Economia verde, uma urgência inadiável
Diante dos problemas ambientais e da ganancia desmedida, do egoísmo obsceno, das ações demagógicas e cínicas, é preciso repensar a economia e remodelar seus métodos para que o ecossistema possa ser preservado de modo que a vida também seja. De nada adianta defender um sistema econômico predatório e assassino, se agirmos em defesa desse tipo de economia, estamos nos comportando como suicidas. Faz-se necessário a urgência de uma economia verde de fato.
A alegação descabida de que já existe uma pratica econômica voltada para a preservação do meio ambiente natural ou o que restou dele não condiz com a realidade, pois os sistemas econômicos continuam com suas velhas teorias de produção e lucro vestindo roupagem verde para disfarçar suas ações predatórias. Alegar que um sistema econômico não comporta as ideias ecológicas é não compreender ou não querer compreender o que é um sistema econômico.
Grosso modo, um sistema econômico é um sistema de produção, distribuição do que se produz com fins lucrativos. Para que um sistema econômico possa ser chamado como tal precisa de um estoque de fatores (reservas naturais, recursos humanos, capital, capacidade tecnológica e empresarial), de agentes econômicos (sociedade familiar, empresas e governos) e de instituições (jurídicas, politicas, sociais). Sendo assim o que falta é apenas interesse dos agentes econômicos e das instituições governamentais e não governamentais para utilizar os estoques de fatores para a melhoria da qualidade de vida e não para o crescimento econômico exclusivamente. Qualidade de vida não é possível com o esgotamento dos recursos naturais ou a extinção da vida, mas é possível com o reconhecimento do direito a existência das espécies animais e vegetais e com a manutenção da vida por tempos indeterminados.
Os sistemas econômicos são arranjos historicamente constituídos, desse modo é o momento histórico que faz a economia e não o contrario. Se observarmos a efervescência da economia durante o mercantilismo e durante a industrialização, perceberemos que os sistemas daqueles períodos correspondiam às expectativas de sua época. Não podemos querer esses mesmos sistemas econômicos nos dias atuais em que existe uma urgência ambiental e não uma urgência exploratória da natureza para suprir as expectativas especuladoras da riqueza e consumistas. O próprio consumo é um processo historicamente determinado pelos sistemas econômicos, o que nos conduz a entender que esse hábito é condicionado e pode ser moldado de acordo com as situações históricas. Só não acontece com vistas à manutenção do meio ambiente por falta de responsabilidade e competências dos agentes econômicos e do complexo de instituições. Capra (2007, Pp. 181-182) entende que "Os sistemas econômicos estão em continua mudança e evolução, dependendo dos igualmente mutáveis sistemas ecológicos e sociais em que estão implantados." Desse modo quem determina os sistemas econômicos é a sociedade e o momento ecológico, e não os sistemas econômicos que determinam a sociedade e o momento ecológico, pois se assim fosse não haveria sistema econômico sendo que eles só existem por uma necessidade humana. É inadmissível entender os sistemas econômicos como elementos independentes da existência humana, quando são eles dependentes da existência humana, isto é, eles servem aos seres humanos e não os seres humanos a eles como se os sistemas econômicos fossem deuses no olimpo brincando com a existência de cada mortal.
