DESENVOLVIMENTO DA PESSOA HUMANA: Construindo caminhos na Economia Popular Solidária



Introdução


A Economia Solidária emerge em um contexto em que a maior parte da humanidade sobrevive em condições de pobreza e exclusão e social, decorrentes de uma economia dominada pelo capital. No Brasil tais experiências ressurgem, a partir da crise econômica da década de 80, resgatando antigas utopias exercitadas desde o início do capitalismo pelos trabalhadores: a autogestão, o cooperativismo de trabalho. O mapeamento da economia solidária no Brasil identificou, até agosto de 2007, a existência de quase 22 mil Empreendimentos Econômicos Solidários (EES) no país, com cerca de um milhão e setecentos mil homens e mulheres que realizam uma extensa variedade e expressiva quantidade de produtos e serviços.
Não se trata apenas de experiencias isoladas, como afirma Arruda (2003) "Trata-se da construção de redes não hierarquizadas de relações econômicas e humanas que têm como valor central o homo, seu trabalho, seu saber socialmente acumulado, sua criatividade, e como objetivo a resposta às necessidades materiais e imateriais de cada pessoa e coletividade de forma justa e sustentável". São práticas fundadas em relações de colaboração solidária, inspiradas por novos valores culturais que colocam o ser humano, e não o capital e sua acumulação, como sujeito e finalidade da atividade econômica.
Sendo o ser humano, em todas as suas dimensões, a finalidade da Economia Solidária, como a mesma, enquanto modo de organização da produção e do poder, afeta o desenvolvimento dos sujeitos nela envolvidos? Neste sentido, um aspecto relevante deste trabalho é compreender como as pessoas inseridas neste processo, aprendem e apreendem das suas experiências e vivências, para a sua auto-realização e enquanto coletivo.
Nestas organizações autogestionárias e democráticas, cada pessoa vem assumindo o papel e a responsabilidade de ser sujeito do processo de fazer-se sujeito, na medida em que são responsáveis pela gestão do empreendimento e pela dinâmica de relações socioeconômicas justas, colaborativas e solidárias.
Há uma nova consciência político-social a partir da agregação de processos democráticos, formativos e informativos decorrentes das organizações dos empreendimentos econômicos solidários? Para Arruda (2009), o desenvolvimento humano só é viável se vinculado à construção de uma democracia integral e esta é o único meio ambiente apropriado para o empoderamento pessoal e coletivo. Este processo começa pela afirmação de que cada um e todos os cidadãos e cidadãs têm o potencial de tornarem-se sujeitos do seu próprio desenvolvimento, enquanto pessoa e coletividade.
Este trabalho resulta de uma pesquisa sobre a produção dos sujeitos nos processos de trabalho no interior dos empreendimentos econômicos solidários, na região Norte de Minas, no ano de 2009 e tem como objetivo refletir e analisar o desenvolvimento da pessoa humana no interior dos empreendimentos econômicos solidários ? EES, em uma perspectiva que, a Economia Solidária não se restringe às lutas econômicas pela sobrevivência, mas se estende ao projeto de emancipação social e humana.
A pesquisa de Campo foi realizada em oito Empreendimentos Economicos Solidários, urbanos e rurais, da região Norte de Minas. Foi observado um conjunto de práticas dos processos de gestão, entendida como um fenômeno multidimensional que ultrapassa a noção de gerência, abrangendo aspectos políticos, técnicos, psicossociais. Neste sentido, as abordagens de campo buscaram perceber o perfil dos entrevistados e as mudanças ocorridas em suas vidas, depois da inserção na economia solidárias, em relação aos aspectos: relação com a comunidade, relaçoes de trabalho, vida pessoal e visão de sociedade. Também foram observadas as práticas cotidianas de autogestão do empreendimento.
O embasamento teórico buscou articular algumas idéias que considera o trabalho como atividade vital, que torna possível a existência e a reprodução da vida humana, com questões sobre os processos educativos emancipatórios como eixos de compreensão das possibilidades da economia solidária no processo de desenvolvimento humano.

