A Economia Brasileira em Marcha Forçada.
A Economia Brasileira em Marcha Forçada
Antonio Barros de Castro e Francisco Eduardo Pires de Souza
Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1985
O livro "A Economia Brasileira em Marcha Forçada" compõe-se de três capítulos, dos quais tratar-se á do primeiro, que relata "Ajustamento x Transformação ? A economia brasileira de 1974 a 1984", no qual o autor Antônio Barros de Castro enfatiza a transformação estrutural que o Brasil sofreu para enfrentar os problemas resultantes do alto crescimento e do grande volume de importações que levou a economia ao colapso.
No ano de 1982, o Brasil chegou ao auge de uma crise que se desenhava desde a crise do "Milagre econômico", em 1974, na qual a necessidade de matéria-prima, petróleo e máquinas iam além da capacidade de importar. Após a segunda metade da década de 70, se de um lado tinha-se o crescimento acelerado e a necessidade de importar cada vez mais, de outro o Brasil ia acumulando problemas, que resultaram no endividamento externo, déficit na Balança Comercial e saldo negativo nas reservas líquidas internacionais. Desse modo, entre os anos de 1983-1984, o país precisava encontrar meios de reverter este quadro e consolidar-se no mercado externo e assim, uma das principais medidas adotadas foi conter as importações, que entre os anos de 82 e 84, apresentou uma queda considerável de 33%.
À violenta queda nas importações, soma-se outras medidas adotadas pelo governo, como a contenção dos déficits públicos por meio da elevação da carga tributária, restrição ao crédito bancário, mudanças na política salarial e ainda alta nos preços de derivados de petróleo, que juntamente com matérias-primas, em 1982 representavam 78% das importações. Essas medidas, associadas com o desenvolvimento de alguns setores como de metais não-ferrosos e siderurgia, que reduziram ainda mais as importações, levaram a Balança Comercial a um superávit de US$ 13 bilhões em 1984. Neste mesmo ano, com a contenção de alguns problemas e com capital e mão de obra disponível, o país já podia retomar o crescimento.
Para entender o contexto histórico que levou a economia brasileira ao colapso, é necessário retomar a história e identificar pontos cruciais que deram esse rumo ao país. Assim, nos parágrafos seguintes far-se-á um levantamento sobre os anos que antecederam a década de 80 e nos quais foram tomadas as decisões que mais influenciaram a economia posteriormente.
O Brasil, em 1974, em virtude do crescimento explosivo do valor das importações, chegou a um déficit comercial de US$ 9,9 bilhões, que resultou em um desarranjo de grandes proporções nas contas externas. A economia encontrava-se em um momento delicado e necessitava de medidas de contenção para não aprofundar a crise, como faziam outros países desenvolvidos. O governo que assumiu, entretanto, optou pelo crescimento por meio do endividamento, buscando recursos no exterior para manter a economia aquecida e assim adiar o ajustamento econômico que veio a ocorrer na década seguinte, acumulando inúmeros problemas.
Iniciou-se assim o II Plano Nacional de Desenvolvimento, o PND II, por meio do qual o governo busca o crescimento do mercado, promovendo o desenvolvimento em meio à crise e respondendo ao estrangulamento externo através da reestruturação do aparelho produtivo, ou seja, voltando a produção a bens de capital e insumos básicos, como energia e alimentos. Os blocos de investimento anunciando pelo II PND eram a médio e longo prazos e assim esperava-se que a maioria dos projetos se concretizassem entre 2 e 3 anos, mas outros, como os relativos às fontes básicas de energia, podiam levar até uma década para serem concluídos. Apesar de nos anos subseqüentes, mais especificamente em 1976, o plano encontrar-se ofuscado e sofrendo inúmeras críticas, o governo manteve-se na busca por seus objetivos, que em grande parte foram alcançados.
