DAS ORIGENS DA LÍNGUA PORTUGUESA A SUA EVOLUÇÃO



DAS ORIGENS DA LÍNGUA PORTUGUESA A SUA EVOLUÇÃO

Maurício Vasconcelos de Brito
[email protected]
Walter Aparecido Gonçalves
[email protected]

Resumo: O presente trabalho consiste numa pesquisa sobre a romanização e a formação das línguas, em especial a língua portuguesa. Para isso buscaremos traçar o percurso histórico ocorrido, desde o latim até ao Português. Portanto, demonstraremos que a língua portuguesa desde sua origem, vem passando por uma constante transformação por meio das suas modificações fonéticas, as quais chamam de metaplasmos, dessa forma vamos observar tais mudanças através de palavras selecionadas no contexto atual.

Palavras chave: Latim, Romanização, Língua Portuguesa, , Metaplasmo, Evolução,

Língua portuguesa: origem e evolução.

A língua portuguesa é derivada do Latim, o idioma falado por um povo rustico que vivia no Lácio, região central da Península Itálica. O que fez a língua latina se desenvolver foram às necessidades dos romanos, que habitavam a Península Itálica, de expandir seu domínio. Até meados do século IV a.C, eles não haviam ampliado muito as fronteiras do antigo lácio, permanecendo o latim quase que restrito a essa região, até que, em 326 a.C., começou então um longo período de conquistas com o qual o Império romano veio a atingir o máximo de sua expansão geográfica, levando também a sua língua, seus hábitos de vida e instituições às, mais diversas regiões da Europa, África e Ásia.
Romanização da Península Ibérica se deu a partir do século II a.C, quando o Império Romano por influência comercial, política, e militar busca conquistar toda região. A guerra púnica foi o fator inicial para a conquista e expansão românica. Assim durante longos anos de batalhas com os Cartagineses, Roma finalmente consegue vencê-los, e passam a dominar toda a província, estabelecendo ali sua civilização, impondo seus costumes e, sobretudo seu idioma. De fato as influências Romanas se fez sentir na religião, artes, cultura e principalmente na língua do povo conquistado. Conforme o exercito Romano avançava em larga região da Europa, o latim cada vez mais se expandia. Fazendo com que as línguas nativas dos territórios conquistados ficassem cada vez mais extintas.
A formação das línguas românicas, de fato tem como base o latim vulgar, linguagem popular, falado pelos povos romanos de classes mais baixa, ou seja, pelos indivíduos de poucas instruções menos favorecido pelo ensino escolar. Segundo Coutinho, as primeiras terras romanizadas receberam uma linguagem mais popular, baseada no latim vulgar, enquanto que as últimas conheceram um latim mais culto, e isto se deu pelo fato da língua literária ser mais recente, e também pelo surgimento da escrita. Para que possamos entender as mudanças que ocorreram na língua latina, observamos três fatores: o histórico, o etnológico e o político.
Como agente histórico, entendemos que, as conquistas romanas aconteceram em diferentes épocas; um exemplo disso é a distância temporal entre a conquista da Sardenha e da Dácia, que teve aproximadamente quatro séculos. A causa etnológica pode ser observada, através dos diversos povos que foram dominados pelo Império Romano; um exemplo disto foi a Península Itálica, onde eram falados diversos idiomas, como por exemplo: O céltico , ligúrio , e Etrusco . A razão política é justificada pelas invasões e conquistas militares e imposição cultural e linguística que pode originar dialetos mistos, e isto foi o que aconteceu com a língua latina.
A implantação do latim na Península Ibérica foi um fator crucial para a formação da língua portuguesa, exceto os bascos, todos os povos da Península Ibérica passaram a adotar o latim como língua. Essa região foi separada em duas grandes províncias, sendo elas: a Hispânia Citerior e a Hispânia Ulterior. Esta última sofreu nova divisão em duas outras províncias, a Bética e a Lusitânia, onde se estendia uma antiga província romana, chamada Gallaecia.