2. A emancipação do humano no trabalho autogestionado

Em um sentido oposto aos princípios da Economia Solidária, a sociedade capitalista, segundo Marx , aliena o trabalhador do produto de seu trabalho; coloca-o como concorrente daqueles com quem partilha interesses e, em conseqüência, aliena-o de seus pares; enquanto o agricultor percebe imediatamente o sentido de seu trabalho (extrair da natureza seus meios de subsistência), o trabalhador da indústria é despossuído do sentido do seu trabalho; enfim, a divisão do trabalho despoja o trabalhador de sua própria humanidade. O trabalho "aliena do homem seu próprio corpo, mas também a natureza externa, sua vida mental e sua vida humana". O trabalho vai perdendo toda a aparência de manifestação pessoal e apenas através da apropriação de uma totalidade de instrumentos de produção, ou de forças produtivas, é que o homem pode alcançar a manifestação pessoal, ou seja, através da superação da alienação, da formação onilateral tanto dos limites quanto da universalidade dos instrumentos de produção apropriados pelo trabalhador, através da criação das potencialidades humanas pelo próprio homem, no trabalho.
São vários os processos educativos no interior das organizações de produção autogestionária que apontam uma mudança na produção-formação de seres humanos, de trabalhadores. A Economia Popular Solidária abre possibilidades para a construção de novas relações sociais e de trabalho, que podem resultar em uma nova cultura de trabalho, em novas subjetividades. "Sendo os trabalhadores os "patrões" de si mesmos, o trabalho pode ganhar possibilidade de dar um salto de qualidade ? qualidade na sua relação com a comunidade, como também no que diz respeito ao próprio processo de trabalho". (Lia V. Tiriba, 2001)
Os dispositivos de formação e comunicação na economia solidária são inteiramente consagrados às trocas de experiências e saberes, às práticas participativas. Essas experiências têm como princípios geradores de sua ética, os valores de boa convivência humana entre si e com o ambiente, superando aqueles de concentração de lucro e hedonismo consumista característicos do capitalismo contemporâneo.
Mudar o modo de trabalhar é avançar no processo emancipatório, é a própria heterotopia - lugar da deslocação - proposta por Boaventura Santos (2002). É deslocar o âmago daquilo que desejamos, um dia, nos tornar.
Conforme Arruda (2009),
"a educação para uma economia solidária expressa uma concepção de mundo de um crescente coletivo de homens e mulheres que entende que o sistema capitalista não é eterno e que os seres humanos, como lembra o historiador Eric Hobsbawm, não foram feitos para viver sob seu jugo. Homens e mulheres que cultivam a força e a herança históricas da luta daqueles que, desde os primórdios da humanidade, buscam superar as relações de classe que cindem e mutilam o gênero humano. Homens e mulheres que cultivam e buscam construir cotidianamente a utopia de relações sociais e educativas de cooperação e solidariedade".
Para o autor, os seres humanos concretos são os sujeitos, ponto de partida e de chegada dos processos educativos mediadores da formação do ser humano integral. É na relação permanente entre pensamento, reflexão, análise e ação que se materializa uma práxis formadora de sujeitos políticos coletivos e solidários produtores de novas relações humano-sociais.
Estas novas relações humano-sociais têm lugar primordial na prática da autogestão na economia solidária, definida como o conjunto de práticas que propicia a autonomia de um coletivo responsável pela concepção e decisões dos processos de gestão. Estas decisões deverão dar-se no coletivo, discutindo-se em grupo quais são as ações prioritárias. Os integrantes constroem de maneira coletiva o procedimento de trabalho, todos participam do processo de decisão, vivencia o direito a democracia, a liberdade, além disso, tem como objetivo enfrentar as necessidades de subsistência e sobrevivência, exigindo dos seus membros uma ação participativa.
Para Fonseca, 1994, se uma nova ordem de organização e relações de trabalho é projetada na realidade do mundo, ela o é igualmente na realidade psíquica. Isto incide em novos modelos de instancias intra-subjetivas, produzindo os modos de relações humanas, os modos como se trabalha, como se é ensinado, como se ama, como se fala. Ela fabrica a relação do homem com o mundo e consigo mesmo. Para além de produtos, bens e serviços.
Nesta direção que iremos verificar, na prática, como os membros dos empreendimentos econômicos solidários vivenciam estas novas relações e como os mesmos percebem as transformações ocorridas na sua vida pessoal, nas suas relações de trabalho, nas relações com a comunidade. Como passam a ver a sociedade depois do ingresso no empreendimento econômico solidário e no próprio movimento de economia solidária, enquanto movimento social.

