Documentos digitais: técnicas de preservação e garantia de autenticidade



1 INTRODUÇÃO
Atualmente, cada vez mais as instituições dependem da informação digital que produzem, por isso, torna-se importantíssimo a implementação de técnicas e de políticas tecnológicas de preservação que garantirão a perenidade e a acessibilidade a este tipo de informação que está em outro suporte que não o tradicional papel. Dessa forma, entende-se que a preservação digital representa o conjunto de atividades ou processos responsáveis por garantir o acesso continuado a longo-prazo à informação e ao patrimônio cultural existente em formatos digitais.
2 RESENHA DA OBRA
Os dados bibliográficos são: Título Introdução à preservação digital ? Conceitos, estratégias e atuais consensos, Autor Miguel Ferreira, Ano 2006, ISBN 972-8692-30-7 e 978-972-8692-30-8, Editora Escola de Engenharia da Universidade do Minho, Local: Guimarães - Portugal, Capa de Miguel Ferreira, Suporte: Edição eletrônica, Dimensões de impressão A: 297mm, L: 210mm (A4), Revisão científica: Ana Alice Baptista (Universidade do Minho), Cristina Ribeiro (Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto), Francisco Barbedo (Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo), José Carlos Ramalho (Universidade do Minho), Paulo Cortez (Universidade do Minho), Idioma é o Português.
O livro tem como foco principal as principais novidades da preservação digital internacional. Inicialmente, o autor conceitua objeto digital e preservação digital e faz comentários sobre a compreensão que se tem e enquadramento das diferentes estratégias de preservação. Sobre preservação a longo-prazo, há uma norma internacional como modelo de referência a OAIS (Open Archival Information System) que identifica componentes funcionais e objetos de informação presentes num sistema de arquivo. Há, também, as principais estratégias de preservação, iniciativas realizadas sobre diretórios de formatos que são propostas pela comunidade científica.
O livro fala sobre autenticidade, salientando a importância do conceito de propriedade significativa na elaboração de políticas de preservação. Essa obra salienta sobre a necessidade da utilização de meta-informação como meio para assegurar a autenticidade dos materiais custodiados, dando especial ênfase ao Dicionário de Dados PREMIS. Além disso, esse trabalho apresenta um método que permite avaliar e comparar diferentes estratégias de preservação.
O foco narrativo do texto é sobre preservação e longevidade do material digital, pois ele carrega consigo um problema estrutural que coloca em risco a longevidade das informações digitais. Ele leva em conta que o documento digital pode ter várias cópias sem perder a qualidade. Mas, por haver a dependência tecnológica cada vez mais necessária, ela torna o documento digital também vulnerável à rápida obsolescência a que a tecnologia sempre apresenta apesar de agregar novas formas de demonstração.
Os principais capítulos são divididos em assuntos como: as principais estratégias de preservação digital que se subdivide em seções sobre preservação de tecnologia, refrescamento, emulação, migração / conversão, migração para suportes analógicos, atualização de versões, conversão para formatos concorrentes, normalização, migração a pedido, migração distribuída, encapsulamento, a pedra de Rosetta digital. Há outros capítulos como diretórios de formatos, autenticidade, meta informação de preservação, avaliação de estratégias de preservação, e síntese e conclusão.
Sobre a preservação de tecnologia, ela consiste na conservação do contexto tecnológico, através da conservação e manutenção de todo o hardware e software necessários à correta apresentação dos objetos digitais. Trata-se, sobretudo da criação de museus de tecnologia.
A seção de refrescamento é a mudança de plataforma, ou seja, a transferência de informação de um suporte físico de armazenamento para outro mais atual antes que o primeiro se deteriore ou se torne irremediavelmente obsoleto.
Na Emulação, o autor se refere a utilização de um software, designado emulador, capaz de reproduzir o comportamento de uma plataforma de hardware e / ou software antiga, numa outra mais atual. Nessa técnica, instala-se um emulador-software no computador atual que tenha arquitetura atual e nova, para que a máquina atual leia e trabalhe a plataforma antiga. Isso para se fazer uso de softwares antigos.
Sobre a migração/conversão recomenda ser necessário a transferência periódica de material digital de uma dada configuração de hardware/software para outra, ou de uma geração de tecnologia para outra subseqüente.
Na migração para suportes analógicos, o autor contextualiza sobre a reprodução de um objeto digital em papel, microfilme ou qualquer outro suporte analógico de longa duração.
