Neoliberalismo: Quem se atreve?



Em momentos eleitorais sempre é bom suscitarmos o debate em torno dos padrões ideológicos que operam o Estado. Para tanto gostaria de destacar neste texto a origem do fenômeno neoliberal, que teve início no pós II guerra trazendo como motivação principal, uma reação teórica e política contra o estado intervencionista e de bem-estar social, tratando-se de um ataque contra qualquer limitação dos mecanismos de mercado por parte de Estado.
Adiante, é importante observarmos que o propósito do neoliberalismo era combater o Keynesianismo e o solidarismo soberanos, e aparelhar os fundamentos de um outro tipo de capitalismo, duro e livre de regras para o futuro.
A argumentação dos defensores desta ideologia era a de que o novo igualitarismo desta época, proporcionado pelo estado de bem-estar social, destruía a liberdade dos cidadãos e a vitalidade da concorrência, da qual dependia a prosperidade de todos. Com isso entendiam que a desigualdade era um valor positivo, pois disso precisavam as sociedade ocidentais.
Em 1973, devido a crise do modelo econômico do pós guerra, quando o mundo capitalista cai numa longa e profunda recessão, surge o momento propício para as idéias neoliberais passarem a ganhar terreno. Para solucionar os empecilhos do capitalismo em colapso, a tendência neoliberal sugere como antídoto; a estabilidade econômica como a meta suprema de qualquer governo, a contenção de gastos na área social, reformas fiscais e o retorno da taxa natural de desemprego ? prática importante para o desmantelamento dos sindicatos. Como resultado destas iniciativas, uma nova e saudável desigualdade iria voltar a dinamizar as economias avançadas, ordenando então, o curso normal da acumulação e do livre mercado.
O governo inglês foi o primeiro regime de um país de capitalismo avançado a pôr em prática o programa neoliberal, proporcionando nesta época uma onda de direitização com um fundo político juntamente com o econômico e de ideologia anti-comunista. A Inglaterra tomou uma série de medidas que caracterizavam o modelo neoliberal, entre elas, elevação das taxas de juros, corte de gastos sociais, criação de níveis de desemprego massivo, supressão de greves e programa de privatização. Desta maneira o pacote de iniciativas do governo inglês foi considerado o mais sistemático e ambicioso de todas as experiências neoliberais em países de capitalismo avançado.
Na versão norte-americana a prioridade neoliberal era mais a competição militar com a URSS, e naquela situação o governo de Reagan não respeitou nem mesmo a disciplina orçamentária; pelo contrário, lançou-se numa corrida armamentista sem precedentes, envolvendo gastos militares astronômicos, criando um déficit público inimaginável.
Na Europa, os governos de direita deste período praticaram em geral um neo liberalismo mais cauteloso, ponderado.
Estas experiências demonstravam naquela ocasião uma hegemonia alcançada pelo neoliberalismo como ideologia. Tanto é que, governos de vertentes ideológicas opostas acabaram aplicando políticas neoliberais para deter a grande inflação do momento. Trabalhando nos itens; deflação, lucros, empregos e salários, é possível considerar que o programa neoliberal se mostrou realista e obteve êxito - naquela conjuntura.
O emprego deste modelo econômico ? desregulamentação financeira - criou instrumentos muito mais propícias para a inversão especulativa do que produtiva, acabando por diminuir o comércio mundial de mercadorias reais.
Quando o paradigma neoliberal chegou ao seu esgotamento, imaginava-se à época, um levante contra as suas experiências governamentais, o que não ocorreu. O que houve foi uma migração do modelo para áreas onde a direita estava às portas do poder. Os novos arquitetos das economias pós-comunistas eram lideranças políticas que preconizavam e realizavam privatizações muito mais amplas e rápidas do que haviam sido feitas no Ocidente. Os reformadores do Leste europeu eram vistos como muito mais intransigentes do que os mais ferrenhos defensores do neoliberalismo ocidental.
A América Latina também é banhada pela onda de experiências neoliberais. Neste cenário sul-americano o Chile é lembrado como o pioneiro do ciclo neoliberal da história contemporânea, antecedendo até mesmo o governo Thatcher, na Inglaterra. O regime chileno já aplicava os programas de desregulação, desemprego massivo, repressão sindical e privatização de bens públicos. A variável desta cartilha neoliberal chilena ficava por conta da abolição da democracia, o que a tornava singular.
Outros países sul-americanos como Bolívia, argentina, Peru, Venezuela e Brasil também foram atingidos por este arquétipo ideológico, e nesta trilha alguns tiveram mais êxito do que outros.
Neste balanço sobre o neoliberalismo a questão que se coloca diz respeito a qual modelo pode se contrapor ao neoliberalismo na América Latina. Seria o populismo um obstáculo para a realização dos projetos neoliberais da mesma maneira que foi o comunismo e a social-democracia na Europa?
Observemos que a região do capitalismo mundial que apresenta mais êxitos nos últimos anos é também a menos neoliberal e pergunta por quanto tempo esses países permanecerão fora da abrangência do neoliberalismo.
O neoliberalismo se consolidou em escala mundial como o capitalismo jamais havia produzido no passado. Qualquer avaliação do projeto neoliberal só pode ser provisório. Este é um movimento ainda inacabado.
Quanto às realizações, economicamente, o neoliberalismo fracassou, não conseguindo revigorar o capitalismo avançado, e no plano social, ao contrário, ele conseguiu muito de seus objetivos, gerando sociedades mais desiguais. Na esfera política e ideológica a sua afirmação se deu num grau jamais esperado pelos seus fundadores, e este modelo se impôs ao mundo justificando que não há alternativas plausíveis para os seus princípios, o que caracteriza este fenômeno como hegemônico.
A partir destas constatações façam as suas reflexões sobre qual o modelo de administração deve ser aplicado no país.

Até breve!



Autor: Érico André Soares


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