3. Resultados e discussões

3.1. Empreendimentos Econômicos Solidários pesquisados:

Nome do Empreendimento Atividade Econômica Localização Nº de pessoas
Padaria Solidária "Sabor Caseiro" Biscoitos, bolos, doces Pedra Preta
7
Cozinha Bem Servir Refeições Montes Claros 09
Padaria Semear Biscoitos, bolos, doces Montes Claros 07
Lanche Bem Bombons e bolos Montes Claros 08
Casa de Costura com Arte Confecções em geral, bordados, pedrarias e artesanato Montes Claros 05
Polpa de Frutas da "Caatinga" Polpas e sucos Jaíba
10

Ração "Tanque" Ração animal Porteirinha
10

"Essências do Cerrado" Remédios naturais Claro dos Poções
14

Fonte: Pesquisa: "A produção dos sujeitos do trabalho nos processos de formação e qualificação nos Empreendimentos Econômicos Solidários da ITCP? UNIMONTES/FAPEMIG ? 2009


Os integrantes dos EES pesquisados, na sua maioria são mulheres. 94,5% dos 37 entrevistados são mulheres. A expressividade das mulheres no campo da economia solidária, (des)contrói a idéia assimilada socialmente da superioridade masculina nas atividades laborais geradoras de renda. Como diz Vianna (1999), "As condições masculinas e femininas são, portanto, frutos de uma constante construção histórica marcada por muitas formas de apropriação ? individual e coletiva ? dos significados masculinos e femininos presentes na sociedade". As vivências mais igualitárias, o exercício da sociabilidade, da autogestão, de ocupar cargos podem representar novas subjetivações do trabalho feminino.
Quanto à faixa etária, constata-se que apesar do desemprego ser um fenômeno que atinge a todas as faixas de idade economicamente ativas, fica visível que os jovens em situação de primeiro emprego e adultos depois dos 40 anos de idade, predominam nos empreendimentos economicos solidários pesquisados. 29,7% e 48,7%, respectivamente, entre os entrevistados. Entre os entrevistados constata-se a predominancia de adultos com mais de 40 anos. A frequencia de jovens na faixa etária de 15 a 18 anos trata-se de dois EES formados apenas por jovens desta faixa etária.
Constata-se também, que entre os solteiros e casados há uma certo equilíbrio, empatando em 43,2%. Porém isto se dá pelo fato de entre os empreendimentos economicos solidários, pesquisados, dois são formados exclusivamente de jovens até os 18 anos e com número maior de integrantes.
Este perfil dos entrevistados não difere muito da realidade dos próprios empreendimentos Economicos Solidários (EES) da Região Norte de Minas que se configura no quadro de empreendimentos econômicos solidários mapeados pela SENAES , com 209 EES.

3.2. Conceito de Empreendimento Econômico Solidário

Os Empreendimentos Economicos Solidarios - EES são caracterizados pela autogestão e pela socialização dos meios de produção e distribuição. São cooperativas de produção, consumo, comercialização, crédito, etc., onde não há separação entre capital e trabalho. São propriedades dos próprios trabalhadores, que gerenciam e administram o empreendimento com democracia e igualdade de direitos na tomada de decisões. Estes, requerem o desenvolvimento de uma nova racionalidade econômica que é identificada pelo nível de acumulação e crescimento, investimentos, estabilidade mínima e chances de viabilidade alcançados. As manifestações ocorridas destas experiencias tem demonstrado vários fatores de viabilidade e eficiencia como: cooperação no trabalho, informações e conhecimentos compartilhados, integração funcional e desenvolvimento pessoal dos integrantes, enquanto sujeitos.
Conforme o Termo de Referência do Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária foram considerados como empreendimentos da economia solidária as organizações que possuam as seguintes características:
a) organizações coletivas (associações, cooperativas, empresas autogestionárias, grupos de produção, clubes de trocas etc.), suprafamiliares, cujos sócios são trabalhadores urbanos e rurais. Os que trabalham no empreendimento devem ser, na sua quase totalidade, proprietários ou coproprietários, exercendo a gestão coletiva das atividades e da alocação dos seus resultados;
b) as atividades econômicas devem ser permanentes ou principais, ou seja, a "razão de ser" da organização;
c) organizações que podem dispor ou não de registro legal, prevalecendo a existência real ou a vida regular da organização.
Em síntese, EES pode ser definido como organização coletiva, de geração de trabalho e renda, regidas por princípios de autogestão, democracia e cooperação.


