A utilização de instrumentos facilitadores para diminuir a problemática da internação de uma infante portadora de Síndrome de Takayasu



"A utilização de instrumentos facilitadores para diminuir a problemática da internação de uma infante portadora de Síndrome de Takayasu". *Karine Carvalho Possi¹, **Miriani de Pasquali². RESUMO O presente estudo traz o relato de caso de uma infante de 1 ano de idade, que aos 8 meses apresentou crises convulsivas e sofreu um AVE, foi internada em instituição infantil de referência na cidade de São Paulo, acompanhada de sua mãe que referiu que antes do AVE a criança brincava e agora não demonstra mais vontade de brincar. Traz um histórico de 3 irmãos por parte paterna falecidos pela mesma doença. Abordaremos então o quão imperativo foi acolher essa mãe que mostrou-se desprovida de conhecimento sobre as causa da doença da filha e a amostragem dos instrumentos facilitadores para minimizar os danos da internação à criança. PALAVRAS CHAVE: Brinquedo terapêutico, assistência de enfermagem, família. ABSTRACT This study presents the case report of an infant 1 year of age, who at 8 months had seizures and suffered a stroke, was hospitalized in infant institution of reference in Sao Paulo, accompanied by her mother who said that before stroke play and the child now does not show more willingness to play. Brings a history of three brothers by father died the same disease. We will discuss how imperative was so welcome that this mother was found to be lacking in knowledge about the cause of the illness of her daughter and sampling of facilitating instruments to minimize damage to the child's hospitalization. KEYWORDS: Therapeutic play, nursing care, family *Enfermeira Pós Graduanda em Docência do Ensino Superior **Enfermeira Pós Graduanda em Enfermagem do Trabalho Contato: [email protected] INTRODUÇÃO Arterite de Takayasu (AT) é caracterizada pela vasculite da artéria preferencialmente a aorta e desenvolve nela um processo inflamatório envolvendo a parede inteira do vaso, causando alterações neurológicas como acidente vascular, alterações cardíacas como infarto do miocárdio e ICC. Popularmente entre a rede médica ao se referirem à AT, a denominam como a "doença sem pulso" 9. Sua etiologia é desconhecida. Faz parte do hall das patologias raras e consequência disso são as dificuldades encontradas pela equipe médica de realizar o diagnóstico correto, decorrente da existência de poucos relatos o médico nunca suspeita do paciente ter AT quando é procurado; pela equipe de enfermagem ao realizar o exame físico detecta-se alterações características, porém pouco vistas e causa confusão entre as opiniões . Fatores esses que mostram a necessidade de uma revisão e levantamento científico pelo tema, na tentativa de atualização sobre o tema. Aos portadores de AT é conhecido e relatado cientificamente que todos terão algum AVE, infarto do miocárdio e ou Insuficiência cardíaca, diminuindo sua expectativa de vida para 15 anos de idade. Porém muitos tornam-se adultos e a problemática da doença acarreta à eles má qualidade de vida, sendo então vital ao paciente portador de AT que seja diagnosticado precocemente, antes do surgimento das complicações cardíacas secundárias das inflamações coronarianas. A incidência da AT é maior em países asiáticos, mas com a miscigenação qualquer etnia em diferentes partes mundiais podem herdar geneticamente a doença. A maioria dos casos que são descritos na literatura descrevem mulheres em torno de 20 anos, onde todos as complicações da doença vêm à tona com o amadurecimento hormonal. Dentre os sintomas nessa faixa etária podemos citar a febre, emagrecimento, artralgia, déficit circulatório, ausência de pulso, HAS que não responde ao tratamento medicamentoso facilmente, dispnéia, alta % de desenvolvimento bilateral de amaurose. Anteriormente ao cuidar de uma criança hospitalizada a preocupação era somente na doença em si. Atualmente a abordagem foca as necessidades da criança e da família. A assistência com o olhar para a família percebe que essa passa por um momento em que vivencia a doença, hospitalização de um filho, perdendo sua autonomia de pais nas decisões.5 À partir desse ponto é que o enfrentamento deve ter um suporte e o profissional capaz disso é o enfermeiro(a) que deve oferecer a brincadeira à criança encarando o ato como parte importantíssima de sua assistência à criança, devendo ser usado por toda