A prostituta



A PROSTITUTA
Nazaré, 28-09-1974

Pobres mulheres.
Mulheres da madrugada
Que alugam-se por um nada.

Entra um homem no quarto,
Passa meia hora
Espancando a pobre mulher,
Parte-lhe a boca por um nada
E, por fim vai embora
Pagando-lhe um nada
Ou nada pagando-lhe.

Ela nada reclama
Com medo de apanhar.
Monstros! Monstros miseráveis.
Essas pobres mulheres
Que vendem seu corpo por um nada
Não são bichos, não.
É apenas uma classe
Repelida pela burguesia.
É uma classe marginalizada,
Que só é procurada
Quando dela se precisa.
É uma das classes exploradas
Impiedosamente
Pelos monstros da madrugada.

Elas são trabalhadoras.
O trabalho começa
Quando o sol se põe.
O trabalho termina
Quando o sol se recompõe.
E assim sucessivamente,

Até morrerem tuberculosas,
Sifilíticas ou assassinadas.
Tal qual a sua sina.

Mulheres sofredoras!
Porque a podre sociedade
Vos elimina de seu seio,
Se o seio da sociedade
É bem mais podre e fétido
Que a vossa vida?

Que fazer contra a sociedade
Se a maioria é contra vocês?
Que fazer a favor de vocês
Se a maioria é a favor da sociedade?
Se a sociedade é contra todos?
Se ninguém é contra a sociedade?

Neste caso eu afirmo:
A sociedade das prostitutas
É bem mais clara e honesta
Que as prostitutas da sociedade.


Autor: Gilberto Nogueira De Oliveira


Artigos Relacionados


Prostitutas...

Mulheres

Breve Conversa Com A Socieade

Violência Doméstica Uma Desigualdade Real

Marx, Foucault E O Poder

Criatura

Mas Ela É Minha