3.3. Do pessoal ao social ? mudanças nas relações

Perguntamos a cada entrevistado sobre quais mudanças ele percebia na sua relação com a comunidade, no trabalho, na vida pessoal, e na visão de sociedade a partir do período que iniciou a sua participação na economia popular solidária e no empreendimento.
Relações com a comunidade - Foi unânime as respostas que demonstram um maior entrosamento com a comunidade e um sentimento de pertença a mesma. Algumas respostas demonstram também a satisfação de ser reconhecida pelos moradores depois de iniciar a sua participação no empreendimento. Junto a isto, percebe-se um anseio de maior comunicação, de repassar os conhecimentos adquiridos nos processos de formação e informação no movimento de economia solidária. Uma das entrevistadas manifestou a preocupação com a qualidade dos serviços prestados à comunidade e com o preço justo.
Relações no Trabalho ? A partir das respostas, percebe-se que para a maioria a produção melhorou porque um ajuda o outro e até incentiva; aumentou a confiança no próprio trabalho; mudou as técnicas de trabalho; aprendeu novas técnicas; maior valorização da alimentação natural e do remédio caseiro; passou a pesquisar sobre o próprio trabalho; aprendeu a produção com próprio grupo; pegou mais prática.
Na vida pessoal ? Para os entrevistados, a experiencia no EES ajudou a compreender mais o outro; ter mais paciencia; aprendeu a ter diálogo; melhorou a saúde; é mais feliz; ficou mais falante; "parece que fiquei mais inteligente"; sente igual a todos; mais capacitada; mais alegria; melhorou a convivencia social; repasso o que aprende para a família; pensa mais no coletivo; viver em grupo; mais conhecimentos; mais amigos; mudou o meu modo de pensar sobre mim mesma.
Visão de sociedade ? Os entrevistados respondem que acreditam numa sociedade que procura contribuir em prol de todos; antes achava a sociedade injusta, mas hoje pensa que todo mundo da força e apoia o grupo; a sociedade tem procurado ajudar mais as pessoas, pois estão sempre procurando fazer projetos para ajudar os outros; passou a preocupar mais com os outros; aprendeu a reciclar e a preocupar com o meio ambiente; aprendeu a ser mais consciente politicamente e cobrar os direitos; mais conhecimento da realidade da sociedade; não podemos ficar parados; mais participativa; enxerga o mundo de outra forma; discute assuntos que passam na sociedade.
Neste conjunto de respostas, destacamos que a visão de sociedade, para alguns, ainda é algo distante ou que pertence àqueles que podem fazer algo pelos "pobres".Talvez as organizações de assessoria e apoio e o governo. Ele ainda não se sente incluido enquanto sujeito da mudança, mas ainda se sente um beneficiário da ação social "do outro". Podemos partir do pressuposto que cada pessoa envolvida tem particularidades e que o tempo de cada um é diferente. Há diferentes estágios de mudanças entre os envolvidos na economia solidária.
Ao se sentir bem quando é visto e reconhecido na comunidade, ele se sente "gente" e membro da comunidade. O seu interesse pelos problemas comunitários e da sociedade pode significar um processo de emancipação da visão individualista ou de vítima, de "coitadinhos" que dependem da caridade do outro.
No geral, podemos observar que as mudanças ou a forma como os entrevistados se colocam, tem um significado extremamente positivo naquilo que consideramos como processo de desenvolvimento humano ou de emancipação da pessoa humana.
No campo da organização e gestão do empreendimento, observou-se que os papéis são distribuídos de acordo com as habilidades de cada um, no entanto, percebe-se que estão abertos a aprenderem um com o outro, mesmo achando que não dá conta de determinados serviços. Alguns dizem que foi no empreendimento que aprendeu a fazer o trabalho exigido dentro da atividade especifa do EES. Nota-se aí um dos aspectos da solidariedade proposta pela economia solidária, ou seja, a pessoa não precisa ter experiencia comprovada na carteira e nem certificados. Mas existe uma preocupação geral com o produto final como responsabilidade de todos.
Quanto á prestação de contas, todos os recibos e notas são anexados em caderno (livro caixa) onde todos sabem das despesas e receitas e sobras do empreendimento. Porém, os trabalhadores envolvidos nos empreendimentos economicos sentem dificuldades na gestão do empreendimento, porque nunca tiveram antes contato com uma organização de trabalho em que eles são autores de todos os processos. Demonstram muita dificuldade com planejamentos financeiros, projeções decompra, produção e vendas, mas sabem distinguir receitas e despesas.
Uma questão importante é que os níveis de desenvolvimento de cada empreendimento e de seus componentes são diferenciados em relação ao sentimento de propriedade e controle sobre os frutos do próprio trabalho, sobre a determinação do quê, como e por quê produzir determinado produto. Muitos não sabem explicar ou acham que somente alguns do grupo sabem explicar.

