Artigo: A vitória do brasileiro José Graziano para a FAO



Artigo: A vitória do brasileiro José Graziano para a FAO

Roberto Ramalho é advogado, jornalista e relações públicas

Com o objetivo primordial de tentar pender a balança para o candidato brasileiro José Graziano, o Itamaraty realizou dois dias antes da eleição, um seminário em Roma sobre "Cooperação Técnica Brasileira: Agricultura, Segurança Alimentar e Políticas Sociais" para os delegados na FAO.

Durante a realização do evento, cinco ministros explicaram aos representantes de países em desenvolvimento, especialmente os da África, sobre a existência dos programas sociais brasileiros, mostrando, inclusive, o que o País oferece em termos de técnica, financiamento e parcerias a outros governos.

Embora o Itamaraty tenha afirmado que o seminário não tivesse relação com a eleição, o órgão reconhece que o público-alvo poderia ser justamente quem decidiria o resultado, o que acabou acontecendo.
Foi justamente a maioria dos 52 países africanos, mais interessados e mais beneficiados com as ações de cooperação do Brasil e que representavam quase um terço dos votantes que acabaram votando em massa na candidatura do brasileiro José Graziano.

O brasileiro José Graziano da Silva acabou sendo eleito neste domingo (26.06.11) o diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) recebendo 92 votos, contra os 88 votos obtidos por seu adversário, o ex-ministro de Relações Exteriores espanhol Miguel Ángel Moratinos.

Segundo informou a Agência de Notícias espanhola EFE, na primeira rodada de votações José Graziano teve cinco votos de vantagem sobre o ex-ministro espanhol, ambos muito à frente dos demais quatro candidatos ao cargo de diretor-geral da FAO. Nessa etapa, o brasileiro obteve 77 votos, seguido por 72 de Moratinos, 12 do indonésio Indroyono Soesilo, dez de Franz Fischler da Áustria, seis para o iraquiano Abdul Latif Rashid e dois para o iraniano Mohammad Saeid Noori.

De acordo com a EFE, pouco depois, os representantes da Indonésia, Iraque, Áustria e do Irã retiraram suas candidaturas, com o que as delegações desses países se tornaram decisivas na hora de repartir os votos entre os dois candidatos. A disputa acirrada entre os candidatos alcançou o ápice após a primeira votação, durante o recesso de 30 minutos pedido pelo Brasil. Nesse intervalo, os diferentes grupos estabeleceram as estratégias de votos, o que gerou uma profunda confusão.

Depois do protesto espanhol pelo fato do recesso que julgam ter prejudicado a candidatura de Moratinos, após o anúncio da sua vitória, bastante apertada sobre o seu concorrente, Graziano ressaltou "a necessidade de alcançar consensos e acordos para evitar problemas internos que impediram à FAO a avançar mais rápido na luta contra a fome". Bastante emocionado, ele afirmou ainda que o resultado da votação "foi um exercício democrático". Além de agradecer as diferentes autoridades e países-membros, fez questão de ressaltar a generosidade dos 77 países não-alinhados "que se juntaram para apoiá-lo nos instantes finais".

Pouco tempo depois ao saber da vitória de José Graziano para a FAO, a presidente Dilma Rousseff, por meio de nota à imprensa afirmou: "Com enorme satisfação recebo a decisão dos países membros da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) de escolher o candidato brasileiro, José Graziano da Silva, para o posto de Diretor-Geral da entidade, nas eleições que tiveram lugar em Roma no dia de hoje".

Desde o início o Itamaraty havia deixado de lado a diplomacia e usado como estratégia de campanha a disputa Norte-Sul, isto é, países desenvolvidos versus países em desenvolvimento, batendo na tecla de que não fazia sentido que um europeu ? no caso principalmente do candidato espanhol - representante da região que mais investe em subsídios para o setor agrícola, dirigisse um órgão que tem como meta promover a agricultura dos países mais pobres.

O alvo principal desde o início da disputa e adversário de José Graziano era o espanhol Miguel Ángel Moratinos, que havia centrado sua campanha na ideia do quanto à Espanha contribuía para as Nações Unidas e quanto um país rico poderia fazer pela FAO.

Porém, a crise econômica que se abate sobre país e a conseqüente perda de apoio popular do governo de José Luis Zapatero, de quem Moratinos foi chanceler, terminaram beneficiando o Brasil.

Para o brasileiro José Graziano vencer a eleição, o Brasil contou com votos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, de latino-americanos, com exceção do México que votou em Moratinos, países africanos e árabes, além de ter tido o apoio da Indonésia, no segundo turno da votação e outros países asiáticos.

Nascido na cidade de Chicago, nos EUA, mas com cidadania brasileira, José Graziano é agrônomo e ocupava o posto de representante regional da FAO desde 2006. Ele se destacou principalmente, em razão de ter sido ministro de Segurança Alimentar e Combate à Fome no primeiro ano do governo Lula.

Seu mandato vai de 1º de janeiro de 2012 a 31 de julho de 2015. Ele encontrará pela frente a dura tarefa de reformar um organismo internacional sob críticas pesadas. Nos últimos anos, a instituição já foi acusada de ser vagarosa e desperdiçar dinheiro na execução de seus programas para combate a fome no mundo.

A FAO foi criada em 1945 e tem sede em Roma, na Itália. O organismo conduz as atividades internacionais com a finalidade de erradicar a fome em países desenvolvidos assim como em países em desenvolvimento.
Além do mais, é papel da FAO proporcionar conhecimento através de estudos, debates e análises, inclusive fornecendo assistência técnica e realizando projetos junto aos 191 países inscritos.

O Brasil já buscava eleger a muito tempo alguém para um órgão importante da ONU e dessa vez acabou conseguindo.

Parabéns, José Graziano! Que o senhor tenha pleno sucesso em sua administração frente à FAO.

Autor: Roberto Jorge Ramalho Cavalcanti


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