Em atualização de versões, o autor conceitua que consiste em atualizar os materiais digitais produzidos por um determinado software recorrendo a uma versão mais atual do mesmo.
Em conversão para formatos concorrentes, Ferreira sugere a possibilidade de que os objetos sejam convertidos entre formatos análogos, independentemente da aplicação utilizada na sua criação.
Na parte de Normalização, ela regula que a redução do número de formatos distintos é o ideal. As futuras intervenções ao nível da sua preservação poderão ser realizadas de forma mais simples e econômica.
A Migração a pedido indica que ao invés de as conversões serem aplicadas ao objeto mais atual, estas são sempre aplicadas ao objeto original que é o mais antigo.
Em Migração distribuída diz que neste tipo de migração, existe um conjunto de serviços de conversão que se encontram acessíveis através da Internet e que poderão ser invocados remotamente recorrendo a uma pequena aplicação-cliente.
O "Encapsulamento" é um termo dado pelo autor que conceitua a forma de preservar ou manter informações junto aos objetos dos objetos digitais inalterados até o momento em que se tornam efetivamente necessários, para permitir o futuro desenvolvimento de conversores, visualizadores ou emuladores.
A Pedra de Rosetta digital é um termo para representar a técnica de descodificação para recuperar objetos digitais para os quais não existe informação suficiente sobre o assunto. Dessa forma, usam-se amostras de objetos que sejam representativas do formato que se pretende recuperar. Estas amostras deverão existir num formato que possa ser diretamente interpretado pelo ser humano. Um exemplo de aplicação desta estratégia consiste em imprimir em papel um conjunto representativo de documentos de texto juntamente com a sua representação binária. Essa técnica infere regras para traduzir / converter o objeto original para o contemporâneo.
Um dos grandes desafios da preservação digital é que haja um software adequado a encontrar arquivos digitais, ler a codificação binária, interpretar os bits por meio dos dispositivos de saída adequados. Os aplicativos antigos podem não "rodar" nas máquinas de hoje e, por isso, sugere-se que a instituição tenha em funcionamento equipamentos antigos com softwares, programas antigos para que a informação não se perca. Por isso, o trabalho do Miguel Ferreira é de grande relevância para o mundo acadêmico e para quem se preocupa em preservar a informação no futuro.
O texto é muito útil para quem trabalha com preservação digital ou se preocupa em acessar a informação por longo prazo. As informações geralmente são permanentes. Por isso, deve-se ter em conta que podem não mais existir no futuro, se não houver uma política de preservação desde o início da criação da informação digital . Por isso, essa obra é recomendada para guiar os que trabalham com informações digitais que podem não mais acessar no futuro.
Sobre o autor está escrito em (FERREIRA, 2007, p. 9) que ele foi licenciado em Engenharia de Sistemas e Informática pela Universidade do Minho, iniciou a sua carreira profissional na Philips Research em Eindhoven, Holanda, onde trabalhou como investigador no domínio da domótica e Ambient Intelligence. Aí, fez parte da equipe de desenvolvimento de um dispositivo capaz de armazenar e navegar nas memórias coletivas de uma comunidade, e.g. fotografias, vídeos, sons, aromas.
Regressado a Portugal, mudou radicalmente o rumo da sua vida profissional ao ingressar a equipe do projeto DigitArq. Um projeto multifacetado realizado no Arquivo Distrital do Porto, sob coordenação científica da Universidade do Minho, do qual resultou a atribuição do prêmio Fernandes Costa ? Agência para a Sociedade do Conhecimento, por ter sido considerado o trabalho que melhor respondeu à "inovação e contribuição para o desenvolvimento da Sociedade da Informação" em Portugal no ano de 2004.
Regressou à Universidade do Minho onde iniciou a sua carreira como investigador na área dos Arquivos e Bibliotecas Digitais. Durante um ano explorou novas formas de navegar sobre repositórios digitais. Parte desses desenvolvimentos vieram a ser integrados na distribuição oficial da plataforma DSpace e são agora mantidos pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) e pela Hewlett-Packard (HP).
Miguel Ferreira , em 2005 iniciou o seu programa de doutoramento na área da Preservação Digital, do qual resultou a publicação. O autor realizou outras obras em parcerias como:
M. Ferreira, "Automatic Evaluation of Migration Quality in Distributed Networks of Converters," Bulletin of the IEEE Technical Committee on Digital Libraries (TCDL), vol. 2, no. 1, 2006.

