O MAR



Ah! Lembro-me como se tivesse sido ontem a primeira vez que vi o mar.
Acordei ou melhor me acordaram muito cedo ainda, estava escuro e fui levada meio dormindo.
Não sei se fomos, minha avó, duas tias e eu, de onibus ou de carro. Só lembro de me ver vestindo um maiô amarelo com flores vermelhas, diante daquela imensidão tão poderosa e estranha de agua.
O barulho do mar me ensurdecia e todos os meus sentidos estavam confusos. Cheguei a pensar que fosse um sonho, ou pesadelo; tamanho foi o impacto que me causou aquela visão.
Minha avó segurava minha mão ou eu segurava a mão dela, não sei.
Não sei quantos anos tinha; uns quatro ou cinco anos talvez.
Tive um misto de medo, alegria e gratidão á alguma coisa, mas em especial á ela, D. Albertina, minha avó. Por ela estar ali, comigo, dividindo e me proporcionando, um momento tão magico, unico em minha vida, e nada com a mão da minha avó para me amparar.
Coisa assustadoramente linda o mar, aos olhos de uma criança.
Um sem fim de agua e céu. A agua era verde, brilhante e faiscava sob o sol.
Ainda sinto o cheiro do mar; aquele mar da minha infancia, e tambem o seu sabor, salgado, salgado..................
Entro em extase ao recordar esse dia, com a sensação divina que me causou e deixou raizes, do vento que vinha lá de longe, daquele lugar do mar , onde eu achava que ninguem poderia ter chegado.
Alí , na beira do mar, com suas aguas molhando meus pés infantis, com minha avó segurando minha mão e falando qualquer coisa que eu nunca soube que era,senti uma coisa que até hoje não sei explicar.
Naquele instante pude conhecer o " divino ", tanto que, ainda hoje , todas as vezes que penso em Deus, acredito que de todas as coisas que conheço, a que mais se aproxima em semelhança á Deus, seja o mar.
Imenso, intenso, misterioso; dá e tira a vida. Guardador de segredos e misterios. Seja noite ou seja dia, ele continua alí, impávido, forte, poderoso.
Não precisa de ninguem para continuar á existir.
Poderia escrever em detalhes, todas as brincadeiras possiveis na praial Poderia falar das guloseimas maravilhosas que minha avó preparou; do medo que senti de me perder dela , naquele mundo tão desconhecido.
Mas não posso traduzir em palavras a alegria generosa que transbordava de minha avó, em suas palavras, carinhos e atenções comigo.
E hoje, perto ou longe do mar, ainda posso sentir as mesmas sensações do primeiro dia e aí explode a saudade que sinto dele, dela e de mim.

Autor: Sandra Oliveira


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