Cem Anos De Antecedentes Históricos De Parnamirim - Pe (1847 A 1947)



Primeira Fase: Omissão.

De 1847 a 1879, são os primeiros 32 anos, de fatos e eventos da colonização, que são omitidos dessa história. Os historiadores e professores da História Regional do Interior de Pernambuco preferem ignorar dados, talvez para não lembrar os anos de cativeiro ou para demarcar como único fato histórico a presença de algumas famílias que iniciaram as povoações surgidas a partir do processo democrático. É como se o Município de Parnamirim, entre outros da mesma época, tivesse surgido, num passe de mágica, de uma Fazenda com escravos e se transformado rapidamente em uma comunidade democrática, ignorando assim, quase meio século de vida dos que migraram para a região, viveram, brigaram e sofreram por melhores condições de vida no sertão.

Neste período, ainda no segundo império português no Brasil, a área que, atualmente corresponde ao município de Parnamirim, era conhecida como Fazenda Saco do Martinho,uma alusão ao pacote dos Correios e Telégrafos que vinha , de burro, em um saco, para a fazenda de propriedade do Tenente – Coronel Martinho da Costa Agra, militar descendente de portugueses, oriundo de Catolé do Rocha, do Estado da Paraíba. Além de Comandante da Segurança Nacional, Martinho da Costa administrava as demarcações de terras do Governo e tinha a incumbência de delimitar os contornos regionais para a defesa do rio (mais tarde, Rio Brígida em homenagem à Brígida de Alencar) e para manutenção da ordem dos conflitos entre posseiros de terra e moradores das fazendas de gado do sertão de Pernambuco.

“Este município iniciou a sua formação quase em meados do século XIX, quando aqui chegou em fins de 1847, com sua família, e instalou-se com uma fazenda de gado, o Tenente –Coronel Martinho da Costa Agra, vindo do Catolé do Rocha, Estado da Paraíba. Era o Coronel Martinho descendente de família portuguesa. A este homem coube a honra de haver fincado às margens do rio Brígida - afluente da margem direita do rio são Francisco – o marco originário do povoamento de nossa terra. Daí estar o município de Parnamirim ligado ao ciclo econômico da Pecuária, que teve lugar decisivo na formação histórica e sociológica dos sertões.”(MENEZES DE MIRANDA, 1988) .

Entre as figuras centrais dessa saga de Parnamirim estão os nomes do Coronel Martinho da Costa Agra, a fazendeira Brígida Maria das Virgens ou Brígida de Alencar, sua filha Maria do Carmo e seus descendentes, sem dúvida, conforme registros de terras e documentos de propriedades. Mas, vale ressaltar que a vinda dessas pessoas para o sertão não foi por acaso, nem foi pela beleza do lugar que ocuparam aquele espaço e construíram vidas, culminando na construção de uma importante cidade do sertão. Os representantes da Milícia portuguesa, durante o período imperial, tinham o dever sagrado de proteger as terras da Igreja e a obrigação patriótica de administrar os domínios do Estado. E como o Coronel estava a serviço da Guarda Nacional, a fazenda e a capela eram os dois eixos que centralizavam o poder sobre o patrimônio canônico e a autoridade que representava o Estado, durante o período de colonização do alto sertão pernambucano.

Entretanto, esses fazendeiros tinham amigos influenciadores e influenciados, na pecuária, na política e na religião, com os quais articulavam o futuro desenvolvimento do povoado com autoridades da capital (Recife) e famílias de amigos e correligionários do interior do Estado de Pernambuco: Cabrobó (Parente, Araújo, Sampaio), Salgueiro (Sá, Neves), Exu (Alencar e Batista), Granito (Peixoto) e Serra Talhada ( Gonçalves e Lima), bem como apoio de políticos, mandatários e parentes de outros estados do norte e nordeste, tais como: do Amazonas (Oliveira e Cabral ); do Pará (Aquino); da Paraíba (Agra e Miranda) e do Piauí ( Lustosa ).

Dados dessa primeira fase, embora sejam omitidos ou desconhecidos, seja por falta de pesquisadores seja por desinteresse da política atual, representa ainda um fator de grande importância que caracteriza o Ciclo Econômico da Pecuária e sua influência religiosa, herdada dos migrantes colonizadores, descendentes dos cristãos novos, os quais deveriam ter por meta : hastear a bandeira católica, ao mesmo tempo em que defendiam a política da conservação do poder, de acordo com o sistema de governo em vigor; esse fato confirma-se com a instalação da Fazenda e com a construção da Capela de Santana, desde 1847 pelo seu fundador, Martinho da Costa Agra. Isto se faz sentir no cotidiano do sertão e repercute até hoje, em 2008, 161 anos depois, como uma tentativa de reprodução da ideologia substitutiva (que não valoriza contribuição dos outros) , na economia do município, na política e nas manifestações culturais, nas festas religiosas, nas novenas, nas feiras e vaquejadas.