criança hospitalizada e facilitando a explicação para os futuros procedimentos que ela sofrerá no hospital. A abordagem centrada na família reconhece tal como freqüente na vida da criança, devendo assim a instituição oferecer apoio, facilitar os meios para que a estadia e visita dos familiares seja prazeirosa, respeitando diferentes crenças e valores11 . Ao assistir uma criança portadora de doença congênita com complicações cardíacas deve-se ter a ação voltada para diminuição do trabalho cardíaco, preparo da criança para exames invasivos como cateterismo, aplicação de medidas que melhorem seu estado geral e fazendo com os sintomas diminuam. Pensando na diminuição dos riscos possíveis à criança cardiopata referente ao seu manuseio, atentamos para observação do quadro respiratório antes de manusear e não realizar manobras bruscas que podem desencadear descompensação clínica³. Levando em conta que estar internado já é o estresse maior para a criança e pode ter seu estado agravado por isso, a enfermagem lançou mão de recursos que diminuam esses agravos, como por exemplo o brinquedo no hospital. Ele vem sido utilizado como forma de aliviar as tensões causadas pela internação, pela mudança de ambiente e por se ver cercado por pessoas estranhas, também ressalto aqui a importância de estimular o desenvolvimento físico e mental no período de internação. Atuando como instrumento facilitador da diminuição da problemática em torno da situação da criança a utilização do brinquedo pela enfermagem é recomendada pelo COFEN na Resolução nº 295/2004 10. O uso do brinquedo pela enfermagem é bem aceito principalmente para a criança não associar esse profissional à procedimentos desagradáveis e brincando juntos conseguem estabelecer uma relação amistosa e agradável. A criança referida no estudo brincou de forma solitária e independente, centralizando seu interesse na própria atividade, tendo dificuldade para pegar objetos grandes pois devido ao AVE, houve perda muscular do MMSE. A finalidade da brincadeira nesse caso foi a "Estimuladora" em que o brinquedo é facilitador para o desenvolvimento sensório-motor e da sua criatividade nata5. Outro instrumento facilitador utilizado no planejamento da assistência à criança mencionada acima, foi o "Ecomapa e Genograma", que permitem a realização eficaz da avaliação familiar objetivando a visão real dessa família, retratando relações importantes, relações oprimidas por conflitos, descrevendo os tipos de vínculos com cada membro; e o Genograma traça uma árvore familiar onde todos os dados como saúde, etnia, religião, ocupação, etc, aparecem descritos no gráfico genealógico¹. A interação Medicamentosa faz parte dos cuidados de enfermagem e é definida pelo efeito da administração de um medicamento, se associado a outro medicamento, alimentação, substâncias pode ocorrer efeito inesperado. Isso ocorre em maior índice quando faz-se uso da politerapia8. A enfermagem desempenha fundamental papel na diferença entre o efeito da medicação ser benéfico ou não. DESCRIÇÃO DO PROTOCÓLO DE AÇÃO REALIZADA NA ASSISTÊNCIA: · Lavagem das mãos antes e após manuseio da criança; · Manter as grades do leito sempre erguidas; · Estudar a tolerância ao esforço físico resultante de banho, alimentação, procedimentos; · Verificar o posicionamento em que a respiração melhora; · Monitorar continuamente a oximetria, FC, FR e temperatura; · Realização de exame físico diário e a pesagem de fraldas; · Vigiar o aparecimento de sinais e sintomas que indiquem mudança de quadro do estado geral, se ocorrer informar o pediatra; · Assistir, ouvir, resolver os problemas que a mãe expôs; · Proporcionar ambiente calmo, silencioso e auxiliar a ter momentos de repouso à fim da diminuição do trabalho cardíaco; · Evitar rodiziar a equipe de enfermagem para que a criança não estranhe e sinta medo, causando estresse e aumento da PA; · Utilizar de atitudes de conforto (colo, abraços) à criança antes de realizar um procedimento doloroso; · Administrar alimentação por sonda nasogástrica, uma vez que alimentação V.O, não é aceita pela criança; · Encorajar a mãe à presenciar os procedimentos5. DIAGNÓSTICOS E INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM REALIZADOS NA INTERNAÇÃO6 , como ilustra a Tabela 1, abaixo: D.E. I.E. Risco de desnutrição pela dificuldade de se alimentar por via oral devido ao cansaço que gera; Controle hídrico, terapia para deglutição, controle do