O ser humano é o principal agente transformador do seu meio social, assim como o criador desse fenômeno chamado sociedade. Fenômeno que evolui de acordo com as mudanças em seu sistema de valores morais, ético e econômico. Sendo os sistemas econômicos resultado da vontade aplicada do ser humano, eles também serão alcançados pela evolução, assim quando a sociedade evolui com ela os sistemas econômicos também evoluem. Capra (2007, p.182) diz que "A evolução de uma sociedade, inclusive a evolução do seu sistema econômico, está intimamente ligado a mudanças no sistema de valores que serve de base a todas as suas manifestações." Desse modo, as mudanças no sistema de valores é a base que sustentará a evolução da sociedade e do sistema econômico que ela adota como mais adequado para seu momento histórico. Por valor entendemos o que são morais e éticos, bem como os atributos que fornecem aos bens materiais qualidades econômicas. Esses bens materiais tem valor de uso e valor de troca, sendo que para eles existirem é necessário matéria-prima, trabalho aplicado e comercialização. A natureza em toda sua extensão é o celeiro de onde se retira a matéria-prima necessária para que algo seja objeto que visa satisfazer necessidades de qualquer ordem e de troca comercial. Esse celeiro já deus mostras de esgotamento e de urgência de reavaliação dos métodos utilizados para o aproveitamento dos seus recursos, e assim não podemos entendê-lo apenas pelo seu valor venal, é preciso entender seu valor humano e ecológico. Valor humano, arrisco-me a definir, como valor que tem a vida e o direito de viver, e valor ecológico o que respeita a dinâmica dos ecossistemas. Ecossistemas que são interações entre todos os seres vivos. Talvez, esse entendimento não esteja acontecendo porque os responsáveis pela aplicação de certo sistema econômico temem uma "onda" partidária que pretende tomar o poder para si ou se favorecer de modo a ameaçar o monopólio do poder. Quando os movimentos ecologistas nada mais pretendem que conscientizar o ser humano do poder destrutivo e das possibilidades de "salvar" o que é natural para "salvar" da extinção o próprio ser humano. Vesentini entende que a crise ambiental é um fato global que precisa de uma nova organização politica e até socioeconômica que esteja disposta a minimizar os problemas ambientais, mas entende também que isso incomoda e até causa falsas impressões sobre os movimentos ecológicos que reivindicam vida para o planeta e para os seres vivos que nele habitam.
"Uma constatação se impôs: os movimentos ecológicos não lograram 'tomar o poder' em lugar nenhum ( e nunca se propuseram a isso, a bem da verdade), mas conseguiram ampliar sensivelmente o tom verde nos demais partidos políticos ou movimentos sociais. A penetração da 'consciência ecológica' na opinião publica em geral foi marcante, fato que levou quase que todas as tendencias politicas a flertarem (com maior ou menor severidade, ou às vezes nenhuma, mas a retorica mudou) com preocupações ecologistas." (VESENTINI. 1989, Pp. 39 ? 40)
Mesmo a contra gosto os temas ecológicos chegaram à ordem do dia por causa da opinião publica que manifestaram suas preocupações correspondentes as dos ecologistas. O que "os donos do mundo" fazem é se comportarem como esquizofrênicos que se vê perseguidos de um perigoso monstro que pretende tirar tudo deles para deixá-los na total desgraça ou, se comportam como pessoas perseguidas por uma conspiração que pretende força-los a desagradarem seus correligionários e amigos que exploram o ecossistema para fazerem suas contas bancarias se elevarem a níveis astronômicos; na maioria das vezes fazem vista grossa a emergência ambiental, ecológica, por serem tão ruminantes quanto os que eles conservam em pastos verdes de imensas áreas de terras desmatadas.
Se a opinião publica já despertou para a necessidade e a urgência de uma mudança no que se refere à questão "valor", não existe razão para a manutenção de um sistema econômico predatório e excludente, onde umas minorias em salas de portas fechadas decidem o que é melhor para o planeta. Se a justificativa dessa minoria é agradar os especuladores financeiros e as grandes empresas transnacionais, então mais urgente se faz as reivindicações para a implementação e implantação de um sistema econômico "verde". Reavaliar se o preço do que consideramos tendo valor é a vida como um todo é uma tarefa que diz respeito a todos. O objeto que tem valor precisa está em acordo com o contexto ecológico.