4. Conclusões

O processo de conscientização político-social, como aspecto do desenvolvimento humano ou da pessoa humana envolvida na economia solidária, vem se construindo a partir da agregação das experiências concretas dos sujeitos no fazer cotidiano dos empreendimentos econômicos solidários e na participação dos mesmos em atividades formativas e informativas decorrentes da própria organização da economia solidária em fóruns, incubadoras e outros espaços. Percebe-se que neste conjunto de situações, as pessoas, membros dos empreendimentos econômicos solidários, se apropriam de tipos de comportamentos adequados à proposta de Economia Solidária e de informações diversas, desenvolvendo conhecimentos sobre si mesmo, sobre o trabalho, sobre a sociedade, sobre a comunidade, criando consistência e identidade de grupo.
Ao mesmo tempo, percebe-se que o discurso dos sujeitos sociais, da economia solidária, estabelece o vínculo entre aquilo que é e aquilo que se pretende que seja, pois sua ação resulta diretamente da leitura que tal sujeito coletivo realiza sobre a realidade. Esta leitura está, é claro, condicionada pela realidade, isto é, produz-se por uma relação dialética.
Conforme discussão anterior, a Economia Solidária tem como objetivo romper com a lógica excludente e buscar a emancipação social. Segundo Gaiger (1999) no momento que as pessoas integram-se nela as preocupações que antes eram apenas com a sobrevivência assumem novos contornos, pois desenvolvem outros comportamentos sociais e pessoais no âmbito do trabalho, das relações com a comunidade e com a sociedade. A isto, consideramos também como desenvolvimento humano.
Fica claro nas respostas dos entrevistados sobre como os mesmos percebem as mudanças ocorridas em suas vidas, o sentido da interdependência positiva. Esta interdependência é definida como a consciência que todos do grupo desenvolvem de ter necessidade uns dos outros para realizar o objetivo ou o projeto comum. Diversos meios são usados para estabelecer uma interdependência positiva no interior dos grupos, como dividir tarefas e responsabilidades de maneira rotativa e estimular a ajuda mútua durante a realização dessas tarefas. O mesmo se promove entre os grupos.
De alguma forma, a economia solidária está construindo caminhos para o desenvolvimento humano, ao incentivar os sujeitos na conquista da autonomia e da autogestão no pensar e no agir, enquanto indivíduo e coletividade. Conforme Arruda, 2009, contribuindo na construção de sujeitos conscientes e ativos de sua própria evolução e desenvolvimento, da sua própria história e devir.
O trabalho emancipado é aquele que liberta o ser humano para aquele desenvolvimento, que vai muito além da sobrevivencia, mas para a construção de uma democracia integral onde os participantes desta prática a partir do empoderamento de novos conceitos, são sujeitos de um novo modelo de desenvolvimento.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARRUDA, Marcos. Educação para uma economia do amor: educação da práxis e economia solidária. 1ª Ed. Idéias & Letras, São Paulo: SP, 2009.

