O Talento Do Interior - Artista Precoce



POR QUE TANTAS FORMAÇÕES EM UM RAPAZ DE APENAS 19 ANOS?

(risos)ah...acho que a inquietação que me acompanha desde sempre é a maior culpada de eu procurar coisas diferenciadas o tempo todo,quando digo diferenciadas digo porque meu trabalho é uma busca por outros ângulos das coisas,peculiarizar os processos e dinamiza-los de maneira alternativa.Além do mais a arte é algo que exige conhecimento e vivenciação,me permito fazer tudo,só assim terei uma superficial noção de caminhos distintos.

COMO TUDO COMEÇOU?

Hum,acho que  eu não me lembro do ponto exato.Desde que me entendo por gente eu me vejo como um instrumento de expressividade.Minha mãe sempre me disse que quando eu era criancinha eu dizia para todos que quando crescesse eu seria artista,paguei pela língua!(risos).Me lembro muito das festas que freqüentava onde eu sempre fazia alguma exibição artística,lembro das apresentações de teatro na escola onde eu sempre pegava aqueles papeis que ninguém dava nada e transformava em algo cômico para que este tivesse um destaque maior.O que sempre busquei não foi fama ou reconhecimento,tinha necessidade de vivenciar isso,de ter um canal onde eu pudesse falar...e isso foi se construindo com o tempo até que resultei nisso,encontro em minha arte uma maneira de não me implodir.

O QUE VEIO PRIMEIRO?

Acho que os esportes.Eu sempre era um desastre nos esportes,por isso me matriculei no SESI Sorocaba,onde fazia muitas modalidades e com isso me apaixonei pelo corpo.No centro de lazer do SESI Sorocaba eu conheci a Telma Tessilla,uma das pessoas mais incríveis que pude conhecer até hoje,muito especial...A tia Telma me dava aulas de Yoga,pilates e Tai-Chi-chuan,ela tinha um grupo de danças folclóricas e brasileiras La no SESI e quando vi o trabalho dela me apaixonei.Como já tinha adquirido uma certa flexibilidade física com a yoga eu fui meio que me enturmando,participava das reuniões do grupo e acompanhava passo a passo a concepção do grupo.Foi isso que me impulsionou a fazer o teste para tentar entrar no Núcleo de artes Cênicas do SESI Sorocaba.Lembro-me do meu teste como se fosse ontem!.

E ESSA EXPERIENCIA COM O NUCLEO DE ARTES CENICAS DO SESI,COMO FOI?

Ah,foi ótimo!Eu não podia reclamar agora,eu estava num espaço onde muitas oportunidades apareciam,eu tinha aulas com o Fernando Castro,um ator e bailarino maravilhosos que sempre fazia propostas de corpo e jogos teatrais fantásticos.Mais o grande culpado de minha paixão por essa coisa de corpo cênico,de utilizar o corpo não só na dança,em conseguir fazer um síntese perfeita foi o Júnior Mosko.Eu admirava muito seu trabalho desde quando assisti Via sacra do inocentes(um trabalho que envolvia dança e teatro com uma poesia impecável),ele era demais,sempre me mostrando que no palco vale tudo,que eu ,juntamente com meu corpo,éramos importantes instrumentos de expressividade,o Junior Mosko me ensinou muito do que eu sei hoje,sempre com seu jeito único de ser ele viu em mim algo que eu não enxergava,a cada aula de corpo que ele ministrava eu podia ver que eu e meu corpo éramos muito mais do que mesmo podia imaginar.Isso foi se aprimorando durante um tempo,porem o que foi o ponto de paixão e amor pela dança foi quando o Junior montou "Retalhos da Memoria",eu pude acompanhar alguns ensaios com os atores,eu assisti a peça exatas 18 vezes,chorava e me emocionava cada vez mais,foi a partir deste momento que eu comecei a me empenhar mais e mais,eu via o Junior Mosko(e vejo até hoje)como um mestre,retalhos era genial,impecável e mostrava o homem numa ótica que o mesmo olhava para si mesmo de um jeito único.Eu enchia o saco do Junior enchendo ele de questões sempre,toda semana estava eu la perguntando algo,querendo saber mais e mais e ele sempre me ajudou.

E SUA SAÍDA DO TEATRO FOI MOTIVADA POR QUE?