"A reavaliação da economia não é uma tarefa meramente intelectual, mas deverá envolver profundas mudanças no nosso sistema de valores (?). Definir riqueza dentro de um contexto ecológico significará transcender suas atuais conotações de acumulação material e conferir-lhe o sentido mais amplo de enriquecimento humano." (CAPRA. 2007, p. 222)
Elevar acima do banal os problemas ambientais e as possibilidades reais de mudança, que devem ultrapassar os limites das experiências já banalizadas de conceituação do que é riqueza material, é está repensando o acumulo de riqueza em consenso com o contexto ambiental. Se é possível! É imprescindível. Uma economia "verde", não extingue o acumulo de riqueza e a liberdade econômica tão valorizada pelo capitalismo, ela redireciona os meios pelos quais se pode produzir, comercializar e manter a acumulação de riqueza sem destruir o ecossistema. Não existe uma tentativa de tomada do poder nas urgências ambientais, nos movimentos ecológicos, nas manifestações ecologistas, o que existe é a tentativa de alertar sobre os problemas e propor soluções viáveis para a amenização dos problemas.
O ecossistema necessita de manutenção, pois seus desiquilíbrios já demonstraram não serem prazerosos para o ser humano que se tornou consumistas pelo prazer de consumir. O consumir é um ato prazeroso enquanto que os prejuízos ambientais do consumo desenfreado que é incentivado por um sistema econômico predatório é causador de sofrimento.
Enquanto objeto de consumo, um produto fornece prazer para quem consume no mesmo ritmo da oferta, não obtê-lo é motivo de "sofrimento". Jeovons diz que (1996, p.69) "devemos entender por bem qualquer objeto, substância, ação ou serviço que é capaz de proporcionar prazer ou afastar sofrimento (?). Tudo o que é capaz de gerar prazer ou evitar sofrimento pode possuir utilidade." Se por um lado a exploração indiscriminada do meio ambiente é necessário para a manutenção de um sistema econômico destruidor que introduziu o consumismo como regra nas sociedades modernas, essas mesmas sociedades modernas que se comportam como irracionais precisam entender a utilidade de manter a vida existindo como útil e prazeroso por fornecer condições de vida sem sofrimento.
A utilidade está na percepção do objeto como necessário ou indispensável para a satisfação, Jeovons (Pp. 72 ? 73) entende que "(?) a utilidade, apesar de ser uma qualidade das coisas, não é uma qualidade inerente. Define-se melhor como uma circunstância das coisas que surge da relação destas com as exigências do homem." Desse modo, as circunstancias são importantes para definir o que é ou não útil, sendo que a utilidade está relacionada à satisfação. Diante da necessidade de sobrevivência o ser humano ver-se numa constante busca de prazer como meio de evitar sofrimento. Os sofrimentos advêm das ameaças provenientes das possibilidades do colapso ambientais, que podem ser mais reais e percebidos com a amplificação do esgotamento dos recursos naturais, da emergência de medidas econômicas que favoreçam a produção sem o esgotamento do meio ambiente.
O mundo atual passa por um colapso ambiental, isso é uma circunstância histórica que pode se prolongar ou ser amenizada com ações politicas e econômicas, não é possível salvar a Terra apenas com algumas dúzias de ambientalistas e ecologistas gritando por justiça verdadeira e comprometida com a vida. É preciso a participação de todos os seres humanos que habitam o planeta Terra, pois diante de tantos problemas a impressão que temos é que muitos seres humanos entendem o planeta Terra como um planeta estrangeiro em que problemas ambientais estão acontecendo apenas no quintal dos que estão comprometidos com a agressão e a pena de morte que está sendo imposta pelo atual sistema econômico predatório, ou seja, o problema é do meu vizinho quando na verdade não há fronteia nenhuma separando os efeitos da destruição do meio ambiente de quem acredita ingenuamente está fora do alcance das consequências dessa destruição ambiental.
Referencias bibliográficas
CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação. Trad. Álvaro Cabral. 28ª ed. São Paulo: Cultrix, 2007.
JEVONS, W. Stanley. A teoria da economia politica. Trad. Cláudia Laversveiler de Morais. São Paulo: Nova Cultural, 1996. (Os economistas)
VESENTINI, José William. Geografia, natureza e sociedade. São Paulo: Contexto, 1989. (Coleção repensando a geografia)
Autor: Chardes Bispo Oliveira
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