Refutando os argumentos contra a prática do Jejum



Refutando os argumentos contra a prática do Jejum


Uma igreja da tradição evangélica brasileira lançou um livro, na verdade um manual de doutrinas. Resolvi ler o livro intitulado. Dentro das doutrinas analisadas naquele opúsculo estava a prática do jejum. Dizia o texto recheado com os seguintes argumentos:
"Vamos vê como é que uma igreja em graça vê a oração e o jejum. O jejum é um rudimento da lei judaica. É um costume judaico que a igreja católica incorporou, e, mais tarde, as igrejas protestantes copiaram. Na lei de Moisés a palavra "jejum" não é mencionada, e sim aflição da alma (...) O Cristão em graça não crê no jejum da carne como fonte de poder, de aperfeiçoamento espiritual, perdão, ou comunhão com Deus. Quando foi perguntado a Jesus porque os seus discípulos não jejuavam, ele respondeu: " Podeis fazer jejuar os convidados para o casamento, enquanto está com eles o noivo? Dias virão, contudo, em que lhes será tirado o noivo; naqueles dias, sim, jejuarão" ( Lucas 5:34-35). O jejum era um costume judaico, usado para castigar a carne, em sinal de luto, de tristeza, em dias de crises e lutas, que foi passado à igreja romana, etc. Mas o próprio Jesus disse que o jejum não era para os convidados às núpcias. Ele era o noivo, e enquanto estivesse presente não haveria necessidade de jejuar. Assim, Ele estava anunciando sua morte. No dia de Pentecostes, o Espírito Santo de Deus veio fazer morada em nós, e por isso nós estamos permanentemente com o noivo. Não há, portanto, nenhum motivo para um cristão que vive na graça de Deus, jejuar. Ele possui toda a graça e a verdade no Cristo que está dentro do seu coração fazendo-o um com Ele. Jejuar seria o mesmo que dizer que a obra de Cristo não foi completa. Muitas pessoas pensam que o apóstolo Paulo jejuou por vontade própria, em busca de consagração, mas o contexto bíblico mostra que, na verdade, Ele, por estar passando por perseguições, não tinha como se alimentar. Em nenhum momento Paulo diz que jejuou para agradar a Deus ou pedir poder" .
A seguir o mesmo autor cita os textos de 2ª Coríntios 6:4-6, 9-10 e 2ª Coríntios 11; 25-27, para comentar em seguida: "De novo, o contexto é de que o Ap. Paulo, que passava tantos desafios, não se alimentava. Ele não se retirava a um quarto para jejuar e aproximar-se de Deus como muitos ensinam. O jejum, como forma de consagração ao Senhor, não é verdade bíblica, mas conceito de homens, logo não serve para nós, que já temos o noivo na nossa vida ? somos a Sua noiva. Os judeus porque não O tem como Salvador, ainda jejuam".
Confesso que ao ler essas palavras infundadas, senti uma repulsa no meu interior, pois, falar contra o jejum que nosso mestre praticou e ensinou é muita falta de bom senso e conhecimento das Escrituras Sagradas!
Vamos à refutação dos argumentos, que por sinal são muito depauperos::
Primeiro: O autor diz que na lei de Moisés não é mencionada a palavra ?jejum? e sim ?aflição da alma?. No entanto, uma linha antes ele já havia dito que ?o jejum é um rudimento da lei judaica?. Vamos esclarecer o mal-entendido. A expressão hebraica ?innâ naphshô (aflição da alma) é tida no texto sagrado como sinônimo de tsôn palavra hebraica para jejum. O Novo Dicionário da Bíblia corrobora essa assertiva dizendo: "Os vocábulos hebraicos são tsûm (verbo) e tsôm ( substantivo). A expressão ?inna naphshô (afligir a alma) também se refere ao jejum". Para que não fique nenhuma dúvida que essas expressões são tidas como sinônimas O Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, conceituada obra sobre o hebraico bíblico (que recomendo a todos os estudantes das Bíblia), comenta: "Certos dias do calendário eram consagrados a um jejum nacional, dos quais o mais destacado era o Dia da Expiação (Lv 16.29, 31; 23.27-32; o jejum está indicado na expressão ?nh npsh, "afligir a alma"). Esse jejum praticado por ocasião do Dia da Expiação é citado nas páginas do Novo Testamento em Atos dos Apóstolos 27:9, onde se lê: "Depois de muito tempo, tendo-se tornado a navegação perigosa, e já passado o tempo do jejum (gr. nesteian), admoestava-os Paulo". Não há dúvida alguma que ?inna naphshô (afligira a alma) e tsôm (jejum) referem-se a abstenção de alimentos.
Segundo: O autor diz também que uma das razões pelas quais não devemos mais jejuar é porque o noivo (O Espírito Santo a terceira pessoa da divindade) está conosco. Mais uma vez há um mal-entendido aqui, pois as Escrituras dizem claramente que o noivo é Cristo Jesus, e somente quando ele retornar na consumação do século para a sua noiva, a igreja, aí sim não haverá mais razão para jejuar. É o que diz o expositor bíblico Gleason Archer Júnior: "No entanto, quando o Senhor trouxer derradeiramente a salvação ao seu povo, os meses de jejuem serão transformados em festas de alegria e regozijo (Zc 8:19)" (Enciclopédia de Dificuldades Bíblicas, editora Vida)
Terceiro: Foi dito que "não há, portanto, nenhum motivo para um cristão que vive na graça de Deus, jejuar". Pergunto: houve um apóstolo que viveu mais na graça de Deus do que Paulo? Pois a Escritura Sagrada diz que o apóstolo da graça achou motivo para jejuar: "Havia na igreja de Antioquia profetas e mestres: Barnabé, Simão por sobrenome Níger, Lúcio de Cirene, Manaem, colaço de Herodes o tetrarca, e Saulo. E, servindo ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me agora a Barnabé e a Saulo (outro nome de Paulo) para a obra que os tenho chamado. Então, jejuando e orando, e impondo sobre eles as mãos, os despediram" (At. 13:1-3).
Novamente encontramos o apóstolo dos gentios encontrando motivos para jejuar, leia com muita ateção: "E, promovendo-lhes em cada igreja a eleição de presbíteros, depois de orar com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido (At. 14:23). O homem que disse: " pela graça sois salvos" (Ef. 2:8), tinha como hábito a prática do jejum. A graça não anula a pratica do jejum!
Quarto: O autor diz que Paulo não jejuou, mas passou fome devido à natureza de seu trabalho. Em palavras mais simples, para ele Paulo não praticou o jejum voluntariamente. Os textos bíblicos citados anteriormente refutam essa afirmação (At. 13:1-3; At. 14:23).
Quero concluir a refutação desses argumentos depauperos com as palavras de Nosso Raboni (*): "Podem acaso estar tristes os convidados para o casamento, enquanto o noivo está com eles? Dias virão, contudo, em que lhes será tirado o noivo, e nesses dias (no período da Igreja) hão de jejuar" (Mc.9:15).

Pr. Ronaldo Carvalho,
Bacharel em Teologia pela Faculdade de Teologia e
Ciências da Religião-Fatem ?Am, e Especializado no Hebraico Bíblico.
[email protected]
[email protected]




Autor: Ronaldo Carvalho


Artigos Relacionados


Jejum

Jejum Bíblico

O Que Devo Fazer Durante O Jejum?

Jejum à Luz Do Contexto Biblico

Religião Pura E Verdadeira

Aprendizados Bíblicos Sobre A Oração (parte 4 De 7)

O Falso E O Verdadeiro Jejum