Na verdade eu mesmo via que era muito difícil trabalhar com alguns integrantes do meu grupo,não que eles estivessem errados,na verdade eu era o estranho ali.Eu já não queria usar só a palavra,só o verbo vocal para me expressar,sentia necessidade de falar com meu corpo,com minha alma e isso refletiu em toda minha vida pessoal e profissional.Muitos falavam que era para mim fazer dança,que la era teatro,porem pra mim as coisas são muito interligadas.Então eu saí na paz,não briguei com ninguém,vi que eu era minoria e que precisava me jogar no universo da dança de vez,claro que fiquei muito triste pois fiz amigos muito especiais no período que estive lá,amigos que mantenho contato até hoje.O que me entristecia era que não faria mais as aulas de corpo do Junior Mosko.Nosso ultimo contato foi em meio ao curta dança que eu consegui fazer uma oficina com a Lu Favoreto graças ao Junior que me encaixou nas aulas.Quando estava me desligando eu estava em inicio de minhas pesquisas que procuravam vestígios da dança do Denilto Gomes,como sempre Junior me ajudou e me orientou sobre quais os melhores caminhos que eram melhores a serem tomados em minha até então recente e inexperiente carreira  de pesquisador.Então o pássaro teve que sair do ninho para aprender a voar.Sinto muitas saudades de tudo até hoje,o SESI foi meu berço e é uma importante instituição que forma e transforma seres humanos em artistas  ricos em cultura e oportunidades,tudo que sou hoje devo ao SESI,ao Junior Mosko e a Telma Tessilla que foram importantes mestres para mim.

VOCE MENCIONOU SOBRE ESSA PESQUISA QUE BUSCA VESTIGIOS ARTISTICOS DO DENILTO GOMES,COMO SURGIU O INTERESSE PELA CARREIRA DO DENILTO?

Eu lembro do Denilto muito pouco,assisti apenas uma vez um trabalho seu,eu era muito pequeno,eu tinha primas que eram fãs do trabalho dele foi assim que eu vi fotos e me integrei da arte desse poeta.Me lembro que estava na casa de minhas primas no falecimento do Denilto,me lembro que era o dia do meu aniversário (17 de abril) elas estavam tristes porque receberam a noticia do falecimento dele por um amigos delas.Então vi que tinha uma necessidade muito grande em saber mais sobre este artista.Vi alguns vídeos e fotos de suas criações e das criações de Janice Vieira.Muitos conhecidos me falavam muito da Janice e eu comecei a pesquisar seus trabalhos também,achei um tema para essa minha pesquisa,que visava a carreira da Andréia Nhur e o que refletia do Denilto e da Janice na sua formação artística.Daí pra frente foram tempos de pesquisa,livros,internet,entrevistas e ajuda de importantes nomes da dança de Sorocaba como Ismênia Rogich e Dóris Rodrigues (ambas formadas com Janice),isso em certificou e me ilustrou de como a dança podia e era muito mais do que meros movimentos coreografados em tempos de 7 e 8.

E AS AULAS DE DANÇA,VOCÊ COMEÇOU A FAZER?

Eu nunca gostei de fazer aulas de técnica,ate hoje as faço para tentar manter um condicionamento físico juntamente com as aulas de yoga que faço ate hoje.Tento ao Maximo não levar nada da técnica coreográfica das modalidades que faço para o meu processo criativo pois acho  que isso o deixaria artificial,o meu negocio é trabalhar com as possibilidades que já estão embutidas no corpo,pois assim as emoções são mais fieis ao agente expressivo.Eu faço aulas até hoje com a Rosana Benatti que faz minhas aulas de dança experimental,a gente troca experiências,é ótimo e isso me deu uma ótica ainda mais impressionante do processo "dançar".Eu sempre fiz alguma atividade física pra manter o fôlego e o corpo em ordem,vejo a dança de técnica como um método de educação corporal,mais meu lance é a dança experimental mesmo,eu sigo a lei de que não importa o que você faça e sim a maneira como você faz,prefiro uma perna que não esteja 100% estendida  mais que me fale algo do que um lápis de perna super alongada porem que não tem fidelidade com a emoção corporal daquele ser.Minhas aulas são todas de consciência corporal,elas trabalham e condicionam o individuo por dentro e por fora.

VOCÊ COMENTOU SOBRE SUAS AULAS.COMO FOI ESSA NOVA EXPERIENCIA DE SER PROFESSOR DE ARTES CORPORAIS?