M. Ferreira, "CRiB - Conversion and Recommendation of Digital Object Formats Web site," 2006. [Online]. Available: http://crib.dsi.uminho.pt.

Ferreira, M, A. A. Baptista and J. C. Ramalho, "Avaliação Automática de Migração em Redes Distribuídas de Conversores," presented at Conferência da Associação Portuguesa de Sistemas de Informação (CAPSI), Bragança, Portugal, 2005.

Ferreira, M., Baptista, A. A., & Ramalho, J. C. (2007, May ). An intelligent decision support system for digital preservation. International Journal on Digital Libraries. 1432-5012 (Print) 1432-1300 (Online). DOI: 10.1007/s00799-007-0013-x . Springer Berlin / Heidelberg. Available at http://dx.doi.org/10.1007/s00799-007-0013-x

Baptista, A. A.; Ferreira, M. (2007, May). Tea for two: Bringing Informal Communication to Repositories. D-Lib Magazine 13 (5/6), ISSN 1082-9873. DOI:10.1045/may2007-baptista. Available in Open Access at http://www.dlib.org/dlib/may07/baptista/05baptista.html

Ferreira, M., Baptista, A. A., & Ramalho, J. C. (2006, July ). A Foundation for Automatic Digital Preservation. Ariadne, 48. ISSN: 1361-3200. Available in Open Access at http://www.ariadne.ac.uk/issue48/ferreira-et-al/

Ferreira, M., Baptista, A. A., & Ramalho, J. C. (2006, February). CRIB: a service oriented architecture for digital preservation outsourcing. Paper presented at the XATA - XML: Aplicações e Tecnologias Associadas, Portalegre. Available in Open Access at http://hdl.handle.net/1822/4457

Ferreira, M., Baptista, A. A., & Ramalho, J. C. (2005, October). Avaliação automática de migração em redes distribuídas de conversores4. Paper presented at the 6ª Conferência da Associação Portuguesa de Sistemas de Informação, Bragança. Available in Open Access at http://hdl.handle.net/1822/3616

Ferreira, M., & Baptista, A. A. (2005, July). DSpace-Dev@University of Minho: development of tools and add-ons for the DSpace platform. Paper presented at the DSpace Federation User Group Meeting, Cambridge, UK. Available in Open Access at http://hdl.handle.net/1822/2860.

Ferreira, M., & Baptista, A. A. (2005, February). The use of taxonomies as a way to achieve interoperability and improved resource discovery in DSpace-based repositories. Paper presented at the XATA 2005 : XML : aplicações e tecnologias associadas, Braga. Available in Open Access at http://hdl.handle.net/1822/873
O autor também participou de conferências como , em 2007, a International Conference Open Repositories, CRiB : preservation services for Digital Repositories., em San Antonio, Texas, Unitede States of America, 2007. Slides available in Open Access at http://hdl.handle.net/1822/6195 e "Automatic Evaluation of Migration Quality in Distributed Networks of Converters," presented at Doctoral Consorcium of the 9th European Conference on Research.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo da preservação digital é garantir que a informação digital permaneça acessível, com qualidade e autenticidade suficiente para que possa ser interpretada no futuro recorrendo a uma plataforma tecnológica mais atual da que foi utilizada no momento da sua criação. Para que isso aconteça, a política de preservação digital desde a criação é a que vai assegurar a possibilidade de que a comunicação entre um emissor e um receptor também seja possível não só através do espaço, mas também através do tempo.
O autor conclui sobre as alternativas de preservação digital, que continuam a não existir provas concessivas quanto a eficácia delas (FERREIRA, 2006, p. 63). Porém, há os que defendem estratégias de migração e outros que defendem a emulação. Essa preocupação acontece por causa da autenticidade e integridade dos materiais em que a mudança de suporte pode acarretar perdas de informação e sua adulteração ao longo do tempo.
Apesar de muitos outros aspectos e de definição de política de preservação não ser explanada, nessa obra pelo autor (FERREIRA, 2006, p.63), entende-se, pelo que ele escreveu, que o plano de preservação digital deve ser definido desde o início. Recomenda-se fazer um planejamento do monitoramento da obsolescência dos objetos digitais, contemplando a avaliação, seleção, as estratégias que irão ser implantadas para cada classe de objetos digitais. Além disso, o plano de preservação digital deve ser revisto periodicamente.
REFERÊNCIA
FERREIRA, Miguel. Introdução à Preservação Digital ? Conceitos, estratégias e actuais consensos. Guimarães, Portugal: Escola de Engenharia do Minho, 2006. Disponível em: https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/5820/1/livro.pdf ISBN: 978-972-8692-30-8 ISSN:972-8692-30-7 Acesso em: 14 ago 2009

Autor: Maria Lucia Valada De Brito


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