Artigo Revolta Da Vacina E Reforma Urbana No Periodo Da 1ª Republica 1902-1906



A revolta da vacina foi um movimento social urbano que marcou a sociedade política durante a primeira Republica brasileira. (1902-1906). No dia 09 de novembro no ano de 1904, é publicado oficialmente o plano de aplicação da vacina obrigatória contra a varíola. Este projeto havia sido apresentado à4 mesesantes emumcongresso,pelosenador de Alagoas ManoelJose Duarte.

A partir deste momento se desencadeia um debate transpondo as dimensões do legislativo, para empolgar toda a imprensa da capital federal que era o Rio de Janeiro.

O governo tinha grande interesse nesta medida, e era apoiado pela maioria no congresso. Por outro lado podemos dizer que existia uma minoria parlamentar constituída pela imprensa não governista, e até mesmo a população da cidade que resistiam a tal implantação.

O governo argumentava que, a vacinação era de inegável e imprescindível interesse para a saúde pública. Havia inúmeros focos endêmicos da varíola no Brasil, o maior número deles estava concentrado no Rio de Janeiro. A oposição como já citei antes, com grande furor e totalmente enraivecidos, respondiam ao governo que os métodos de aplicação no caso de lei Brasileira, eram poucos confiáveis e os enfermeiros e funcionários agiam com grande brutalidade.

Estes mesmos opositores alegaram ainda mais que se realmente o governo acreditasse nas qualidades da vacina e também as suas necessidades então, deixasse a cada consciência, a liberdade de decidir para a sua aplicação ou não, e que cada um escolhesse a condição que melhor lhe conviesse.

A REFORMA URBANA

No inicio do século XX, o Rio de Janeiro possuía uma característica de suma importância que era a sua beleza, enquanto capital federal. Neste inicio de século, por ocasião de uma intervenção, ele sofre grandes revoluções que abalam de fato toda a sua estrutura e fisionomia. A reforma urbana acontecida no Rio de Janeiro, não era prevista de fato das ações de múltiplas forças humanas e não humanas.

Como estou relatando um fato ocorrido no período da primeira Republica, é possível se ter uma idéia de como o imaginário de um lugar surpreende as pessoas que estão sempre em análise, de assuntos ligados a modelos e padrões estatais.

A imagem da primeira Republica se confundia quase com a da Revolução de 1789, da qual se salientava principalmente a fase jacobina, os aspectos de participação popular. Isto é, a fase que mais se aproximava da concepção de liberdade ao estilo dos antigos segundo Benjamim Constant. (CARVALHO, José Murilo de1998 p.86). A grande busca pela identidade coletiva para o país e uma grande base para que se pudesse construir uma nação foi à peça fundamental que vários intelectuais, como Euclides da Cunha buscava na primeira Republica. (1889-1930).

José Murilo de Carvalho deixa claro ao dizer que Euclides da Cunha em os Sertões, Descobria e revelava de maneira dramática ao país uma vasta parte da população nacional, marginalizada no interior do país, e hostil a República e aos valores seculares que o acompanhavam:

"A revelação de Euclides da Cunha era particularmente chocante porque se dava apenas um ano antes do inicio das reformas do Rio de Janeiro, no auge do espírito Belle Époque que procurava dar ao país, ao menos a sua capital, ares de civilização parisiense".

O Rio de Janeiro estava com uma grande formação de novos bairros e ruas, mas apesar disto, havia uma condensação muito grande das novas relações econômicas capitalistas. O ganho incerto de um lucro provenientes de mercadorias de camelôs, muitos casarões, bancos e estalagens, cômodos sujos faziam parte de sua área central.

Como se instalava um surto de epidemias talvez até mortíferas começam a ser discutido em formas de debates no Rio de Janeiro, os problemas de saúde que começavam a afetar a população.

"Higienistas lutaram e foram os primeiros a discutirem no Rio sobre as condições de vida, propondo intervenções drásticas para restaurar o equilíbrio do organismo urbano". (Benchimol, pág.239).

Os Higienistas condenavam as condições precárias existentes na cidade como, corpos enterrados nas igrejas, animais mortos por todos os lados e muito lixo amontoados, isto fazia com que a proliferação de doenças aumentasse ainda mais. Em dezembro de 1879, Domingos Freire da academia de Medicina do Rio de Janeiro, anuncia pelos jornais, uma grande descoberta de um micróbio, alegando ser o causador da febre amarela. Ele desenvolve uma vacina por meio de técnicas concebidas por Louis Pasteur.

De acordo Com Jaime Benchimol[1], a proclamação da Republica, em novembro de 1889, aconteceu em meio a uma epidemia muito grave e, enquanto o novo governo negociava a federalização dos serviços de saúde, a vacina de Domingos Freire transformou-se em uma instituição governamental. Existia uma grande preocupação em saber a origem das epidemias, se eram provenientes de miasmas-ambientes ou se era originaria de micróbios, isto é pelo contato físico.

