O CORVO



Certa tarde, quase noite, um corvo entrou pela janela e pousou num canto da escrivaninha coberta de papéis.
Ergui meu rosto daquele monte de manuscritos e encarei-o.
Ele me olhou com um olho enquanto o outro mirava o por do sol.
Vi meu reflexo naquele olho, a imagem de um ser velho e ressequido.
O corvo falou: - Ves o sol como um olho assustado? Foge da noite que chega com seus milhões de olhos e estranho silêncio. Será um longo e tenebroso inverno!
Dizendo essas palavras o corvou bateu asas e voou. Saiu pela janela crocitando: Poe! Poe! Poe!
Tentei me erguer para fechar a janela, mas no assoalho coberto de pó, meus pés criaram raizes...
Autor: Antonio Stegues Batista


Artigos Relacionados


Haicai Concreto Haicai

A Janela

Depressão

Folha Seca

O Livro Da Capa Amarela

Tempos De Vidro

Cidade De Miranda Do Corvo