Discípulo Do Relógio



O despertador grita estridentemente
Trazendo presságios de uma pouco
Provável mudança na rotina
Meus olhos parecem estar
Cheios de areia e o corpo todo dói
Mas quem sou eu para questionar
As ordens do relógio?

São cinco e trinta...

Imperativamente sou obrigado a sair da cama
Tomo banho e faço a barba
Quando chego à cozinha para o desjejum
Sinto uma presença maligna acomodada na parede

Um ser movido à pilha cujas características físicas
Ressaltam dois ponteiros, um grande, outro pequeno
O ponteiro grande amotinado com o menor
Esgota meu tempo e saio sem o café da manhã

São sete horas...

Berra o sinal
Bato o cartão ponto
A manhã segue sua normalidade enfadonha

É meio dia...

Horário universal do almoço
Meu relógio de pulso
Funciona como um inquisidor
E fiscaliza autoritariamente
Minha refeição e digestão
Procuro comer e não olhá-lo
Mas o relógio do restaurante
É seu cúmplice

São duas horas...

Retorno à fábrica
Um amontoado de pessoas histéricas
Fazendo tarefas mecânicas e repetitivas

São cinco e trinta...

Vou para casa
Sou comprimido como uma sardinha
Fico sacolejando de uma lado para outro
Dentro do ônibus lotado

São seis e trinta...

O controle do relógio
Continua inabalável
Novelas e programas de auditório
Hora do jantar

Estou livre!!!!!
Mas o dia praticamente acabou

A liberdade fica escravizada pela exaustão
Caio na inconsciência do sono
Sabendo que às cinco e trinta
Serei acordado pelo ser mais
Mesquinho que conheço
Meu relógio.

Autor: Adriano Saraiva


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