666, o que é isso afinal!



A humanidade como conhecemos se fundou em bases culturais e sociais que extravasaram a realidade humana, isto é, passamos de simples seres em comunidade para nos tornarmos indivíduos em constantes conflitos consigo e com os outros. Para tal fizemos guerras por territórios, outras vezes apenas para submeter um povo à escravidão. Criamos armas de destruição em massa e manipulamos a vida em prol da ambição que temos de se destacar entre os outros que nos cerca. Estipulamos estilos de vida com base em estereótipos de "felicidade" que se dissolve no consumismo desenfreado revelando que a felicidade como é oferecida em anúncios publicitários são apenas aparências de felicidades que imprimem no ser humano o medo de não ser feliz, pois se não ter posses é não poder se considerar feliz. Essa situação de ansiedade tem recrutado multidões para as clinicas psiquiátricas, apresentando índices elevados de stress e muitos com distúrbios depressivos. A incerteza se tornou parte da vida do ser humano do nosso século, estaríamos caminhando mais rapidamente para o caos? O apostolo João na ilha de Patmos (ilha da Grécia) escreveu o livro de Apocalipse, um livro intrigante que traz revelações impressionantes sobre o futuro da humanidade, dentre as revelações há a de uma falsa felicidade que será oferecida aos homens por meio da adoração da besta que João relata como um "homem". Quem será esse homem? A compreensão, mesmo que parcialmente, só é possível por meio da interpretação das profecias do Apocalipse.
Apocalipse é uma palavra proveniente do grego "apokálypsis" que significa "desvendar" daí o termo "revelar", é também o ultimo livro da Bíblia considerado por muitos como um dos mais difíceis de ser compreendido, isso se deve ao fato de que é repleto de simbolismos. O que não significa que seja um livro selado, pois se assim fosse não estaria aberto a interpretações. Seu conteúdo pode ser dividido em duas partes que correspondem: "as coisas que são" e as coisas "que devem acontecer depois destas coisas". A primeira seria basicamente um diagnostico da realidade das igrejas daquele momento e a segunda trata do que tem de acontecer depois.

"A primeira parte (1 a 3) refere-se ?às coisas que são?, compreende uma visão preparatória das perfeiçoes divinas, a simpatia do Redentor para com os homens, e também as epistolas aos ?anjos?, que são personificações do espirito de cada uma das setes igrejas. (....) A parte restante do livro ( 4 a 22 ) compreende a profecia do ?que deve acontecer depois destas coisas?. Há uma série de visões que mostram, por meio de imagens simbólicas e linguagem figurada, os conflitos e sofrimentos de povo de Deus, e a ação da Providência sobre os perseguidores dos fieis. E conclui, apresentando a queda da mística Babilônia, que é a figura do erro, e mostrando a triunfante Nova Jerusalém, a igreja aperfeiçoada." (BUCKLAND. 1999, Pp. 32- 33)

O livro de Apocalipse pertence à classe de livros que trazem "revelações" que são conhecidos como literaturas apocalípticas. Nota-se que em toda a Bíblia muitas são as passagens apocalípticas como é o caso de livros de Mateus 24, 2 Tessalonicenses 2 ou as visões de Daniel. Uma diferença crucial entre os demais livros da Bíblia e Apocalipse é que esse traz o autor, ou seja, o autor do livro se revela como é mostrado no capitulo primeiro, enquanto que em muitos outros livros o autor se revela com pseudônimos. O autor nos diz que seu nome é João, e assim se faz crê mesmo diante de objeções que questionam o estilo da escrita de outros livros do mesmo autor, o que não indica nada além de especulação de visões estreitas de teólogos preocupados com questões sem importância capital. O livro de Apocalipse foi escrito no século I, em que ocorriam perseguições severas aos cristãos. Para alguns teólogos foi durante o governo de Nero para outros foi no governo de Dominiciano que João escreveu o Apocalipse, o que não é relevante, pois o importante é o conteúdo e não as condições históricas em que estava situado o autor e a obra.
Esse livro sempre causou fascínio e medo aos que se aventuraram em tentar interpretar suas mensagens. Muitas das interpretações são baseadas em circunstancias históricas, outras são baseadas em ideais que se submetem a limitar as interpretações em uma batalha duradoura entre o bem e o mal; ainda há quem interprete a obra com vistas há um tempo passado descartando as coisas que ainda há de vir, mas é com as interpretações com vistas ao futuro que mais se adequam a realidade proposta pelo próprio livro de Apocalipse.
Quatro são as principais visões de interpretação do apocalipse: preterista, historicista, futurista e idealista. Todas elas, com visão particular, tentam oferecer uma interpretação mais próxima da realidade em que se sustenta o livro, todas buscam desvendar os mistérios que formam o livro, que completam cada linha do "apocalipse".
A escola, ou visão, preterista se baseia nos acontecimentos referentes ao século I em que a igreja era severamente perseguida e João escreve o livro de Apocalipse voltando-se exclusivamente para a igreja daquela época. Com o proposito de fortalecer e reorientar a igreja. Segundo Pate a interpretação preterista o Apocalipse foi escrito com intuito de confortar os cristãos que sofreram perseguição de ordem politica (governo) como de ordem religiosa (judaísmo).

