O Discurso E A Prática Do Ensino Da Língua Portuguesa Através Da Produção De Textos, No Curso De Letras



1. Exploração da Oralidade.

Ao longo do processo de trabalho devem ser utilizadas formas diferenciadas para explorar a oralidade e suas representações e acompanhamento do seu uso na sociedade, por isso, é necessário adequar esses usos e formas orais e escritos, apropriando-se de recursos da comunicação, preparando-se desde já para entender o aprender como processo, a partir do início da sua aquisição.

As relações sociais que a universidade permite aos novos profissionais, pela apropriação dos conhecimentos lingüísticos e percepção da presença do outro nessas relações, são responsáveis pelo aprender/ensinar como processo de trabalho, através do uso da língua na sociedade. Por isso, é fundamental o entendimento das diversidades, antes mesmo de um estagiário deparar-se com a heterogeneidade do saber lingüístico de uma classe, porque essas relações sociais são apropriadas histórica e geograficamente, mediante um longo processo de internalização de princípios e formação conceitual. Esse entendimento do processo de formação e evolução do conhecimento lingüístico é importante para a compreensão da produção de textos, permitindo um posicionamento crítico em face dos processos de apropriação da língua que têm gerado as concepções de linguagem.

É nessa perspectiva que se coloca a Língua Portuguesa (L.P.) atualmente, revalorizando o seu ensino no currículo, voltado para a realidade do ler, interpretar, escrever e analisar, de forma crítica e comprometida com a sociedade, tal como ele se apresenta conflitante e contraditório, mas contribuindo, de algum modo, para a transformação.

2. Produção textual

Diante do que exponho como preocupação de estudo/ensino da L.P., é que uma metodologia voltada para o ensino da Produção de Texto adquire uma dimensão fundamental no currículo do curso de Letras, visto que poderá proporcionar um ensino com uma postura crítica diante da realidade, comprometida com o homem e a sociedade; não com um homem abstrato, mas com o homem concreto formador da sociedade real, verdadeira.

Com a pretensão de alcançar a compreensão da dimensão político-social da educação e de suas relações com os métodos e técnicas utilizados em sala de aula, cabe à L.P./Produção de Textos, iniciar o aluno em um método sistemático de análise e síntese do saber, construído historicamente, através do desenvolvimento do raciocínio lógico-lingüístico.

Tanto esse domínio quanto o desenvolvimento da consciência crítica são objetivos que devem ser alcançados com a inserção da Produção de Textos como disciplina regular e autônoma, a ser ministrada nos dois primeiros anos no curso de Letras. No 1º ano, com o núcleo básico de conteúdo centrado na tipologia textual e, no 2º ano, continuando com as dimensões de análise dos tipos de textos e acrescentando uma parte específica de metodologia de ensino de textos para os ciclos iniciais do Ensino Fundamental, em torno do estudo da aquisição da escrita.

Como a proposta interdisciplinar de Produção de Textos, parte significativa neste trabalho, destina-se ao 1º ano de todos os cursos, o de Letras está incluído, visto que já existe L.P. I (Revisão Gramatical) no 1º ano desse curso, para o que sugiro explorar um estudo de gramática conjugado ao trabalho de Produção Textual, com base em problemas reais dos textos dos alunos. Assim, todos os cursos, incluindo Letras, muito ganharão se partirem de um estudo comum a todos, na perspectiva de textos; e no 2º ano só o curso de Letras continuaria com essa preocupação sistemática de aprofundar-se em diferentes abordagens de estudo de textos. A diferença está no modo de explorar essa gramática que, no ensino pela tipologização de textos, vai exigir um trabalho articulado de gramática textual e lingüística textual, sem priorizar só normas ou só descrição, mas enfatizando todos os princípios lingüísticos internalizados pelo falante/escritor.

Para que o professor explore no ensino essa gramática internalizada, o curso de Letras precisa exercitá-la com seus futuros alunos, não só nos aspectos teóricos, mas levando em consideração alguns critérios práticos:

1 - Construção de conceitos para compreensão dos elementos caracterizadores da língua, como texto e gramática;
2 - Articulação com as variantes lingüísticas da vivência do aluno;
3 - Relação com o processo de formação lingüística, isto é, com o caráter histórico da língua, no sentido de perceber as transformações sociais ocorridas com os avanços tecnológicos e sua importância na caracterização da abrangência da L.P.;
4 - Compreensão da língua em sua dinâmica própria, no que diz respeito às articulações entre os elementos que a compõe, dentro de uma perspectiva sócio-interacionista;
5 - Preocupação com a relação entre sujeito e língua, encarando os elementos que compõem o meio lingüístico como necessário ao trabalho humano;
6 - Compreensão da vida em sociedade, evitando a divisão prematura das relações entre língua, tempo e sociedade.


O desenvolvimento do raciocínio lingüístico, nessa concepção, deve ser gradativo, a partir da pré-escola e desenvolvido ao longo das séries. Mas, para isso é preciso que o novo profissional de Letras, nessa nova escola, aprenda a observar as fases das linguagens vividas, linguagens percebidas e linguagens concebidas, de forma progressiva e articulada, de modo que ele mesmo possa operar os conceitos necessários, fazendo com segurança a passagem do concreto para o abstrato.

Assim entendida, a L.P. de uma disciplina de conceitos gramaticais, cujo apelo se restringe à capacidade de memória dos estudantes, converte-se numa ciência dinâmica, viva, plena de desafios para alunos e professores, compondo área vital de conhecimento científico e de formação do cidadão político, com vez e voz em diversas situações e diferentes manifestações.

Para isso, o trabalho do futuro professor da geração do novo milênio, deve visar uma construção de conhecimento com base na observação e análise crítica da realidade, desde a sua preparação e não só depois de qualificado, de modo que haja ligação entre os objetivos (reais) e a metodologia (de fato) realmente pretendida.

O como trabalhar as questões da língua é o ponto fundamental para dar início à valorização do seu estudo. E este, em termos práticos, é um grande desafio para a universidade. Se ao acadêmico de Letras cabe agora, também, mais uma incumbência em relação ao ensino pré-escolar e fundamental, é preciso encontrar formas alternativas para a produção de recursos didáticos, bem como decidir a melhor maneira de utilizá-los.Vejo, ainda, a necessidade de mais tempo na preparação do aluno de Letras (graduação) para proceder à análise crítica dos diversos livros didáticos e conteúdos do Ensino Fundamental e Ensino Médio, adquirindo assim condições para uma atuação profissional mais segura e competente.

Mesmo que se trate de um aluno de Letras que ingressa na universidade, necessitando rever noções básicas da língua, não vale aqui ignorar esse fato com o argumento de que isso já poderia ter sido feito no 2º grau.

É preciso que se faça algo, proporcionando a esse aluno mais oportunidades de leitura e escrita, tendo em vista que ele é o profissional emergente responsável pelo preparo de futuros leitores/escritores, possivelmente por processos mais complexos, envolvendo critérios da subjetividade, da diversidade, da contradição e da criação. Portanto, é a esse profissional que caberá o desafio de enfrentar situações inesperadas em termos de linguagens, tendo em vista os avanços da Tecnologia e a complexidade da sociedade atual que já anuncia mais inovações para o futuro.
Autor: Djalmira Sá Almeida


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