Os Perigos Imaginários



Êle era capaz de enfrentar um leão,mas morria de medo das borboletas ...

E qual é o perigo das borboletas ? ... Certamente nenhum, mas o conflito desse paciente não eram os perigos reais exteriores e sim, os perigos imaginários ...

O drama desse paciente não tinha como causa a borboleta física, que de um modo geral é um bichinho que nos encanta com a sua beleza, mas sim a borboleta psicológica que ficou registrada de modo distorcido na sua memória porque, na sua infância, a sua mãe lhe dissera que se êle tocasse com as mãos numa borboleta e depois as colocasse nos olhos, ficaria cego e, certa vez, quando êle tocava numa borboleta, a sua mãe gritou e, então, no seu inconsciente, esse grito de alerta cruzou com a imagem da borboleta e ambos os estímulos ficaram registrados no mesmo local, pelo que a inofensiva borboleta se tornou um monstro e toda vez que o menino via alguma bailando no ar, era acionado o seu gatilho psíquico e, em milésimos de segundo, abria-se a janela da memória em que aquela imagem estava registrada e a borboleta imaginária era libertada do seu inconsciente para a consciência, gerando emoção e intranqüilidade.

E todas as vêzes que esse paciente tiver alguma outra experiência angustiante diante de uma borboleta, ela será registrada da mesma forma, contaminando outras janelas da memória e, dessa forma, outras áreas ficarão comprometidas e êle reagirá sem racionalidade, podendo se tornar uma pessoa fóbica, frágil, sem capacidade para lutar pelos seus sonhos e com tendência a inúmeros outros tipos de medo.

Esse é um dos segredos da psicologia que demorou mais de um século para ser compreendido.

É a chamada teoria da Inteligência Multifocal, pela qual estão sendo desvendados muitos fenômenos contidos nos bastidores da mente e que afetam todo o processo de construção dos pensamentos e geram traumas psíquicos.

O que importa para a nossa personalidade não é a realidade concreta de um objeto, mas a sua realidade interpretada : a forma como ficou registrada no nosso inconsciente.

Para alguns, um elevador é um lugar de passeio; para outros, um cubículo sem ar ...

Para uns, falar em público é uma aventura; para outros é um martírio ...

Para uns, derrotas são lições de vida; para outros, um sufocante sentimento de culpa ...

Para uns, uma perda é uma dor irreparável; para outros, um golpe que lapida o diamante da emoção ...


Autor: Marcelo Cardoso


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