Segundo Teyssier, o reino livre de Portugal já existia, e a parte meridional do seu território estava quase que inteiramente reconquistada. Portugal estabeleceu-se no século XII, quando Afonso I (Afonso Henriques), o filho do conde Henrique de Borgonha, passou a independência do seu primo Afonso VII, rei de Castela e de Leão.
É o combate de São Mamede (1128) que, tradicionalmente, se faz remontar esta independência, ainda que Afonso Henriques tenha feito ser reconhecido como rei nos anos seguintes. Apartar-se de Leão para se tornar um reino independente, Portugal então se separava também da Galícia, que não mais deixaria de ficar vinculado ao país vizinho de reino de Leão, reino de Castela e, finalmente, reino de Espanha. A demarcação, que no século
XII isolou a Galícia de Portugal, estava destinada a ser definitiva.
Ainda que no mesmo tempo em que se separava o norte da Galícia, o moderno rei no agora autônomo Portugal estendia-se para o sul, anexando às regiões reconquistadas aos "mouros".
Teyssier afirma ainda que em 1249 com a tomada de Faro, a região nacional atingiu os limites com algumas pequenas modificações, que correspondem às fronteiras nos dias de hoje. Em meio a todas as nações europeias, Portugal é uma cujas fronteiras variaram menos, isolado da Galícia, mas acrescido das terras meridionais reconquistadas, Portugal vê o seu centro de gravidade transferir-se do Norte para o Sul. A residência principal do primeiro rei era Guimarães, no extremo norte. Os seus herdeiros começaram a frequentar de preferência Coimbra libertada desde 1064
Afonso III, enfim em 1255, instala-se em Lisboa, que não mais deixaria de ser a capital do país. Por todo esse tempo, a língua galego-portuguesa, nascida no Norte, vai-se espalhar pelas regiões meridionais, que até então se comunicavam por dialetos moçárabes. Lisboa, a capital definitiva situava-se em plena zona moçárabe.
Segundo Teyssier, assim como o castelhano, o português também se originou de uma língua nascida no norte, o galego-português medieval que foi levado ao Sul pela reconquista.
Quanto à norma, contudo, o português moderno diverge do castelhano, pois vai buscá-la não no Norte, mas sim na região centro-sul, onde esta localizada Lisboa.
Segundo Coutinho, (1976, p. 56), a evolução da língua portuguesa pode ser explicada em três fases: pré-histórica, proto-histórica e histórica a que compreende o período do Português arcaico e moderno.
A pré-histórica inicia-se com as origens da língua, ampliando-se até o século IX. A língua que era falada na região era o romance lusitânico, diferente do latim que constitui um estágio intermediário entre o latim vulgar e as línguas latinas modernas (português castelhano, francês, entre outros). A proto-histórica vai do século IX ao XII. Os textos eram escritos em latim bárbaro que era a modalidade do latim usado apenas em documentos e por isso também chamado de latim tabaliônico ou usado por tabeliões; as palavras portuguesas eram faladas, mas não era escrito, o que confirma a existência do dialeto galaico-português. Dessa fase, os documentos mais antigos são um título de doação, datado de 874, e um título de venda de 883.
A fase histórica tem início no século XII, época em que os textos começam ser escritos em português. Este período está dividido entre o arcaico, séculos. XII-XVI, e o moderno no século XVI. Já o período arcaico entre os séculos XII e XVI, compreende dois períodos distintos: Entre o século XII ao XIV, com os textos em galego-português; e do século XIV ao XVI, com o isolamento entre o galego e o português.
Este é o primeiro texto literário na língua Galaico portuguesa de que se tem registro. O primeiro texto que foi escrito em português foi à poesia "Cantiga da Ribeirinha"

Que vos enton non vi fea! E, mia senhor, desaqueldi', ai! Me foi a mi muin mal, e vós, filha de don Paai Moniz, e ben vos semelhad'haver eu por vós guarvaia, pois eu, mia senhor, d'alfaia Nunca de vós ouve nem eivalía d'iacorrea.

