Yorubás e Bantos: primeiras "Civilizações"
Ora, se a África Subsaariana é o berço da humanidade, seria óbvio ser também o berço das primeiras "civilizações".
A historiografia, ainda eurocentrica, não aponta, nem mesmo em hipóteses, que os povos da África Subsaariana tiveram o mesmo tipo de organização, em torno de importantes rios como os rios Níger, Ògúm, Obá, Osum, Erinlé ¹ e outros. Em torno desses rios, assim como no Crescente Fértil (Nilo, Tigre e Eufrates), surgiram Cidades-Estado, práticas escravistas, comércio, domínio de metais, governos teocráticos e outras características que marcaram o desenvolvimento de povos como os Yorubás e os Bantos. Povos esses que dominavam uma extensa região no centro-oeste africano.
Na área do conhecimento esses povos também se destacaram. O domínio e desenvolvimento da matemática, tão associados aos povos do mediterrâneo como egípcios e gregos, já se manisfestava com alto grau de profundidade na numerologia que permeia toda a religiosidade Yorubá, por exemplo. A criação de uma complexa mitologia que agrega valores éticos, filosóficos, morais, políticos e sociais das tradições antigas, também associadas aos gregos, é comum, e talvez anterior, nos povos africanos. O conhecimento dos quatro elementos básicos a vida na terra (terra, água, fogo e ar) também já era utilizado pelos Yorubás em sua extensa rede de conhecimento. A botânica e suas aplicações medicinais e místicas é outro fator que demonstra o alto grau de desenvolvimento desses povos, que são reconhecidos apenas como ex-escravos, inferiores e selvagens.
Os estudos de intelectuais como Costa e Silva, Pierre Verger, Roger Bastide, Nina Rodrigues e outros, não especificam tal questão, mas apontam características culturais, hipóteses cronológicas que contextualizam e apontam inúmeros dados e características que colocam os povos Bantos, Jejes, Yorubás e outros ( com destaque para o Yorubás) nesse contexto de primeiras civilizações, como são considerados os Egípcios, Persas, Hebreus, Gregos, e outros.
Considerando a escrita como marco divisório entre Pré-História e História, esses povos não se encaixariam. Mas se observarmos por outro ponto de vista podemos perceber o quão forte eram tais tradições. A cultura Hebraica disseminada e preservada pelo Antigo Testamento sobreviveu e dominou parte do mundo através das grandes Instituições religiosas que ainda mantém seu poder. Tal cultura religiosa hebraica é garantida pelo conhecimento escrito armazenado e preservado. Além do que as grandes instituições sempre estiveram associadas aos processos políticos e econômicos dos países, o que justifica e explica a força de sua permanência.
Por outro lado a cultura religiosa Yorubá, por exemplo, sofreu e sofre uma intensa perseguição e opressão tanto na Africa quanto no Brasil. A expansão Islâmica, iniciada no século VII d.C. na África, suprimiu grande parte dos cultos locais, restando poucos povos que mantém a tradição.
No Brasil, os mais de 400 anos de escravidão e o posterior processo de exclusão, preconceito e repressão das tradições africanas conspiraram para extinguir a religião dos Orixás. Mas não conseguiram. Mesmo não sendo garantida pela cultura letrada, nem livros ou mesmo instituições com uma fração do poder das instituições cristãs, o culto aos Orixás e toda a cultura religiosa em torno dele se mantém. A cultura religiosa e os próprios ritos do culto aos Orixás permanecem vivos, no Brasil e na África, em diferentes graus e manifestações, sendo as tradições Yorubás as mais preservadas, ou melhor, menos sincretizadas com tradições cristãs.
Desse modo temos que reconhecer a importância dos Povos da África Subsaariana para a humanidade. Mais ainda, o ensino de História do Brasil deveria dar esse destaque pois muito dos Bantos e Yorubás ainda sobrevive em nossa cultura popular e nos Candomblés de Nação, assim como em outras manifestações religiosas afrobrasileiras.
1- Muitos Orixás cultuados no Brasil são também nomes de rios em regiões de onde vieram seu culto, porém com diferentes pronúncias;
Autor: Alan Geraldo Myleô
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