O Troca Palavra



Quem nunca brincou ou não viu alguém brincar de troca-letra? Pois o Pedro Mariano foi o criador do troca-palavra. Era só ele tomar uns goles na venda do Sebastião Bezerra que a mente invertia tudo. A frase que mais gostava de dizer era: "eu mato o pau e mostro a cobra". Outra jóia sua para mostrar coragem: "sou um homem prevenido, por isso carrego sempre a bunda na "gibeira" da garrucha. Se alguém der um tiro num amigo meu, eu pum! Pum! Dois atrás!" Com isso ele queria dizer que trazia sempre sua arma no bolso traseiro da calça e que estava sempre pronto para defender um amigo em alguma enrascada. Bezerra não acreditava muito que essa coisa de trocar palavra era natural. Achava que era intencional, para aparecer, ou mais ainda, para se safar das cagadas que fazia sempre que estava bêbado. Até que um dia o próprio Bezerra foi vítima de uma delas. 

Naquela tarde Pedro Mariano chegou à venda montado na melhor égua de seu plantel, fez as compras da semana, deixou num cantinho perto do balcão e começou a beber. Bebeu a tarde toda e quando já estava bem chapado e trocando as palavras de tudo que dizia, os amigos o aconselharam a ir embora, antes que a noite chegasse e tornasse perigosa sua volta ao sítio. Atendendo aos conselhos, ele pediu mais uma garrafa de cachaça, colocou-a debaixo do braço e, cambaleando, tentava pegar as sacolas com as compras. Dona Lurdes, esposa do Sebastião Bezerra, vendo a dificuldade do freguês, resolveu ajudá-lo no transporte dos pacotes até ao dorso do animal. A freguesia, curiosa e a fim de ver o tombo do Pedro ao montar a égua, saiu toda para fora da venda e ficou a observar. Todas as compras foram acomodadas no arreio, menos a cachaça, que Pedro teimava em manter presa à axila enquanto tentava montar. Dona Lurdes, querendo evitar um acidente por embriagues tentava convencê-lo a deixá-la segurar a garrafa até que ele montasse. Resistindo, disse a ela:

- Preocupa não, minha égua, vou amarrar a garrafa na garupa da dona Lurdes e chegar a espora!

A platéia botequeira caiu na risada, atiçando a raiva do Bezerra, que partiu pra cima do Pedro.

- É hoje que eu conserto a língua desse safado. Com minha mulher ele não vai zoar. Ah, num vai mesmo! 

A turma do deixa disso entrou em ação, mas não conseguiu evitar que pelo menos um tapa de mão aberta atingisse o ouvido do Pedro. O segundo não acertou o alvo porque o Antõi Pica conseguiu segurar o braço do Bezerra e arrastar Pedro mariano que, além da tontura, ficou com um baita zumbido na cabeça.

Depois do episódio Pedro Mariano, sabendo que não conseguiria parar com o troca-palavra, pra não correr mais riscos preferiu trocar também de boteco. Passou a ser freguês da venda do Vespasiano. Todo sábado está lá firme, bebendo e trocando uns dedos de prosa com os amigos. Trocando prosa e palavra
Autor: Antonísio Siqueira Borges


Artigos Relacionados


A Explicação Para Os Sonhos

O Cemitério Dos Passarinhos

Homenagem Ao Amigo

ZÉ Pedro E CecÍlia: Uma PaixÃo Secreta

A Cabana - Força Do Perdão

O Amor

Eu Fui