Depois da morte de Martinho da Costa, em 18 de outubro de 1850, seus herdeiros, parentes e amigos resolveram homenagear a Fazenda, a sua Santa de devoção e o proprietário falecido com a reforma da Capela da Fazenda. Em 06 de junho de 1867, a Fazenda Saco do Martinho passou a ser Distrito de Santana do Saco, em homenagem à Padroeira da Freguesia de Cabrobó, a Senhora Santana. O nome do Distrito de Santana do Saco, em 25 de maio de 1870, mudou para Leopoldina, em homenagem à esposa do então imperador Dom Pedro II, cuja princesa assinava os documentos de domínio das terras de Santana que correspondiam às propriedades dos herdeiros da fazenda, a família Alencar.

Em 1877, a Capela de Santana foi derrubada para construir a Igreja Matriz, considerando-se que já havia interesse da população em emancipar-se Cabrobó, tanto na esfera político-administrativa quanto na economia e religião. Dois anos depois, a 16 de junho de 1879, o Distrito de Leopoldina foi desmembrado de Cabrobó, pela Lei Nº 1964, passando a ser Vila de Leopoldina. Muitas polêmicas e conflitos surgiram, mas todos serviram de alicerce para a construção da democracia, tais como: os movimentos pela consolidação da república, a luta pela abolição dos escravos e a busca pelo direito de representação através do voto.



Segunda Fase: menosprezo ou esquecimento

De 1880 a 1947, representa a segunda fase menosprezada pelos historiadores e estudiosos da história do interior de Pernambuco. Essa fase consiste em mais 47 anos de esquecimento em relação aos movimentos sociais do contexto nacional que repercutiram na colonização do alto sertão, os conflitos agrários das demarcações de terras dos pioneiros até a recepção indesejada dos migrantes de outros municípios e estados, as quais alteraram o direcionamento político e o conceito de desenvolvimento na região. Assim, mesmo sendo desejo de todos os leopoldinenses e seus moradores, somente em 1909, no dia 1º de julho, é que o Município de Leopoldina foi promovido à Categoria de Cidade, pela Lei estadual Nº 991/09, já no Primeiro Período da República, pelo Governador do Estado, da época em que os Marechais eram presidentes do Brasil.

Entre as famílias esquecidas nesta história, Agra, Sampaio, Menezes, Alencar, Miranda, está a família Sá, de Antonio de Sá Neves, procedente de Salgueiro, que entrou na região quando ainda era Município de Leopoldina, a convite da família Agra, de quem comprou parte da Rua Coronel Jambo e com a qual tinha grande amizade. Atuou como líder comunitário, farmacêutico prático, de 1918 a 1934, ora vinculado a Salgueiro (saúde, educação, justiça) ora a Cabrobó (política, religião, economia) residiu em Leopoldina onde tinha muitas casas, uma farmácia e duas fazendas que ficavam no município de Leopoldina a e atualmente no município de Parnamirim: Timbaúba e Surubim, que deixou para seus filhos: Djanira e Nelson. Antonio de Sá Neves foi nomeado para o mandato de primeiro prefeito de Parnamirim, de 1930 até 1934, no período da Revolução, quando ainda não havia escolha de gestores pelo voto popular.

Vale ressaltar que Antonio de Sá Neves desempenhou importante papel na construção da cidade de Leopoldina, atual Parnamirim, e não teve culpa de ter nascido e crescido no período imperial nem de ter sido escolhido pelo Governador do Estado, pela sua importância, capacidade e poder de liderança, necessários para administrar Leopoldina, na época da ditadura, pois era a única forma de governo admitida e havia grande dificuldade de apaziguar os ânimos dos revoltosos naquele período de crise entre as duas grandes guerras mundiais.