Eu tive a idéia quando estava fazendo o curso técnico de enfermagem.Eu tinha uma disciplina de psiquiatria que pregava a importância da expressão do homem,isso me inquietou e pesquisei muito sobre o assunto,descobri uma pratica denominada dançaterapia,que trabalha improvisação de contato e coreosofia.Eu adaptei a dança aos meus conhecimentos adquiridos nas minhas experiências com as artes,criei meu próprio método de terapia corporal,minha dançaterapia.Então eu conheci uma terceira mestra:Tia Dóris Rodrigues,que tem uma escola educacional de dança que trabalha a democratização da dança.Tia Dóris comprou  minha idéia e todo meu projeto,me deu espaço para ministrar a modalidade na escola educacional Isadora Duncan.No inicio assustei um pouco a galera que estava acostumada apenas com o 7 e 8 frenético da dança,mais com o tempo eles conseguiram absorver de maneira satisfatória meus ensinamentos.Montamos um espetáculo e todos nos surpreendemos.

VOCE É HOJE O COREOGRAFO E DIRETOR MAIS NOVO DE SOROCBA E REGIÃO,COMO SE SENTE POR ISSO?

Me sinto realizado pois isso prova que força de vontade não tem idade,sempre fui exigente,as vezes até carrasco demais comigo mesmo e isso resultou nessa minha precocidade,quandp revelo que tenho 19 anos muita gente se espanta,as vezes  me subestimam até devido a pouca idade,mais daí provo para essas pessoas que arte não tem idade,acho que estava no lugar certo da hora certa,tive aulas com os mestres certos e isso não foi por acaso.Coreografei e dirigi "Leucotomia,um documentário corporal" com umas bailarinas da escola que dou aula,foi um processo belo e árduo,isso me mostrou que é necessário muito empenho e força de vontade para se fazer arte,pois nós artistas damos murro na ponta de faca muitas vezes.Ter este posto de artista precoce me estima a honrar o posto e mostrar que nem todo jovem vive apenas em balada,computador e tecnologia,eu mesmo as acho que tenho 300 anos pois gosto de coisa antiga,de raízes e de criações mais peculiares.

COMO É O PRECONCEITO NA DANÇA NA SUA OPINIÃO COMO HOMEM?

Isso é coisa da cabeça de quem dança,a dança não tem sexo,tem emoção e sempre prego isso.Meu maior preconceito foi com certos bailarinos  e coreógrafos que me criticavam por eu não dançar nos eixos do 7 e 8,eu sempre tenho essa dificuldade.É incrível que uma arte que já tem décadas ainda seja muitas vezes criticada pelos amantes do clássico.Também tive e tenho preconceito por introduzir técnicas cênicas e muita expressão facial em minhas criações,a galera do teatro as vezes me alfineta e diz que não me defino,mais eu me defino sim...me defino como indefinido,pois quem  se conceitua se limita.Minha arte não tem regras,ela é singela e sincera,não admito que ninguém interfira nela pois são as minhas emoções e acho que ninguém tem o direito de questionar o que sinto.

QUAIS SÃO SEUS PLANOS PARA O FUTURO?

Como já disse estou em processo de criação com algumas pessoas da escola que dou aula.Atualmente estamos  tentando  levar para os palcos o espetáculo Leucotomia.Tenho projetos na gaveta que faltam de espaço para serem mostrados.Sorocaba tem 600 mil habitantes  e um teatro.É muita carência de espaço.Outra coisa que me dificulta é que tenho de fazer tudo,pois hoje não tenho mais acesso a um superior,tenho de resolver os pepinos sozinho,sou eu quem cuida desde a direção até do organização de convites...faço absolutamente tudo e isso as vezes me desgasta,aos poucos estou  conseguindo montar uma equipe satisfatória para me auxiliar.Digo que meus planos são os de crescer e tentar disseminar cultura e arte pra esse povo.

 

Ismael é hoje uma das maiores promessas da dança experimental em Sorocaba e região.Com um corpo diferenciado dos eixos dessa arte,ele consegue unir tudo e simplificar num movimento singelo e sincero como o mesmo diz.Atualmente é professor na escola educacional de dança Isadora Duncan em Sorocaba –SP.Nascido em 17/04/1989 aos 19 anos possui uma inteligência e intelecto diferenciados dos demais jovens de sua idade.

Mariana Munhoz

Colunista do tablóide "espaço,corpo e saúde"


Autor: mariana munhoz


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