"A interpretação preterista (passado) entende que os acontecimentos do Apocalipse em grande parte foram cumpridos nos primeiros séculos da era cristã ? quer na queda de Jerusalém em 70 d C., quer na queda tanto de Jerusalém no século I, quanto na de Roma no século V. De fato, o livro foi escrito para confortar cristãos que sofreram perseguição tanto do culto imperial quanto do Judaísmo. " (PATE. 2003, p.20)

No quesito politico, sendo Nero o possível imperador da época, é sabido de todos de sua antipatia pelo cristianismo e suas investidas contra os cristãos. Ademais, a questão religiosa está na ruptura entre o cristianismo e o judaísmo que não acredita em Jesus como o messias. Essa visão preterista entende que o mundo melhorará quando "a palavra de Deus" triunfar sobre a Terra, o que é uma verdade ideal. Para essa escola de pensamento a besta, sua identificação sob o numero 666, que representa o imperador Nero, este então seria o anticristo. O argumento para essa afirmação é o fato de que "(...) o soletrar do nome de César Nero (NRWNQSR) no século I, escritos em caracteres hebraicos, alcança esse valor exato." (PATE. 2003, p. 72)
Outra visão que ainda se assenta sobre a ideia de perseguição e que identifica um anticristo como um sistema de crenças e não como um homem em si é a escola historicista. A escola historicista segundo Pate é "uma visão ultrapassada" por não ter consenso entre os interpretes que buscavam interpretar as profecias com vistas a momentos da historia da humanidade em momentos de reforma do pensamento cristão.

"A escola historicista encara os eventos do Apocalipse como um desdobramento no curso da história. Essa perspectiva era especialmente compatível com o pensamento dos reformadores protestantes que compararam o sistema papal de sua época com o anticristo." (PATE. 2003, p. 20)