De 1934 a 1937, Antonio de Sá Neves foi sucedido na Prefeitura de Leopoldina, também interinamente, por Mendo Callou. A seguir, de 1938 a 1942, a administração municipal de Leopoldina foi assumida por vários prefeitos nomeados temporariamente: Glicério de Sá Parente ( 4 anos), Milton Caldas de Menezes (1 ano), Antonio Cabral (2 anos); Firmino Menezes (6 meses) e Eduardo Callou (2 meses). Em 31 de dezembro de 1943, na administração do primeiro prefeito Glicério de Sá Parente, foi assinado o Decreto que mudou o nome do Município de Leopoldina para Município de Parnamirim, uma forma de omitir a lembrança da monarquia e enfatizar o nacionalismo pregado pelos ideais do sistema republicano.

A esse respeito, os historiadores Capistrano de Abreu (1970) e Pereira da Costa (1980 ) apresentam dados que confirmam a presença de mandatários, prefeitos interinos e intendentes da última fase do período imperial à primeira etapa de transição para a república, onde constam os nomes dos administradores das primeiras vilas e cidades do primeiro período republicano, em todos os estados do Brasil, a maioria deles indicados pelos grandes fazendeiros, inclusive nas cidades do sertão, durante o Governo do Marechal Deodoro da Fonseca.

Entre os textos de historiografia de Parnamirim merece destaque o Livro da professora Ivalda Menezes de Miranda (1988) a qual destaca vários pontos da origem do município; também o trabalho didático do Professor Francisco Modesto (1996) que traz dados sobre as primeiras construções, casas, fazendas e sobre pessoas que colaboraram para o desenvolvimento do município. Entretanto, ambos deixam lacunas, principalmente quando citam nomes de algumas pessoas pioneiras do lugar e omitem os nomes de outras que, possivelmente, sejam tão importantes quanto às destacadas, talvez não sendo incluídas por ser de outra facção política ou porque não coadunam da amizade ou da moda do momento. A história, infelizmente está cheia de ocorrências desse tipo, muitas vezes cometendo injustiças não só para as famílias desses líderes como também para a própria historiografia que não pode ser de meias verdades.

Sabe-se que o Livro de Menezes de Miranda (1988) “Minha Terra, sua História” como afirma o professor José Lourenço de Lima (1988) : “ Não é trabalho definitivo, compreende-se facilmente, mas é o repositório de dados indispensáveis aos estudiosos desse torrão sertanejo, inclusive com o seu folclore literário e político, além de preciosas informações genealógicas.” Concorda-se com essa citação, porém, questiona-se o fato de fazer alusão à pessoa de Antonio de Sá Neves apenas como farmacêutico em 1932, esquecendo-se que ele foi uma figura importante na cidade, que, além de farmacêutico atuou receitando e atendendo doentes , em condições precárias, nos períodos mais sofridos da época, antes e depois da 1ª e 2ª Guerra Mundiais, quando não existiam recursos e os atendimentos noturnos nas fazendas eram feitos em lombo de burro e à base de candeeiros e lampiões.

Quando aborda a questão dos prefeitos de Parnamirim, Menezes de Miranda não diz como eram administradas as povoações e quem os escolhia. Afirma que o Governo Municipal, a partir de 1916, era exercido por dois membros: um chefe e um prefeito. Cita apenas os nomes dos Chefes e prefeitos de 1916 a 1925 (João Batista de Araújo e José Thomás de Aquino) e os Chefes e Prefeitos de 1926 a 1929 ( Mendes Callou e Coronel Doçura). Pelas informações da história do tenentismo e coronelismo no Brasil, sabe-se que os mandatários políticos eram escolhidos aos pares: um pela Igreja e outro pelo Estado; um religioso para proteger a doutrina da igreja católica e outro militar para defender a soberania dos rios e florestas, principalmente no sertão, no período de revolução. Os antecedentes históricos de Parnamirim ficam assim prejudicados, cheios de lacunas, quando os contadores dessa história omitem as demais figuras que atuavam na política de então, como interlocutores. Entre esses, Antonio de Sá Neves também participou, com seu partido político dos acontecimentos importantes para o desenvolvimento da cidade nessa fase e muito ativamente durante a Restauração da Revolução de 30 até 34, período em que assumiu a prefeitura com apoio das famílias Agra e Alencar.