Rodrigues Alves assumiu a presidência da Republica no ano de 1906, tinha como um de seus projetos principais atacarem o mal que assombrava toda a capital, que era a febre amarela, a varíola e a peste bubônica. A modernização do porto e remodelagem da cidade estava dentro deste projeto. Com grande responsabilidade em manter a cidade limpa, e longe de tantas doenças infecciosas, Alves nomeia Pereira Passos e o médico Osvaldo Cruz para se empenharem junto à ele nesta reforma sanitarista.

Rodrigues Alves, presidente do Brasil de 15 de novembro de 1902 até 15 de novembro de 1906.

Logo após ser nomeado pelo presidente Rodrigues Alves, o medico responsável pelo saneamento, Osvaldo Cruz assume o cargo em 1903.

 O Rio de Janeiro perde a sua supremacia como exportador de café, e inicia em 1904 uma modernização capaz de dar a si mesmos ares de uma cidade luxuosa. A Avenida central foi toda remodelada, as casas retratavam o século XX. Francisco Pereira Passo executava planos de melhoramentos da prefeitura, e esta remodelagem dava a cidade uma sensação de pura higiene

.

   Pereira Passos começou então a investir na cidade como nunca havia visto antes. Queria implantar formas de trabalho diferentes daquelas que havia existido antes. Distribuiu circular em toda a cidade, revelando o seu olhar atento diante das fiscalizações.
"Comecei por impedir a venda pelas ruas de vísceras, expostas em tabuleiros cercados pelo vôo continuo de insetos, que constituía espetáculo repugnante". (...).

A REVOLTA DA VACINA

Em 1903, foram apresentados vários planos de campanhas lideradas por Osvaldo Cruz, ao ministro da justiça contra o vetor da febre amarela. A Saúde Pública teria de impedir a contaminação dos mosquitos pelos amarelentos infectantes, a infecção dos mosquitos contaminados e a permanência dos casos esporádicos que garantiam a continuidade da doença nos intervalos epidêmicos. Em relação à varíola, bastaria vacinar toda a população para que a doença fosse controlada. A peste bubônica seria detida pelo extermínio de ratos, por medidas urbanas e pelo uso do soro e da vacina fabricados no instituto de Maguinhos. (Franco, 1969; Benchimol, 1999).A cidade do Rio de Janeiro estava cada vez mais sendo modificada. As ruas foram divididas em distritos sanitários e com delegacias de saúde. Os responsáveis pelos distritos tinham incumbência de receberem notificações, aplicarem soros e vacinas e intimar proprietários de imóveis onde detectassem focos epidêmicos. As pessoas doentes e infectadas eram levadas para hospitais munidas de todos os seus pertences, e até mesmo para desinfetórios que Osvaldo Cruz havia construído. Ainda de acordo com o ilustre BENCHIMOL (1999),a campanha contra a peste bubônica foi menos controvertida do que a febre amarela. Ele afirma em um artigo que produziu, relatando a reforma urbana e a revolta da vacina no Rio de Janeiro que para o combate da peste bubônica houve uma grande comercialização de ratos, o que incentivaria o povo a acabar com os entulhos em imóveis e porões.

(...) "A desratização da cidade, em colaboração com a Prefeitura, redundou na emissão de centenas de intimações a proprietários de imóveis para que removessem entulhos e executassem reformas, sobretudo a impermeabilização do solo e a supressão de porões. A DGSP lançou mão de um credito especial para compra de ratos, o que gerou ativa indústria de captura e comercialização dessa exótica mercadoria". (BENCHMOL, 1993. Pág.272).

Para se combater a varíola, era necessário que a população fosse vacinada. Osvaldo Cruz elaborou um regulamento que não estava mais sujeito as discussões e deveria ser aplicada a toda população. O jornal do Rio A Noticia publicou na seqüência um esboço do decreto elaborado por Osvaldo Cruz, e a partir de então o pânico e a indignação tomaram conta de toda a cidade. (SEVCENKO, 1993, pág.17). O regulamento para as vacinações era extremamente rígido, de acordo com Nicolau Sevcenko, abrangia desde os recém-nascidos até os idosos, tendo como objetivo um amplo sucesso em pouco tempo.

Diante de vários relatos de autores que escreveram sobre a Revolta da Vacina é possível se ter uma idéia de que, diante tais circunstâncias, não havia nenhum tipo de preocupação com as condições psicológicas das pessoas, ou mesmo com a preparação para receber uma grande imposição e obrigatoriedade para cumprir tal ato. Logo após ter sido publicada a regulamentação a cidade se torna em um verdadeiro poço de grande rebeldia e alvoroço.

Bibliografia:

CARVALHO, José Murilo de. Pontos e Bordados. Belo Horizonte, Ed. UFMG, 1998.

BENCHIMOL, Jaime. Reformam urbana e Revolta da Vacina do Rio de Janeiro. Artigo.

SEVENCENKO, Nicolau. A Revolta da Vacina. São Paulo, Ed. Scipione, 1993.




Autor: Elizana Souza Andrade


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