A visão que entende que a "besta", o "anticristo" era o sistema papal revelava suas dores advindas da perseguição no período da reforma. Os teóricos do historicismo se perderam quando foi necessário informar quando ocorreu a segunda vinda de Cristo ou porque Ele demorou a vir quando tudo parecia se comprovar. Por outro lado a escola idealista não faz questão de catalogar momentos para comprovar suas interpretações das profecias.
Não requerendo datas e nem períodos históricos a visão idealista nega que as profecias do Apocalipse são proféticas, em exceção a profecia do triunfo do bem quando da segunda vinda de Cristo. Esta escola se auto intitula realista por assentar suas interpretações nos acontecimentos que são contínuos entre o bem e o mal, segundo Pate ( 2003, p.20) " Para essa escola de pensamento, o apocalipse relata verdades infinitas relativas à batalha entre o bem e o mal que continuam ao longo da era da igreja." Desse modo, a escola idealista confirma o valor simbólico do texto de apocalipse, mas acredita que todos os acontecimentos contrários a o "bem" estabelecido, como o suicídio legalizado em tribunais, a desestruturação do núcleo familiar, as constantes guerras, a fome, a violência desenfreada, entre outros fatos, são ações contrarias a prevalência do bem na Terra e que é papel da igreja manter sua batalha contra o mal que acompanhará a humanidade até a vinda de Cristo, ou seja, tudo o que acontece hoje é o apocalipse se cumprindo contrario a ordem principal que é o "bem". Para os idealistas a "besta" cujo numero é informado como o numero de um homem, que é 666, é na verdade a "falsa religião" e "filosofia", ou seja, a besta é o espirito do mundo que se opõe aos princípios da igreja. A luta da igreja então é por um mundo melhor.
Outra escola de pensamento que busca interpretar o livro de Apocalipse é denominada "futurista" que será dividida em "dispensacionalismo clássico" e "dispensacionalismo progressivo". O futurismo entende "(...) que os eventos do Apocalipse, em grande parte, não foram cumpridos, assegurando que os capítulos 4 ? 22 esperam o fim dos tempos para a sua realização." (PATE. 2003, p.20)
O dispensacionalismo progressivo faz uso da hermenêutica e da escatologia para interpretar as profecias. A hermenêutica como sistema que estabelece os princípios, leis e métodos de interpretação e a escatologia funda os estudos futuros com base na tensão do "já/ ainda não", ou seja, "(...) a primeira vinda de Jesus Cristo a era por vir já alvoreceu, mas ainda não se completou; ela espera a parúsia para sua consumação" (PATE. 2003, p.139). O termo "parúsia" usado pelo autor está relacionado à segunda vinda de Cristo, sendo a palavra é proveniente do grego com o significado imediato e simples de "presença". Na visão progressiva o "anticristo" está relacionado a o imperador Nero Cláudio César Augusto Germânico ou simplesmente "Nero". Isto porque Nero foi o imperador romano do século I que tinha cunhado moedas nas quais foi chamado de "deus todo poderoso" e "salvador", também apareceu em moedas como o "deus Apolo tocando lira"; empreendeu perseguições intensas contra os cristãos e sua própria morte pela espada de seu próprio secretário, diz ? se cometeu suicídio por ter pretendido praticar e por ter autorizado seu secretario a consumar seu intuito. E por fim, o numero 666 atribuído a Nero por meio de uma técnica que explica uma palavra ou conjunto de palavras usando um valor numérico chamada de gematria. Segundo explica patê (2003, p.164) "(...) em Neron Kaiser. A avaliação numérica hebraica para NRWN QSR, como segue: N= 50, R= 200, W= 6, N= 50, Q = 100, S= 60, e R= 200, todos os quais somam 666". Essa avaliação numérica é baseada em caracteres hebraicos. Em contrapartida existe a corrente de interpretação dos textos apocalípticos denominada de dispensacionalismo clássico, que está mais centrada na realidade bíblica e que se propõem interpretações mais solidas em comparação ao que já foi apresentado.
O dispensacionalismo clássico compreende as profecias de modo literal. Sobre a segunda vinda Cristo, os teólogos do dispensacionalismo acreditam que, acontecerá no mundo físico. Desse modo a interpretação das profecias é voltada para o contexto literal do livro de apocalipse. Assim o "anticristo" é um futuro "falso cristo" que instituirá um governo mundial antes da vinda de Cristo. Segundo Pate (2003, p.208) o anticristo será "(...) uma pessoa maligna que incorporará as forças satânicas do ultimo império mundial ? provavelmente uma força revivida do império romano do passado- no papel de um falso cristo, o qual enganará os habitantes da Terra".
Dentre as escolas de interpretação do livro de apocalipse, não existe uma que possa ser considerada perfeita. Porém, é percebível que todas tem sua contribuição para a interpretação do livro das "revelações", obviamente que com certa cautela, pois toda explicação sobre algum tema é de certo atraente, mas nem por isso pode ser considerada uma verdade absoluta, a única verdade absoluta é a que consta na Bíblia e não a que parte da imaginação limitada do ser humano. As escolas ora apresentadas tem modos diferente de entender um mesmo texto, quando se refere a o "anticristo", uns entendem como sendo uma filosofia doutrinaria, outro como o imperador Nero, outro ainda como a igreja que perseguia os cristãos reformistas, e outra como sendo a uma pessoa que incorporará as forças satânicas. O livro de apocalipse fala de um número, que o autor utiliza para desafiar a sabedoria do ser humano para que o número seja interpretado.

"Aqui está a sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o numero da besta, pois é número de um homem. Ora, esse número é seiscentos e sessenta e seis." (BÍBLIA, Apocalipse, 13: 18).

O numero é 666. O que significa esse número? Sabemos que representa o numero de um homem, um individuo humano. Esse trecho de Apocalipse não precisa de interpretação sobre o que está significando a palavra "homem", obviamente o que merece atenção é o numero que representa o "homem", ou melhor, que o identifica como anticristo. Para muitos o anticristo não pode ser um homem, pois o livro de Apocalipse é escrito em linguagem simbólica e assim o termo "homem" pode está se referindo a outra coisa que não o ser humano do sexo masculino, especificamente um "homem". O que é correto afirmar que o livro está de fato escrito em linguagem simbólica e profética, e isso não descarta a tentativa de interpretar o que João queria dizer quando escreveu "um número de um homem". O fato é que a palavra "homo" do grego significa única e exclusivamente "homem", sendo assim, homem não significa outro se não individuo no sentido de uma pessoa. A singularidade é obvia João não diz homens ou sistema de homens, ele diz "de um homem", sendo assim a besta será um homem que tem por identificação o número 666. O termo "besta" tem relação direta com o sentido dado por Pate quando diz que a mesma ascenderá ao governo do mundo e cumprirá os desejos do dragão. Temos aqui dois elementos que precisam de atenção: "besta" e o "dragão", um cumprindo a vontade do outro.