Sobre a atuação de Antonio de Sá Neves em Parnamirim, tanto a professora Menezes de Miranda quanto o professor Modesto citam seu nome duas vezes, rapidamente, em seus escritos, de forma incompleta, descrevendo-o apenas como prefeito do período da ditadura, de modo que, transparece que não teve nenhuma importância ou que nada de especial possa ter acontecido durante sua administração, limitando-se a destacar os nomes dos políticos que participaram do Processo Democrático de 1945 a 1947: Antonio Lustosa de Oliveira Cabral e Napoleão Lustosa de Araújo, até a ocorrência da primeira eleição em 1947, cujo primeiro prefeito eleito foi Gumercindo Lustosa de Oliveira Cabral, isto porque, a partir de 1947, os prefeitos passaram a serem escolhidos pelo voto popular.

Conforme entrevista com Firmino de Menezes, concedida em julho de 2002, informações e fotos de Antonio de Sá Neves; na Prefeitura de Leopoldina; na escola com os alunos de Francina; na casa que foi dele, na esquina ao lado da antiga casa de José Magalhães, a caminho do Poço da Porta (onde nasceram os netos de Antonio de Sá Neves: Reusa de Sá Almeida, Reuma de Sá Almeida e Antonio Huyamachit de Sá Almeida, filhos de Djanira de Sá Neves e Severino Simões de Almeida); além de documentos das terras compradas, por ele, que eram da família Agra; aliás, ele foi proprietário de parte da Avenida Coronel Jambo . Também o depoimento dado pela sua filha Djanira de Sá Almeida, que hoje mora em Itaituba no Pará, tudo isto confirma: Antonio de Sá Neves teve papel importante sim, na construção da cidade de Leopoldina e merece ter seu nome devolvido à História da terra que ele tanto amou. Na sua gestão, de 1930 a 1934, em plena crise da Revolução, ele construiu escolas, trouxe professores leigos, fez calçadas de paralelepípedos nas principais avenidas (Rua Padre Lima, Avenida Coronel Jambo, etc) e colocou nas ruas lampiões de gás (lâmpadas a óleo sobre postes que eram acesas todas as noites por um funcionário público), isto porque não existia ainda a energia nem de motor. Ele contou com a colaboração de seus amigos, entre eles, Firmino de Menezes e seu primo Antonio de Sá Sampaio. Todos contam que, no período de sua gestão houve uma grande epidemia de febre, que matou muita gente, mas como ele era farmacêutico e gozava da confiança do povo ajudou a salvar muitos moradores da cidade e das fazendas vizinhas.

Conclusão

Neste artigo, foram revisitados os fatos que antecederam a História do Município de Parnamirim - PE, analisando duas fases geralmente esquecidas pelos estudiosos, na euforia de condenar a monarquia. Iniciando-se com fatos de 1847 a 1879, são os 32 primeiros anos da formação da Fazenda de Saco do Martinho, cujo proprietário tinha escravos e apoiava o governo imperial. Passando pela trajetória da promoção do Saco de Santana para Vila. A segunda fase vai de 1880 a 1947, tratando dos 47 anos seguintes da Vila que se transforma em Município de Leopoldina, incluindo a gestão de Antonio de Sá Neves, no período de 1930 a 1934, primeiro prefeito nomeado, no período da Revolução e seus sucessores até 1947, fato também esquecido para evitar citar a palavra ditadura. Concluindo: a postura dos historiadores sobre o tema, os quais mencionam como fato histórico apenas os eventos do processo democrático, a partir de 1947, é, no mínimo, unilateral e omissa, pois exclui fatos da história que indicam referências para as lutas de transformação. Sugere-se que a Saga das famílias desbravadoras, Agra, Alencar, Menezes, Sampaio e Sá, não SEJA jamais apagada, omitida nem esquecida, em nome do que veio depois, em nome do que se considera atual, pois embora fora de moda, VIERAM para a região para cumprir uma missão: viveram a rasgar a caatinga, tocando boiada, varando serras, rezando e cantando ao atravessar os rios e montes, em nome da fé e da vitória da colonização do sertão, além da busca por melhores condições de vida. Não importa que tenham sido conservadoras, pois cada povo, em cada época, tem o governo que merece. Mas interessa deixar claro que fizeram HISTÓRIA. Infelizmente, os erros de antes dão lugar, hoje, a novos enganos: a administração escravagista dos coronéis de outrora foi substituída pela atuação dos gestores públicos de gabinete, de agora, que fazem estradas, constroem pontes e escolas, eletrificam o sertão, dão benefícios também, em troca de voto, e distribuem do mesmo modo, cargos e salários, aos amigos e parentes, além de contar suas próprias histórias de bravura e pioneirismo para honra e glória da república, em favor dos mais espertos, enfatizando o presente, olvidando o passado.


Autor: Djalmira Sá Almeida


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