As estratégias adotadas em 1974, que visavam frear as importações, desacelerar o crescimento da economia e ajustar os relacionamentos de intercâmbio se refletiram em 1977, quando a economia se estabilizou e as transações comerciais se equilibraram. Porém, no momento que alcançava a esperada estabilidade, o país foi afetado pelo segundo choque do petróleo, que fez o valor das importações de combustíveis líquidos saltar de US$ 4 bilhões para US$10 bilhões entre 1981 e 1982, causando uma explosão nas taxas de juros e aumentando assim as contas externas. A queda da capacidade de importar requeria uma resposta do país, que deveria vir por meio do acréscimo de medidas ao PND II, para reduzir o consumo de combustíveis, aumentar as exportações e principalmente substituir e reduzir importações.
Em meio a estes problemas, em 1979, Delfim Netto volta como Ministro do Planejamento, que, ao mesmo tempo em que não admitia a recessão, definia estratégias para levar o país "de volta à economia de mercado". O ministro afirmou que o que faltou ao país foi um tratamento de choque em 1973, pois o Brasil passou a consumir muito além do que sua capacidade permitia, o que resultou em um aumento nas taxas de juros e déficit nas transações correntes. Assim, em 1981, Delfim Netto voltou-se a um plano de ajustamento que proporcionou um considerável aumento na poupança interna, alinhou os preços relativos entre vários setores, eliminou os subsídios e reduziu a intervenção do governo na economia. Essa ultima conseqüência positiva permitia ceder mais espaço às empresas privadas, para assim reduzir investimentos estatais e a economia não ficar tão dependente do governo. O plano de ajustamento obteve sucesso e assim, o sistema reprodutivo retomou sua marcha, acompanhado da queda nos níveis de desemprego.
Em 1980, a economia brasileira consolidava-se por meio da independência em alguns setores, colocando as exportações bem a frente das importações, o que comprovava que as medidas adotadas no PND II que visavam fortalecer a substituição de importações, ou seja, produzir internamente ao invés de importar, principalmente máquinas e equipamentos envolvidos nos programas de insumos básicos e bens de capital, traziam resultados.
Analisando-se este período, percebe-se que as medidas adotadas pelo governo trouxeram bons resultados. O país optou por um ajustamento tardio, ou seja, não provocou uma recessão como meio de lidar com a adversidade externa e assim atendia ao mercado interno oferecendo produtos nacionais. O avanço da produtividade interna se refletiu como uma melhoria da "competitividade externa", pois ao mesmo tempo que reduzia as importações pela metade, o Brasil consolidava-se como forte concorrente no mercado externo. Neste período, o PIB apresentou um crescimento de 4,5% acompanhado de um desenvolvimento da indústria nacional de 7% e de uma freada de 7% nas importações.
A economia brasileira, ao longo dos anos, passou por vários processos de mutações. Entre 1948 e 1973, o país apresentou um processo industrial um tanto rápido, mas que não se refletiu numa estrutura industrial completa e moderna. Apesar de alguns setores receberem altos investimentos, nem sempre se obtinha o retorno desejado. Diferente disso, no fim da década de 70 e inicio da década de 80, a indústria respondia aos investimentos proporcionando maior desenvolvimento interno e crescimento no mercado externo, e tornando o mercado de consumo brasileiro independente das importações.
A marcha forçada que iniciou-se em 1974 submeteu a economia e a industria brasileira à uma série de transformações que vieram a consolidar-se no início dos anos 80, nos quais a indústria brasileira já possuía uma estrutura sólida suficiente para a produção em diferentes setores e assim tinha capacidade de atender a demanda interna de praticamente todas as classes sociais brasileiras, inclusive as mais altas, e levar ao mercado externo produtos mais sofisticados, inclusive automóveis produzidos em indústrias nacionais.
De forma geral, percebe-se que a economia brasileira teve muitos altos e baixos e que a estratégia adotada em 74 se confirmou como uma medida que influenciou a economia brasileira pro muitos anos. Altos níveis de crescimento se alternavam com aumento da dívida externa e déficits na balança comercial, mas o crescimento em meio à crise e retenção do mercado externo permitiu ao Brasil se desenvolver internamente, para ser mais independente das importações e participar do mercado externo, competindo com outras economias globais.
Autor: Joana Sander
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