ARRUDA, Marcos. Humanizar o infra-humano. A formação do ser humano integral: Homo evolutivo, práxis e economia solidária. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003

ARROYO, González Miguel. Revendo os vínculos entre trabalho e educação: elementos materiais da formação humana. In. SILVA, Tomaz Tadeu. Trabalho, educação e prática social. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991.

ARROYO, João Cláudio Tupinambá. Economia Popular e Solidaria: A alavanca para um desenvolvimento sustentável. São Paulo: Editora Fundação Perseu abramo, 2006

FONSECA, Tânia Mara Galli. Trabalho e Subjetividade. In: Educação, subjetividade e poder. V. 1 (jan./jun, 1994). Porto Alegre: Núcleo de Estudos sobre subjetividade, poder e educação, UFRGS: Editora UNIJUÍ, 1994.

GAIGER, L. I. Significados e tendências da economia solidária. Sindicalismo e Economia Solidária. dez.1999.

_________. A recente ressurreição da economia solidária no Brasil. In SANTOS, Boaventura de Sousa (org). Produzir para viver. Os caminhos da produção não capitalista. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2002.

GAIGER, Luis Inácio. Empreendimentos Solidários: uma alternativa para a economia popular? In: Formas de combate e resistência à pobreza. São Leopoldo: Ed. UNISINO. 1996.

LARANJEIRA, Sonia M. G. Classes e Movimentos Sociais na América Latina: Questões para debate. São Paulo: Hucitec, 1990.

TIRIBA, Lia. Uma nova cultura do trabalho. In: Gaudêncio Frigotto. (Org.). Petrópolis: Vozes, 1998.

LECHAT, Noëlle. A economia Solidária no Brasil Formação de um Novo Protagonista Sociopolítico, o Trabalhador Associado. In: BALSA, Casimiro (org.) et al. Conceitos e dimensões da pobreza e da exclusão social: uma abordagem transnacional. Ed. Unijuí, coleção método e teorias, 2006.

MANACORDA, M. A. Marx e a Pedagogia Moderna. São Paulo: Cortez, Autores Associados, 1991.

MANETTI, Dione. Autogestão e economia solidária. In: Revista de Economia Solidária. Economia, solidariedade, e gestão: a auto ? organização do trabalho no Brasil Ano 1 n° 0 Dezembro de 2005.

SANTOS, Boaventura de Sousa (org). Produzir para viver. Os caminhos da produção não capitalista. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira (2002).

SINGER, Paul Historia. In. Introdução à Economia Solidária. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2003.

¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬____________, Economia Solidária: um modo de produção e distribuição. In. SINGER, Paul e SOUZA, André Ricardo (orgs.). Economia Solidária no Brasil: Autogestão como resposta ao desemprego. São Paulo: contexto, 2000.

SOUZA, André Ricardo. Economia Solidária: um movimento nascente da crise do trabalho. In: Uma outra economia é possível. São Paulo: Contexto 2003.

TIRIBA, Lia. Da Economia Popular de Solidariedade a uma nova economia do Trabalho. In. Economia Popular e Cultura do Trabalho: pedagogia(s) da produção associada. Ijuí: Ed. UNIJUÍ, 2001.

VIANNA, Claudia. Os nós do nós: crise e perspectivas da ação coletiva docente em São Paulo, São Paulo, Xamã, 1999.

YAZBEK, Maria Carmelita. Classes Subalternas e assistência social - 4° edição ? São Paulo: Cortez, 2003.









Autor: Edina Souza Ramos Mendes


Artigos Relacionados


Economia Solidária Como Forma De Sobreviver à Exclusão Do Mercado Capitalista

A Intervenção Social Da Pastoral Operária E A Construção Da Economia Popular Solidária

Economia Solidária

Empreendimentos EconÔmicos SolidÁrios Como Objeto Da AÇÃo Governamental: Um Estudo ExploratÓrio No TerritÓrio Brasileiro

Pesquisa Aponta Que Mais De 14 Mil Empresas Praticam Comércio Justo

A Relação Entre O Capitalismo, Economia Solidária E Ambientalismo

Pontos Fortes Ou Fortalezas Dos Empreendimentos