A IMPORTÂNCIA DO ENSINO PRODUTIVO PARA O ESTUDO DE GRAMÁTICA



A IMPORTÂNCIA DO ENSINO PRODUTIVO PARA O ESTUDO DE GRAMÁTICA



Maria Magalhães Rodrigues

RESUMO: O presente artigo aborda o estudo de gramática partindo do ensino produtivo, bem como enfatiza a gramática a luz dos PCNs. Como embasamento teórico foram utilizados os autores, PERINI (2005) e TRAVAGLIA (2008).O ensino de gramática deve propor aos alunos situações cotidianas, através dos textos.

Palavras-chave: Ensino produtivo; gramática ; texto.

INTRODUÇÃO

Muito se tem questionado a respeito do ensino de gramática nas aulas de Língua Portuguesa. Em vista disso o dever da escola é ensiná-la de forma a oferecer aos alunos condições de adquirirem competência para usá-a de acordo com a situação vivenciada. Considerando que a gramática não deve ser tida como uma verdade única, absoluta e acabada. O professor não deve repassar a gramática de forma mecanizada, preso somente a frases mas sim em atividades contextualizadas para que o aluno construa seu próprio conhecimento lingüístico.

? Língua Portuguesa e o Ensino Produtivo

O tipo de ensino sobre o qual o professor trabalha em sala de aula refletirá no aprendizado dos alunos. Por isso é tão importante escolher aquele que de fato tenha eficácia. Entre estes tipos de ensino estão o ensino prescritivo e o ensino produtivo.
O ensino prescritivo considera inadequado o padrão lingüístico produzido pelos alunos, desta forma seu objetivo é a correção gramatical, da escrita, bem como da oralidade do nosso idioma. Assim tem sido o ensino de Língua Portuguesa nas escolas. A dificuldade na realização de leitura e produção textual pelos alunos deixa evidente que estas regras gramaticais desprovidas do contexto têm pouca eficácia.
Conforme TRAVAGLIA (2008) o ensino produtivo parte do princípio de que a nossa língua deve desenvolver a capacidade comunicativa, ou seja produzir e compreender textos nas mais diversas situações de comunicação. Esse tipo de ensino propaga que devemos adequar o nosso vocabulário à situação na qual nos encontramos. Por exemplo, é inadequado utilizar um vocabulário complexo ao ministrar uma palestra para um grupo de pessoas analfabetas ou mesmo utilizar um vocabulário repleto de gírias para conversar com autoridades constituídas.
Todo falante domina sua respectiva gramática. Se isso não fosse verdade não seriamos capazes de emitir e entender enunciados.
O ensino produtivo entende a língua como um conjunto de variedades lingüísticas e os seus usuários pertencentes a diversos lugares sociais.
É necessário ensinar gramática nas escolas. Mas este ensino deve estar voltado para a diversidade de textos como jornais, revistas, receitas culinárias, poemas, crônicas, artigos, propagandas e muitos outros. Assim o aluno tem a possibilidade de trabalhar a oralidade e escrita em situações reais de uso. Ensinar regras gramaticais partindo somente de frases soltas, não será satisfatório o aprendizado. É preciso utilizar textos e extrair deles o objeto de estudo como verbos, tipos de sujeitos por exemplo. Em seguida o aluno não só reconhece estes termos em textos, como poderá produzir frases que os contenha.
Outro fator importante é desenvolver nos alunos a competência comunicativa, reconhecer e produzir textos nas mais diversas situações de uso.

? A gramática à luz dos PCN?s

A linguagem é uma atividade discursiva, em que o texto deve ser utilizado no processo de ensino-aprendizagem, e a gramática como fonte de conhecimento que o falante tem de sua língua.
" A gramática ensinada de forma descontextualizada, tornou-se emblemática de um conteúdo estritamente escolar, do tipo que só serve para ir bem na prova e passar de ano."(PCN?s.1998 p.28)

Desta forma a gramática abordada em sala de aula preocupa-se apenas com a exemplificação em frases soltas e a memorização das regras.
Não podemos desvincular o ensino de gramática da variação lingüística, pois não existem variedades fixas se consideramos que um mesmo espaço há diferentes grupos sociais.
Assim não podemos esquecer que a língua falada difere da língua escrita. Existem circunstâncias em que o discurso formal exige do falante certo cuidado. Porém no dia-a-dia notamos que a fala espontânea é bem diferente da linguagem escrita.