"A besta ascenderá ao governo do mundo depois que as suas feridas de morte se curar e tentará destruir os seguidores restantes do Cordeiro, notavelmente o remanescente da semente da mulher. Em seu tratamento cruel dos santos, ele cumprirá os desejos do dragão que o energiza. O falso profeta ( a besta fora da Terra) será partidário desse esforço para aniquilar os santos vivos, conforme ajuda a besta." (PATE. 2003, p. 229)

Besta é um termo relacionado primeiro a um arco em cruz, uma arma bastante usada no século VVI; é também um termo usado para se referir a um animal usado em tarefas de grande esforço físico; e no livro de Apocalipse faz referencia a Satanás. O que ocorre é que "besta" é diferente de "dragão", o texto de Apocalipse diz que a "besta" recebe poder e autoridade do "dragão".

"E a besta que vi era semelhante a leopardo, com pés como de urso, e boca como de leão. E deu-lhe o dragão o seu poder, o seu trono, e grande autoridade." (BÍBLIA, Apocalipse, 13:2).

Sendo assim deve existir uma "besta" que seja útil ao dragão que lhe concede poder e autoridade. Não podemos admitir que a "besta" e o "dragão" sejam um só. Na verdade um servirá de propósitos ao outro, e a besta é então um homem que receberá poder e autoridade dada pelo dragão. Talvez tenha sido esse o intuito do termo "besta", um animal que carregue todo o peso, que suporte todo o poder dado pelo dragão. O próprio livro de Apocalipse nos informa quem é o dragão, o próprio "diabo", também denominado "satanás".

"Houve peleja no céu. Miguel e os seus anjos pelejaram contra o dragão. Também pelejaram o dragão e seus anjos; toda via, não prevaleceram; nem mais se achou no céu o lugar deles. E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo, sim foi atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos." (BÍBLIA, Apocalipse, 12: 7 - 9).

O "acusador" e "adversário", que foi expulso do céu e que foi atirado na terra precisará de uma "besta", de um homem, para que seu poder seja declarado e sua autoridade seja sentida em toda a terra. Então será um homem com poderes malignos, satânicos, que ordenará sobre toda a terra. Douglas no dicionário bíblico universal faz uma exclamação sobre o anticristo quando o define como "alguém que se opõe a Cristo", que nos é reveladora sobre a natureza do anticristo como um individuo, uma singularidade humana, uma pessoa, que se apresentará contrario a Cristo.

"Não é do nosso proposito identificar aqui qualquer individuo particular com o anticristo, mas simplesmente salientar o fato que esse livro (apocalipse) também reconhece alguém, dotado por Satanás, que se oporá a Cristo nos últimos dias. Pode ? se dizer com justiça que esse é o ponto de vista característico cristão sobre os últimos dias." (DOUGLAS . 2006, p.57. grifo nosso)

Não resta duvida sobre a figura da "besta" que João desafia a calcular o numero do homem que estará pronto a receber o dragão e todo o poder que ele pode lhe conferir. Não é de nosso interesse identificar um nome e rotular esse nome como sendo a "besta" ou o "anticristo", fazer uma relação com alguém é precipitado e desnecessário, mesmo que João informe um número que seja capaz de apontar uma pessoa. Como muitos já fizeram utilizando cálculos absurdos e identificaram o anticristo em códigos de barras e até em desenhos infantis, e nada foi comprovado, apenas se escandaliza quem procede por esses meios. Para o evangélico verdadeiro identificar o anticristo pode ser uma perca de tempo tendo em vista que sua aparição é uma profecia que se cumprirá e o reino de Deus não é na Terra, ou seja, identifica-lo não mudará sua atuação e a promessa de Deus aos homens é a vida eterna ao seu lado e esse lugar não é aqui. Quanto a questão do numero 666, este continuará sem solução como meio identificador do anticristo. Sobre o anticristo, certamente seu governo será na terra e sua atuação será sobre todas as nações, e todas obedeceram porque ele resolverá os problemas que ele mesmo tem criado como é o caso da miséria, da violência, da banalização do sexo, do terrorismo e de toda sorte de desgraças indesejáveis neste estado de imperfeição que vive o ser humano.

Referências bibliográficas

A BÍBLIA SAGRADA. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no Brasil. 2 ed., em letras grandes. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2000.
BUCKLAND, A. R. Dicionário Bíblico universal. São Paulo: Vida, 1999.
DOUGLAS, J. D. ; Editores assistentes F. F. Bruce [et al.]. Novo dicionário da Bíblia. Tradução João Bentes. 3ª edição. São Paulo: Vida Nova, 2006.
PATE, C. Marvin. As interpretações do apocalipse: quatro pontos de vista. São Paulo: Editora Vida, 2003 ? coleção debates teológicos.

Autor: Chardes Bispo Oliveira


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