Explicando E Flertando Com A Democracia





Convido vocês estimados leitores para uma viagem psicológica, uma abstração metafísica, fujam comigo por um momento de nossa realidade e tentem se situar em um momento, histórico-político, diferente do atual, ou seja, "imagina só", "o que aconteceria se".
Então, fechem os olhos, não melhor não (razões óbvias e uma piadinha infame). Tentem se encaixar em uma época aparentemente tranqüila, em sua cidade, todos estão aparentemente felizes, a cidade está aparentemente segura, com as forças armadas policiais em cada esquina. E você não consegue entender como, bem de vez em quando, sai um boato de algum estudante agitador foi preso por "atentar contra a segurança nacional". Os intelectuais são quase inexistentes em sua cidade. Há uma "moral padronizada", para respeitar os "bons costumes", a família e a ordem pública. Então em um dia normal, como todos os outros (normal certo?), seu caminho para escola foi rotineiro, seus estudos a respeito dos "valores nacionais para o bem de todos", foi exemplar, a comida da cantina estava medíocre como sempre. Quando, em questão de segundos, senta-se a mesa um de seus colegas de classe, o companheiro com um ar um tanto quanto desacreditado, necessitando de um apoio, começa a chorar suas mágoas, contando a história do pai que foi seqüestrado durante a noite por uns homens misteriosos. Você intrigado, vai para casa, e começa a se questionar o que o pobre homem teria feito, quem ele teria ofendido. Indignado, você busca auxiliar seu companheiro, mas simplesmente apoiando-o, indo periodicamente a sua casa, afinal esse é seu papel como amigo. Durante semanas, essa visita fez parte da sua rotina, até criava certo prazer em você ir à casa do atormentado garoto, lá tinha livros que não se encontravam na biblioteca da Escola, revistas vindas de outros países, movido pela curiosidade você lia um ou dois textos, artigos, quando fazia tal visita. Mas No dia seguinte, saindo de casa, sua mãe fala "filho vieram uns homens aqui te procurando", você questiona, mas não obtêm a resposta que desejava. Não dando muita importância, seguindo seu caminho até a casa de seu colega, um carro em baixa velocidade o está acompanhando, olhando pra ele você sente formigar sua nuca, o carro para e saem quatro homens engravatados, uma exatamente igual ao outro. Eles perguntam seu nome, você confirma, perguntam se esta indo à casa de fulano de tal, sua cabeça faz um "sim", então eles pedem para acompanhá-los, sua boca solta um "por quê?", a resposta é "em prol da segurança nacional, temos que fazer umas perguntas", sua indagação foi "podem fazer aqui mesmo, por que tenho que acompanha-los?", adivinhe o que aconteceu com você? Isso! Você foi levado. Entrando em uma sala, um escritório convencional, está sentando a sua frente um oficial do governo, atrás dele as bandeiras de sua cidade, e atrás de você outros dois oficiais. Ele pergunta como está se sentindo, com um leve sorriso naquela cara que parece sorrir cada vez que faz essa pergunta. No decorrer das horas são feitas várias perguntas, umas triviais como "o que você gosta de comer?", outras nem tanto como "o que anda lendo?", são muitas e muitas perguntas, não há padrão nelas, há somente aquela sensação de que a sua vida toda alguém estava ali, vigiando cada passo que você dava. Mencionam sua mãe, seu pai, um pequeno flerte que você teve com a colega de sala atrás do vestiário feminino, cita a importância de cada pessoa para o fortalecimento do Estado, honra o nome de autoridades, e tudo isso durante aproximadamente mil horas que você percebeu pela ausência de luz do ambiente. O sono está te dominando a uns bons 240 minutos, mas não é permitido dormir, há um revezamento dos oficias durante as perguntas. Será que sua mãe estará preocupada? Seu pai envergonhado? Quando souber que você fora tratado como um criminoso. Não há noção de tempo mais, só a vontade desesperadora de dormir, ir pra casa, e deitar-se. Seu pescoço cai, você pesca, eles lhe dão água, só água. E a bateria de perguntas não para. As respostas estão saindo inconscientemente. Quando eles questionam o motivo de você estar visitando você sabe quem, você fala a verdade, não há mais força para reflexão, é "pá pum", a cada questionamento é uma verdade tão limpa e inocente. Ao final da entrevista, eles agradecem o seu auxílio em uma importante investigação, algo como "ameaça internacional contra" (adivinhem) "segurança nacional". Você vai para casa e dorme. Dorme. Só que o que não foi dito é que, o pai de seu amigo era um jornalista que mandava informações, notícias, relatos de todas as atrocidades que a República, o Estado de onde você é parte, fazia contra quem era desfavorável ao governo. Havia somente uma suspeita do envolvimento dele nisso tudo, mas você contou o que viu em sua residência, enquanto seu amigo mostrava os trabalhos de seu pai. No dia seguinte, o homem foi torturado, revelando os meios como a notícia transpassava os muros da cidade, tentou ao máximo resistir para não denunciar seus "comparsas" nesse crime de informação, mas morreu. Com a cabeça em um barril cheio de água e dois fios desencapados nos testículos. E você? Dormiu por muitas e muitas horas. Triste não? Isso não é tão incomum quanto parece, esse tipo de crueldade é típico de regimes Totalitários, regidos por déspotas, militares, as prostitutas ditaduras. Implantadas sempre que há uma fraqueza social ou quando a própria sociedade demanda por medidas extremas. Alguns exemplos para vocês se deliciarem: Venezuela (e olha que lá tem Constituição), a antiga União Soviética (Será? Antiga?), Cuba (viva Fidel! Che!), milhares pequenos estados asiáticos, Myanmar, Brasil (como todos sabem). Não há nada que justifique tais atos baseados no medo e no terror, e na minha mais íntima opinião eu prezo tanto pela Democracia, que arrisco a falar que morreria por ela. Será? Por acaso, você sabe o que é Democracia? A grande salvadora de pobres almas que prezam pela liberdade. O atual Estado Democrático de Direito brasileiro, algum sentido isso faz?
Autor: Pedro Augusto Alves Pereira


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