"Nas sociedades letradas há a tendência de
tomarem- se às regras estabelecidas pela a
escrita como padrões de correção de todas
as formas lingüísticas". (PCN?s 1998p.30)

O grande erro da gramática tradicional é propor que devemos falar da mesma forma que escrevemos. A aula de gramática deve propor aos alunos o desenvolvimento da capacidade lingüística, ou seja, aprender adequar sua linguagem conforme a situação.
Existem ainda diversos mitos no ensino de gramática: o brasileiro não sabe falar o português, o português é uma língua muito difícil, e é preciso melhorar a fala do aluno para que ele possa escrever correto.
O importante é a comunicação, cabe ao aluno escolher a forma e o contexto de sua produção se escrita ou oral. E adequar conforme a situação em que se encontra a sua linguagem.
Os PCNS evidenciam sua preocupação com o ensino da linguagem propondo objetivos para as escolas desenvolverem atividades que possibilite aos alunos um melhor aprendizado, vejamos:

ü Utilizar a linguagem na escrita e produção de textos orais e na leitura e produção de textos escritos de modo a atender a múltiplas demandas sociais, responder a diferentes propósitos comunicativos e expressivos, e considerar as diferentes condições de produção do discurso;
ü Conhecer e valorizar as diferentes variedades do Português, procurando combater o preconceito lingüístico.
ü Reconhecer e valorizar a linguagem de seu grupo social como instrumento adequado e eficiente na comunicação cotidiana, na elaboração artística e mesmo nas interações com pessoas de outros grupos sociais que se expressam por meio de outras variedades.


? Como ensinar gramática na escola?

É necessário esclarecer que a gramática permite a comunicação dos falantes de uma determinada língua por fazer parte de um conhecimento implícito.
Conforme TRAVAGLIA (2008, p33) é implícito porque o falante não tem consciência destas regras, apesar de estarem em sua mente e permitirem que ele utilize-as automaticamente.
Esse saber faz com que qualquer usuário, mesmo uma criança que jamais tenha freqüentado a escola, reconheça como frase legítima da nossa língua portuguesa os exemplos 1 e 2 e não frases como 3 e 4.


1-Hoje João não foi para a escola.
2-João não foi hoje para a escola.
3-João para hoje não foi escola a.
4-A escola não foi João para hoje.

Ensinar gramática será orientar o aluno a tornar consciente daquelas regras que ele já domina implicitamente, e mostrar as diferenças entre linguagem escrita e linguagem oral. Sabemos que a gramática surgiu na cidade de Alexandria (séc VI a.C) para analisar a escrita literária dos autores daquela época. Desta forma a gramática passou a ser um instrumento de controle e exclusão social e também a normatizar a linguagem oral.
Ainda hoje muitos acreditam que aprender gramática será o mesmo que aprender a falar e escrever melhor. Aprendemos a escrever escrevendo, e ler relendo reescrevendo.
É comum ouvir dos professores queixas a respeito do desempenho dos alunos em língua materna: falam errado, não sabem ler e principalmente não sabem se expressar por escrito.
Será que os alunos ao memorizarem regras gramaticais de concordância, regência e outros, irão transferir estes conhecimentos para suas redações?

"Não existe um grão de evidência em favor disso. Vamos pensar um momento: se é preciso saber gramática para se escrever bem, será de esperar que pessoas que escrevem bem saibam gramática, ou pelo menos que as pessoas que sabem gramática escrevem bem." (PERINI, 2005 p.50)

O que se constata após anos estudos gramaticais é que a escrita dos alunos permanece a mesma. Eles não conseguem estabelecer relação alguma entre gramática em frases soltas aos textos que lêem ou escrevem.
O ensino de gramática transmitido em sala de aula é feito de forma errada. Vejamos:

ü Lida com fragmentos da língua e palavras soltas;
ü Tente homogenizar a língua, ignorando as variações;
ü Repetem em todos os anos basicamente os mesmos conteúdos sem a preocupação de estabelecer uma seqüência coerente.

A gramática deve ser abordada como subsídio a compreensão e a produção de textos. Assim o ensino produtivo é centrado no texto, partindo de que a interação na comunicação se dá não através da frase ou palavra, mas através do texto.




CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ensino de gramática deve ser abordado através de aulas dinâmicas. Deve-se partir do princípio que a gramática faz parte do cotidiano do aluno, como nos textos de jornal, revistas, panfletos e outros.
Desta forma o trabalho com a gramática nas escolas precisa ser feito numa perspectiva de interação comunicativa para assim tornar o aluno consciente das regras que ele utiliza intuitivamente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: Terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC /SEF, 1998.

PERINI, Mário. Sofrendo a Gramática. São Paulo: Ática, 2009

TRAVAGLIA, Luís Carlos. Gramática e Interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º graus. 12ª ed. São Paulo:Cortez,2008.

Autor: Maria Magalhães Rodrigues


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