folclore e Etnocentrismo: Termos que se completam nos estudos sócio-antropológicos* Alessandra Queiroz**

INTRODUÇÃO O presente semi-artigo é fruto de um seminário e tem como finalidade o estudo e a pesquisa referente aos termos Cultura, Etnocentrismo e Folclore nos estudos Sócio- antropológicos.

PALAVRAS- CHAVE - Cultura; Etnocentrismo, Folclore, Popular, Erudito.

"Cultura é um território bem atual das lutas sociais por um destino melhor. È uma realidade e uma concepção que precisam ser apropriadas em favor do progresso social e da liberdade, e em favor da luta contra a exploração de uma parte da sociedade por outra, em favor da superação da opressão e desigualdade. "(SANTOS, 2006:35).

"Os fenômenos folclóricos também são fenômenos da cultura, possíveis de serem estudados individualizadamente. Não são, porém, coisas mortas; são uma realidade concreta, dinâmica, numa constante readaptação às novas formas assumidas pela sociedade." ( SALES, 1982: 38).

"O etnocentrismo é uma visão de mundo onde o nosso grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas concepções do que é a existência." (ROCHA, 1988: 5).

*Semi-artigo apresentado a Prof. Luciana Leitão, da disciplina Estudos Sócio-antropólogicos da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Campus XXI, como requisito para complementação de nota. **Acadêmica do 2º semestre, vespertino.
 

Pensar em cultura na contemporaneidade nos remete ao fato de que existe grande preocupação em conceituá-la e entender os muitos caminhos que conduziram os grupos humanos em suas relações presentes e suas perspectivas de futuro.

É comum pensarmos em cultura como algo parado, estático, tradicional e imutável, porém, cultura é muito mais que isso, ela é um produto coletivo da vida humana e como tal, criativa, dinâmica e mutável e contribui para o entendimento dos processos de transformação porque passam as sociedades contemporâneas.

"Cultura é uma construção histórica, seja como concepção, seja como dimensão do processo social. Ou seja, a cultura não é algo natural não é uma decorrência de leis físicas ou biológicas." (SANTOS, 2006: 37).

Ao analisar a cultura, percebemos que ela não é algo simples ou homogêneo, pelo contrário, é complexa porque mantêm relações intricadas com a sociedade de que faz parte.
Ela é produto dessa sociedade, mas também ajuda a produzi-la, tanto porque está ligada a manutenção de suas formas de organização e de vida, como também esta ligada as transformações destas.

Cultura pode referi-se por um lado à cultura dominante e por outro lado a qualquer cultura. No primeiro caso, cultura surge em oposição à selvageria e à barbárie, a cultura então, seria a própria marca da civilização; no segundo caso, pode se falar de cultura a respeito de qualquer povo, nação ou sociedade humana.

. Dessa forma, a cultura erudita é sempre associada ás classes dominantes, a idéia de refinamento pessoal e conhecimento erudito. Sua expansão pode ser vista como colonizadora, visto que ela está ligada às instituições como escolas, universidades, academias dentre outras, estabelecimentos aos quais, grande parte da população, não tem acesso a essa forma reconhecida de cultura, daí a exclusão que mantêm as desigualdades na sociedade em benefício de uma minoria privilegiada da população.

Esse conhecimento erudito se contrapõe ao conhecimento da maioria da população, considerado inferior, atrasado, primitivo e superado denominado de cultura popular. Entende-se por cultura popular as manifestações diferentes da cultura dominante, que se encontram fora dos muros das instituições e que existem independentemente delas mesmo sendo sua contemporânea.
 
É importante ressaltar, que a própria elite cultural, da sociedade participante de suas instituições dominantes que desenvolve a concepção de cultura popular, e apesar da cultura popular fazer parte da vida de milhões de pessoas, ela quase sempre está fora da escola e de núcleos de sistematizações prova das desigualdades que marcam a nossa sociedade.

A visão de cultura popular, vista pelos adeptos da cultura erudita como algo inferior e atrasado é uma percepção etnocêntrica, uma vez que um grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados a partir dos valores dominantes e suas concepções do que é a existência.

O etnocentrismo pode ser caracterizado por um julgamento de valor, negação e manipulação da cultura do "outro" nos termos da cultura do "eu" e se coloca de forma violenta quando coloca o "outro" como primitivo, algo que deve ser destruído porque o diferente é um atraso ao progresso.

A história da colonização brasileira está profundamente enraizada da visão etnocêntrica e um fator interessante é que segundo Rocha (1988),

"a maioria dos livros didáticos afirma que os índios andavam nus, este escândalo esconde na verdade, nossa visão absolutizada do que deve ser uma roupa e o que ela deve mostrar ou esconder. Nada garante que os índios andem nus a não ser a concepção que eles mesmos teriam de nudez ou vestimenta."(ROCHA,1988: 8).

A mesma realidade pode ser observada quando é sugerido dentro do conhecimento escolar, que os indígenas são "atrasados" um entrave ao progresso para que ninguém considere errado matá-los e roubar suas terras.

Essa discriminação é usada como desculpa fajuta para manter injustiças, uma vez que atribuímos ao grupo indígena um pensamento construído, é necessário o respeito ao grupo e a conscientização que essa situação resulta do nosso modelo econômico.

Todos têm um conhecimento que é necessário, porque então, uns são considerados mais "cultos" do que os outros e por isso são mais valorizados? A elite erudita afirma que o trabalho artesanal é exótico e de "baixo nível", para que as pessoas aceitem passivamente as escandalosas diferenças entre ricos e pobres. Tal realidade é refletida, sobretudo nas manifestações populares conceituadas de folclore, uma vez que o folclore é a parte popular de um mundo onde o "povo" é sujeito e subalterno, é a expressão da vida do colonizado que busca na crença, na reza, no apelo ao sagrado uma forma de superar uma situação de opressão que ele não compreende.

O folclore tem como característica mais crítica a tradicionalidade que quase sempre é vista como conservadora velha e defasada. Porém alguns antropólogos têm mostrado que muitas vezes, uma cultura popular tradicional é um forte e dinâmico teor de resistência política ás inovações impostas pelo colonizador ou pelas classes dominantes.

"Os fenômenos folclóricos também são fenômenos da cultura, possíveis de serem estudados individualizadamente. Não são porém coisas mortas; são uma realidade concreta, dinâmica, numa constante readaptação às novas formas assumidas pela sociedade." ( SALES, 1982: 38).

Isto posto, percebe-se quão intrincada é a relação entre os termos cultura, etnocentrismo e folclore, antes vista por nós enquanto discente, sob a ótica simplista ou o que normalmente ocorre etnocêntrica de que a melhor representante da cultura era a cultura erudita e que folclore se resumia as comidas típicas, lendas e danças tradicionais. Felizmente esse estudo foi e continuará sendo imprescindível para nossa formação enquanto acadêmica e pesquisadora uma vez que nos mostrou que é possível visualizar o "eu" e o "outro" não como perspectiva de ameaça ou atraso, mas, como iguais e que em suas diferenças e pluralidade podem trazer novas possibilidades em sua dimensão e riqueza que parte da diferença.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é folclore. Passos. 6 ed São Paulo. Brasiliense. 1982 pp.111 ( Coleção Primeiros Passos)

ROCHA, Everaldo, P.G. O que é etnocentrismo. Passos. 5 ed. São Paulo. Brasiliense. 1988. pp. 36 (Coleção Primeiros Passos)

SANTOS, José Luiz dos. O que é cultura. 16 ed. São Paulo. Brasiliense. 2006.p.110 (Coleção Primeiros passos)


Autor: Alessandra Queiroz


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