A coisa tá feia ou do jeito que o diabo gosta?



A coisa tá feia ou do jeito que o diabo gosta? Quem gosta de música sertaneja, com certeza se recorda de duas músicas de Tião Carreiro e Pardinho: "O mundo no avesso" e "A coisa tá feia". Aqueles que não as conhecem vale a pena fazer um esforço para ouví-las, entre outros motivos por causa de seus refrões, ou parte deles. Em "O mundo no avesso" a parte que nos interessa diz: "do jeito que o diabo gosta, tá do jeito que o diabo quer". E em "A coisa tá feia" o refrão "A coisa tá feia, a coisa ta preta... Quem não for filho de Deus, tá na unha do capeta". Se alguém estiver interessado e não tem o CD, mas tem acesso à internet, procure que vai encontrar. Encontrará não só a letra, como vídeos da execução da música em gravação original dos anos 1980. Mas estou chamando a atenção para esses dois refrões, não só pelo valor melódico da música, nem só pela "análise de conjuntura" feita pelos "reis do pagode", mas para discutir outra questão. É que também está na internet e muita gente já viu um vídeo em que a professora Amanda Gurgel, do Rio Grande do Norte, passa uma "descompostura" nos deputados e na secretária da educação do seu Estado. Mas não estou chamando a atenção para o que disse a Amanda em relação ao seu Estado, mas porque suas palavras refletem a realidade de todo o Brasil e, consequentemente, do nosso estado também. Ela começa dizendo que não é para os deputados se sentirem constrangidos diante da comparação do salário dela, professora, com o salário deles, deputados. E lhes pergunta se eles conseguiriam "sobreviver e manter o padrão de vida, com este salário" (que no caso dela é de 930 reais). Só isso já seria um "tapa na cara" de todos aqueles que arrotam discursos sobre a importância do processo educacional, em nosso país. A professora vai além. Diz que "só quem está em sala de aula pode falar com propriedade sobre isso. Fora isso, qualquer consideração que seja feita é para mascarar uma verdade que é visível para todo mundo: o fato de que em nenhum governo, em nenhum momento, em nossa cidade, em nosso estado ou de nosso país, a educação foi uma prioridade". A veracidade de sua afirmação pode ser comprovada entre outros aspectos, pelos baixos salários pagos aos professores, pelos baixos níveis de aprendisagem dos alunos, pelos baixíssimos resultados obtidos por nosso país em ranques mundiais. Por isso e muito mais a professora está coberta de razão. Prefeitos, governadores e presidentes, passando pelos vereadores, deputados e senadores, só tem a educação como algo prioritário em seus discursos eleitoreiros. Fora issso é só conversa fiada. É conversa inapropriada, como afirmou a professora, pois só fala com propriedade quem está do lado de dentro: só quem está em sala de aula! Por isso a professora considera como um absusdo ? pois de fato é isso mesmo ? o fato das autoridades estarem banalizando o processo escolar. E, o que é pior, querem que os professores salvem o país, salvem a educação, salvem as crianças e jovens... e não são só as autoridades. Qualquer instituição, por aí, inventa um delírio qualquer, destinado a crianças e jovens e joga para dentro dos muros escolares, para que os professores "deem um jeito", ou nas palavras da professora: "estão me colocando numa sala de aula superlotada e me dão um quadro e um giz e querem que eu salve o Brasil". E o triste da história é que quando um professor diz que seu salário é insuficiente, deputados e outros bichos do gênero, aumentam seus vencimentos de forma abusiva. Pode até ser que façam dentro da legalidade, mas o fazem imoralmente! Triste, também, é o fato de existir tanta legislação dando amplos direitos aos alunos, contra os professores, mas não vermos na mesma medida o ministério público fiscalizar, por exemplo, os esgotos a céu aberto, nas escolas; triste é ver que o conselho tutelar vive à caça (como quem caça bruxas) de professores que precisam falar alto para exigir condições de trabalho, mas não fiscaliza o fato do poder publico ser omisso na contratação de professores; triste é ver que muitos pais relapsos não educam seus filhos, mas querem que os professores os tratam como anjinhos. Triste é ver que existe uma legislação obrigando todas as crianças a frequentarem a escola, mas não vermos a mesma exigência em relação aos que tumultuam o processo escolar, impedindo que professores e alunos se dediquem ao ensno aprendizagem; triste é ver que por omissão de órgãos "competentes" os professores sejam obrigados a perder mais tempo chamando a atenção de dois ou três alunos bandidos do que ensinando aquilo que os demais querem aprender mas que não podem por que os bandidos em sala de aula não permitem. Por essas e por muito mais é que Tião Carreiro e Pardinho estão certos em dizer que "A coisa tá feia, a coisa tá preta". Pior ainda, a coisa "tá do jeito que o diabo quer"... mas querem responsabilizar o professor pela obra do demo... Neri de Paula Carneiro ? Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador. Leia mais: ; ; ; ;
Autor: Neri P. Carneiro


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