Vôo do Falcão: beleza e tristeza



Edson Silva

Beleza e tristeza são sentimentos tão antagônicos, mas até que rimam. É como são os casos de amor e dor, que, dizem, não ser sentimentos tão antagônicos assim. Mas estamos aqui para falar de Seleção Brasileira em Copas e obviamente tivemos muitas alegrias e também decepções. E tem hora que não é fácil ver o belo em situação triste e este é o caso do 57º jogo que nosso Brasil, em 5 de julho de 1982, numa tarde lamentável, na Espanha, que ficou conhecida como a "Tragédia de Sarriá".

O técnico Telê Santana montou uma equipe maravilhosa, com Zico, Sócrates, Falcão, Éder, Júnior, Oscar, Luisinho, entre outros craques. Dizem que o time seria perfeito, caso o centroavante Careca, revelado pelo Guarani de Campinas, não tivesse se machucado e fosse atacante daquela Seleção. O Brasil chegou sobrando nas quartas de finais, com vitórias em quatro jogos que disputara. O adversário seria a sempre perigosa Itália, que na primeira fase ficou em três empates e quase nem se classifica e, a exemplo do Brasil, na primeira partida da segunda fase tinha batido a Argentina.

Os italianos viviam ainda o drama de denúncias de jogos arranjados no campeonato nacional de futebol deles, escândalo que até motivou a suspensão do atacante Paolo Rossi, que pagou a punição e estava na "Azzura". E foi justamente Rossi o nosso carrasco. O empate levaria o Brasil para as semifinais. Rossi abriu o placar aos cinco minutos; Sócrates empatou aos 12; Rossi fez 2x1 aos 25 minutos; placar que persistiu até aos 23 minutos do segundo tempo, quando Falcão fez linda jogada, driblou adversários na frente da área e chutou de esquerda, um lindo gol.

O meio campista parece voar na comemoração. As veias do pescoço estão saltadas, os dentes cerrados, tudo mostra puro orgulho, talento e raça de uma Seleção que resgatava a dignidade e o futebol arte brasileiro. Nossa alegria duraria só seis minutos, aos 29 minutos, de novo Rossi, faria 3x2, placar que iria até o apito final do juiz israelense Abraham Klein, uma partida vista no estádio, em Barcelona, por 44 mil pagantes e por milhões de telespectadores em todo o mundo.

A maior parte dos brasileiros desabava em choro, numa tristeza que dizem ser comparada a perda do título mundial disputado no Brasil, em 1950. O vôo do Falcão tornou-se o sonho do mitológico Ícaro, o sol derretera a cera que unia as asas. Uma de nossas Seleções Brasileiras, que um futebol dos mais bonitos na competição voltaria para casa.

Edson Silva é jornalista em Sumaré

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Autor: Edson Terto Da Silva


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