Na Lapa: A Zona Do Agrião ...



Vindo do interior, atraído pela grande propaganda que é feita pelas empresas de turismo sôbre as belezas naturais da "Cidade Maravilhosa", Zefirino desembarcou na Rodoviária Novo Rio e lá pegou um táxi e pediu ao motorista para que o levasse para o centro da cidade, indo assim parar na Lapa, bem ali na zona do agrião ...

Pagou a corrida e, mal saltou do carro, logo se viu assediado por uma daquelas moçoilas que costumam fazer "trotoir" naquela área e, como a finalidade dele era mesmo conhecer as coisas da cidade, deu trelas à ela e acabaram por entrar num dos hotéis daquela zona, onde ao invés de diárias eles cobravam por hora e sempre arredondando para mais os minutos que ultrapassassem cada hora corrida ...

O porteiro era um velhote careca e barrigudo que, logo que eles chegaram, lhesentregou uma chave e disse que só tinha vaga no quinto andar, no quarto 509, mas que o elevador estava desligado e foi então que a moçoila deu o maior estrilo e exigiu que se mandasse ligar o elevador, porque "ela estava pagando e não podia subir pela escada" ...

Depois de um acalorado bate-boca, o elevador foi ligado e êles então subiram e, ao chegarem no cubículo, enquanto trocavam as primeiras carícias, ela disse p'ra êle que precisava lhe fazer uma confissão ...

Confissão ? – êle perguntou ... "Mas afinal de contas nós viemos aqui p'ra transar ou p'ra comungar ?" ...

Não, Não!... É sério! – ela disse ... E é por isso que eu não quis subir os cinco andares pela escada! ...

Qual é o problema ? – êle perguntou ...

É que eu uso uma prótese mecânica porque eu fui atropelada e perdi uma das pernas ... – ela disse ...

Êle ficou meio sem jeito mas, sensibilizado, disse que estava tudo bem e ela, então, tirou a perna e disse p'ra êle que só tinha mais um probleminha ... É que ela também ia precisar tirar um dos olhos, que era de vidro ... e a dentadura, que era nova ... porque ela tinha medo que pudessem cair no chão e quebrar, no calor das emoções ...

E êle então olhou p'ra ela e perguntou se era só isso, ao que ela respondeu que não!... Que o seu braço direito realmente não era direito, porque também era uma prótese, mas que desencaixava com muita facilidade ...

E êle então concluiu:

- "Mas péra aí... Nós viemu aqui p'ra transar ou p'ra você me mostrar que é biônica? ... E já que é assim, eu também quero te dizer uma coisa ...É que eu só vou te pagar a metade, tá ?" ...


Autor: Marcelo Cardoso


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