peso, controle nutricional. Risco de déficit de higiene e chances aumentadas de desenvolver feridas, assaduras, problemas de pele Supervisão e cuidados da pele, cuidados com o períneo, hidratação. Mobilidade física prejudicada relacionada à restrição de movimento e/ou dor. Promoção do exercício físico para fortalecimento e propiciar o equilíbrio. Comunicação prejudicada pelo atraso da fala e estresse; Aumento da socialização e aumento da disposição para compreensão. Medo dos procedimentos hospitalares; Controle do ambiente, propiciar distração com técnica para acalmar. Tensão do papel do cuidador definido pela falta de tempo para si, a preocupação com outros filhos, da complexidade das atividades e recreação insuficiente. Apoio ao cuidador na melhora do enfrentamento, cuidando da criança durante descanso do cuidador, terapia recreacional. D.E: diagnóstico de enfermagem I.E: intervenção de enfermagem Acolhimento de Enfermagem prestado à família que tem um portador de doença crônica. Na assistência da infante referida nesse estudo, tornou-se claro o baixo nível de conhecimento da condição da criança por parte dos pais. Foi possível buscar os fatores genéticos com o genograma e a herança genética foi herdada pelo lado paterno. Casal muito humilde e devido à falta de conhecimento total da doença houve o afastamento por parte do pai, que não queria mais visitar a filha, pois referiu... "que ela iria morrer e ele já estava cansado de entrerrar seus filhos que morriam da mesma coisa, sempre...(SIC)", é sabido que pais que exitam em participar da assistência do filho internado tendem a distanciar-se emocionalmente do filho e consequentemente da mãe que na maioria das vezes abdicou da sua vida para acompanhar e cuidar do filho12. Durante a avaliação de enfermagem tivemos a chance de abordar a mãe fazendo uso da comunicação terapêutica oferecendo à ela a oportunidade de ser ouvida, de receber o apoio emocional na prática, pois esta encontrava-se em estado misto de ansiedade com angústia como anotou a psicóloga no prontuário sobre a condição da mãe da infante. Fato esse que nos mostrou o importantíssimo papel que a enfermeira com seu conhecimento científico deve orientar a família, verificando se entenderam realmente a condição da criança, quais os sentimentos que essa condição lhes despertou, e planejar intervenções que ajudem no enfrentamento desses pais. DIAGNÓSTICO CLÍNICO Faz-se necessária a realização da angiografia e coleta de dados clínicos. No paciente em fase infantil o início faz-se agudo e desenvolvem Insuficiência Cardíaca. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO Inclui altas doses de corticosteróides na fase em que a doença está ativa e essa conduta deve durar no mínimo 3 meses. Ao desmame do corticóide a conduta é administrar medicação imunossupressora com a proposta de evitar que a doença se reative. Porém tal conduta torna o organismo mais suscetível a contrair infecções devido à baixa de sua imunidade nata. O tratamento da infante durante internação foi Intra Venoso e Via Sonda Nasogástrica, e a medicação prescrita foi (anlodipino,carvedilol,carbamazepina, ceftriaxona, metilpredsonolona succinato). CUIDADOS DE ENFERMAGEM NA INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA2: Anlodipino é anti hipertensivo. Foi monitorizado a função dos níveis séricos de potássio e a PA que pode sofrer redução excessiva se unido à um diurético. Carvedilol é anti hipertensivo. Não pode ser suspensa a ingesta da medicação, administrado no horário da alimentação para evitar hipotensão, atentar para quedas, manter a grade do leito sempre erguida. Ceftriaxona é antimicrobiano para infecções resistentes. Foi verificado resultado de cultura antes da administração da droga; monitorada as funções renal e hepática, a infusão IV foi realizada em 5 minutos e dissolvida em 10 ml de água destilada. Metilpredsonolona Succinato é indicado na inflamação aguda também, administrar 9 horas de espaço para outro medicamento. OBJETIVOS · Fundamentar cientificamente os diagnósticos de enfermagem fazendo a junção da revisão literária referente a Síndrome de Takayasu. · Promover catarse da infante e da mãe na tentaiva de minimizar a problemática da hospitalização. · Elaborar protocolo de assistência centrado na família. METODOLOGIA A base metodológica do estudo foi descrever os eventos ocorridos durante a hospitalização da infante, com abordagem acolhedora pudemos