Esta cantiga foi escrita provavelmente em 1198 séculos XII por Paio Soares de Taveirós, foram dados esse nome em homenagem a Dona Maria Paes Ribeiro, que amante de Sancho de I de Portugal que tinha o apelido de Ribeirinha.
Já a partir do século XVI, período moderno, a língua portuguesa se padroniza e começa a adquirir propriedades do português atual. No ano de 1572, a obra de Luís de Camões, os Lusíadas, se torna um marco histórico do nosso idioma e também um monumento literário e linguístico. Coutinho afirma que a publicação de Os Lusíadas no ano de 1572,

Constitui a verdadeira epopeia nacional portuguesa. Nela se acham retratados o espírito de aventura, a resistência no sofrimento, as qualidades guerreiras, o heroísmo, numa palavra, todas as grandes virtudes da nação portuguesa. Não é Vasco da Gama o herói do poema. A descoberta do caminho marítimo para a Índia foi apenas o pretexto para Camões escrever o seu imortal poema. O assunto é a história de Portugal, rica de episódios e de lances dramáticos. O seu herói é o próprio povo português. (1976, p. 57).

Essas mudanças ocorrem porque com o passar do tempo, cada geração de falantes de uma mesma língua decompõe inconscientemente a pronúncia das palavras, dando origem a outras modificações na estrutura, fonética , semântica , morfológica e sintática .
Fonema é a menor unidade sonora que entra na constituição de uma palavra. O fonema tem como característica o fato de ter valor opositivo, isto é, ele pode explicitar a diferença entre uma palavra e outra. (Amaral, Antônio e Patrocínio, 1994, p. 98).
Parte da linguística que se ocupa dos sons da língua, ou seja , levanta, classifica e estabelece as distinções básicas entre os fonemas de uma língua, visando à distinção de uma estrutura fônica, o que possibilita distingui-la de outras línguas de definir seu padrão combinatório no nível da silaba. Um distinto exemplo dessa modificação é o pronome de tratamento (você): inicialmente, (vossa mercê); depois, (vossemecê); posteriormente, (vosmecê) e, nos dias atuais, dicionarizado, você; no entanto, na oralidade, ouvimos (cê). E agora com o avanço tecnológico nas comunicações o (vc) passou a ser usado também, mas na forma escrita.
Coutinho as define como metaplasmos, as alterações que as palavras sofreram durante a sua evolução do Latim para o Português e que ainda estão acontecendo. Essas alterações são apenas fonéticas, conservando, as palavras, a mesma significação. Os metaplasmos se dão em cinco classes, a saber:
Por permuta: São os consistem na substituição ou troca de um fonema pelo outro. São eles: Sonorização, Vocalização, Consonantização, Assimilação, Dissimilação, Nasalização, Desnasalação, apofonia e Metafonia.
Por aumento: São os que adicionam fonemas à palavra, Pertencem a essa classe: Prótese, ou Próstese, Epêntese, Paragoge ou Epítese.
Por subtração: São os que tiram ou diminuem fonemas à palavra. São eles: aférese, Síncope, Apócope, Crase, Sinalefa ou Elisão.
Por transposição: São os que consistem na deslocação de fonema ou de acento tônico da palavra. Transposição de um fonema toma o nome de Metátese. Dessa forma a Metátese pode ocorrer na mesma sílaba ou entre sílabas. A transposição de um acento tônico toma o nome de Hiperbibasmo, que compreende a Sístole, e Diástole.
Por transformação: eles ocorrem quando um fonema de um vocábulo se transforma, passando a ser outro fonema distinto em lugar do primeiro. Pertencem a essa classe a, Degeneração, Rotacismo, Lambdacismo, Ditongação, Monotongação, Palatização e Despalatização.
Nos exemplos a seguir podemos ver que ouve a manifestação de classes variadas de metaplasmos nas palavras: Alface > arface, a modificação ocorrida nessa palavra foi uma transformação, considerado Rotacismo, ou seja, é um metaplasmo de transformação do fonema (l) em (r).
Doutor > dotô, Houve um metaplasmo por transformação de fonema. Ou seja, uma monotongação que consiste na transformação de um ditongo (io), em vogal (o). E também ocorreu uma apócope, que é a queda do fonema no final do vocábulo, (r), aconteceu também uma diástole que é a transposição do acento tônico para silaba posterior, (Dou > tô).
Valor > valô, houve um metaplasmo por subtração. Ou seja, uma apócope, que é a queda do fonema (r) no final do vocábulo, também ocorreu uma diástole que é a transposição do acento tônico para silaba posterior (ô).
Olhar > Oiá, aqui aconteceu uma transformação no interior do fonema palatal, (lh), em uma nasal (ia), ou seja, ocorreu uma despalatização que é a transformação de fonema palatal em um nasal ou oral. Verifica-se a ocorrência de uma diástole que é a transposição do acento tônico para silaba posterior. E também uma apócope, que é a queda do fonema (r) no final do vocábulo.
Muito > Muinto, aqui observamos a ocorrência do metaplasmo por aumento, uma epêntese, que é o acréscimo do fonema (n) no meio do vocábulo.Vemos também que ouve uma assimilação do fonema (i) com o (n) que é a aproximação ou perfeita identidade de dois fonemas, por força de influência que um exerce sobre o outro.
Portanto, podemos ver que os metaplasmos, são alterações fonéticas verificadas nas próprias palavras da língua, chegam e saem através do tempo, e assim permanecem essas alterações estáticas por algum período, e novamente se modificam conforme o uso dos falantes, dentro de uma sequência diacrônica e sincrônica.
Diante de tudo o que foi exposto é importante então que continuemos a buscar cada vez mais valorizar e defender a nossa língua materna. Pois preservá-la, significa muito mais do que somente zelar pelo falar de um povo, significa defender o que há de mais precioso em nossa nação, nossa identidade, nossos costumes, nossa história e até mesmo nosso futuro. Ao refletirmos sobre as origens da língua é de extrema importância, haja visto que nosso idioma é a linha principal da união entre o Brasil e Portugal, e também entre outros países falantes da Língua Portuguesa. É com o resultado deste trabalho que concluímos que a língua necessita dessas transformações, para se desenvolver e adaptar juntos com os seus falantes. E o quanto estas modificações é importante para garantir a sobrevivência e continuidades dela mesma.






REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COUTINHO, Ismael de Lima. Gramática Histórica. Rio de Janeiro: Livraria Acadêmica, 1974.
HOUAISS, Antônio. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Ed. Objetiva, 2009.
ASSARÉ, Patativa do. (Antônio Gonçalves da Silva). "Ispinho e fulô". Rio de Janeiro: Vozes, 1990.
BUENO, Francisco da Silveira. Estudos de Filologia Portuguesa. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1959.
CAMARA JR., J. Mattoso. História e Estrutura da Língua Portuguesa. 4. ed. Rio de Janeiro: Padrão, 1985.
TEYSSIER, Paul.. História da língua portuguesa. Lisboa: Sá da Costa. (1982[1980])
WIKIPEDIA, http://pt.wikipedia.org/wiki/Diacronia.
AMARAL, Emília; PATROCÍNIO, Mauro Ferreira do; ANTÔNIO, Severino. Português. São Paulo: Nova Cultural, 1994.



Autor: Walter Ap. Gonçalves


Artigos Relacionados


Do Latim (vulgar) Ao PortuguÊs

A Origem Da Língua Portuguessa

A HistÓria Da LÍngua Portuguesa: Ainda Escrevemos Como Escrevia Afonso Henriques?

Latim ? Uma Língua Realmente Morta?

A Pronúncia Do Fonema ''th'' Na Língua Inglesa: Uma Análise Detalhada

A Pluralidade De PÁtrias

Nossa LÍngua Brasileira