intervir ativamente na diminuição dos sentimentos negativos por parte da mãe, respeitando suas crenças e cultura. Foi relatado no estudo as características clínicas do caso, os procedimentos realizados pela enfermagem e a incersão do brinquedo terapêutico e os demais instrumentos facilitadores utilizados como meio de comunicação e entendimento da família. RESULTADOS Através do relato da mãe, suas dúvidas e medos quanto à internação e prognóstico de vida da filha não haviam sido cogitados pela equipe até nosso envolvimento no caso. A partir daí a mesma referiu que não teme mais os procedimentos que realizamos na filha, pois ela tem conhecimento ainda que leigo sobre o que será administrado e questionar quando algo não lhe parecer correto. A mãe deve sempre ser ouvida, pois é ela quem cuida e passa mais tempo com a criança, e as equipes devem ter em mente que não se deixa de ser mãe com a internação de um filho, e se esse papel parecer à ela retirado, os danos emocionais futuros podem ser graves, como a rejeição, não adesão ao cuidar da criança como lhe foi sugerido12. Os objetivos foram atingidos auxiliados com a utilização dos instrumentos facilitadores, sendo o brinquedo terapêutico o meio da criança se comunicar, se socializar ainda que timidamente como foi o caso nesse estudo, e com a mãe promoveu catarse e meio de comunicação para expressar seus sentimentos. Ao ouvir o enfermeiro abre a porta do vínculo com o paciente ou a família, sendo visto como figura conhecedora da teoria, e na prática ao realizar procedimentos une-os à política de acolhimento como rege o SUS. CONCLUSÃO Ao abordar brincando a criança, sua estranheza e medo diminuíram e esse fato foi percebido com o cessar do choro desesperado que presenciamos anteriormente, um importante ponto foi não rodiziar a equipe criando vínculo da criança e confiabilidade da parte dela com a equipe11. Ao exercer o acolhimento no atendimento à essa família propiciamos à ela o entendimento e ajudamos para que conseguissem adquirir as competências necessárias para que pudessem ser mais autônomos no que diz respeito aos seus direitos, em como buscar suprir suas dúvidas e autonomia para questionarem a equipe sobre o tratamento. A mãe deve ser ouvida, pois é ela quem acompanha a criança, ela mais do que ninguém conhece a preferência do filho e isso minimiza o estresse e ajuda no tratamento. No caso da criança do estudo que mostrou-se extremamente nervosa, impor à ela uma presença desnecessária para realizar cuidados que a mãe pode desenvolver é aumentar o sofrimento e a piora no seu estado geral. Ao planejar uma assistência focada na criança e sua família nosso objetivo foi procurar meios que minimizassem os traumas da hospitalização para a criança e aumentar o enfrentamento da mãe diante da gravidade da doença da filha. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 POTTER P. Fundamentos da Enfermagem. Ed.Elseiver. 6ªed.Rio de Janeiro, 2005. 2 GOLDENZWAIG N.R.S.C. Administração de Medicamentos na Enfermagem. Ed. Guanabara Koogan. 9ªed. Rio de Janeiro, 2010. 3 GARIJJO et all. Pediatria. Guias Práticos de Enfermagem. ED. MC Graw Hill. 1ªed. Rio de Janeiro, 2000. 4 ARANHA.M.F. Cuidar em Enfermagem. Ed Difusora. 1ªed. São Caetano do Sul, 2010. 5 ALMEIDA F.A; Sabatés.A.L. Enfermagem pediátrica. Ed. Manole. 1ªed. Barueri, 2008. 6 Ligações entre NADA, NOC e NIC. Ed.Artmed. 2ª Ed.Porto Alegre, 2009. 7 SABATÉ A.L, Almeida F.A. Enfermagem Pediátrica: a criança, o adolescente e sua família no hospital. Ed. Manole. 1ª Ed, Barueri, 2008. 8 HOEFLER R. Interações Medicamentosas. Encontrado em:http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/multimedia/paginacartilha/docs/intMed.pdf. Acessado em 11 de abril de 2010. 9 ARMANDO M.J. Arterite de Takayasu. Encontrado em:. Acessado em 09 de março de 2011. 10 RESOLUÇÃO COFEN 295/2004. Encontrado em http://site.portalcofen.gov.br/node/4331. Acessado em 19 de março de 2011. 11 FROTA M.R et all. O Lúdico como cuidado na humanização de crianças especializadas. Encontrado em : http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/cogitare/article/viewArticle/8270. Acessado em 03 de abril em 2011. 12 POSSI K.C et all. O papel do enfermeiro no cuidar do paciente portador da SPW, auxiliando os familiares com as adaptações necessárias. Encontrado em:. Acessado em 11 de abril de 2011.
Autor: Karine Carvalho Possi


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