Uma nova civilização energética
Forte é a idéia cujo tempo chegou
Victor Hugo
O crescimento exponencial das sociedades industrializadas manteve-se em razão da existência de recursos naturais abundantes e baratos. O desenvolvimento da ciência e da tecnologia, aliado à grande disponibilidade de recursos energéticos, propiciou esse progresso conspícuo na história mundial.
A globalização e o crescimento desenfreado da economia nos últimos dez anos deixaram para trás a era da energia barata e da fartura de recursos naturais. Um grande número de investidores foi atraído para projetos de geração de energia limpa, mas a crise financeira que eclodiu em 2008 reduziu as linhas de crédito para o investimento.
A natureza submetida ao capital foi reduzida a recurso natural. Destarte, o processo natureza ’ recurso ’ energia submeteu-se ao capital na forma abstrata de acumulação de riqueza, o que permitiu o aumento exponencial da capacidade de trabalho. Produziu-se, então, o crescimento ilimitado de produtos materiais em uma mesma unidade de tempo abstrata: o poder financeiro é o motor da velocidade do crescimento econômico.
Galileu Galilei dizia: "a linguagem da natureza está escrita em linguagem matemática". Moléculas de carbono mineralizadas são energia, e o capital apropria-se da energia fóssil e de um tempo materializado de trabalho geológico de milhões de anos e submete-o à lógica capitalista do curto prazo para produzir riqueza, mas também degradação ambiental sem regenerar o capital natural.
A destruição contínua e progressiva do planeta é consequência do lucro em curto prazo, posicionado erroneamente à frente das reais necessidades humanas. Em longo prazo, a preservação do status quo ambiental implica rupturas radicais na forma pela qual se gere o planeta no uso de energia, a fim de que populações ricas, em seu modo de vida, considerem primordial respeitar a capacidade de suporte do planeta e as necessidades e os interesses dos bilhões de pobres alijados do acesso a recursos básicos para seu bem-estar.
A tendência em expandir a busca e o uso de energias alternativas renováveis, limpas e baratas é inexorável e imperativa. Políticas energéticas de longo prazo devem inibir externalidades negativas, como a poluição, e priorizar a descoberta de novas fontes, a redução do consumo e a mudança de estilos de vida perdulários, com a utilização sustentável dos recursos naturais.
A limpeza da atmosfera é uma tarefa para diversas gerações, e o mundo está atrasado em sua execução. Muitos cientistas e estudiosos acreditam que serão necessários cerca de mil anos só para controlar a temperatura do planeta, tão grande é o grau de impregnação da atmosfera. O dióxido de carbono pode permanecer de cinco a duzentos anos na atmosfera.
O sistema da Terra comporta-se como um sistema único, autorregulador, formado por componentes físicos, químicos, biológicos e humanos. Organismos, rochas de superfície, oceano e atmosfera estão estreitamente unidos como um sistema integrado em evolução, com o objetivo de manter o equilíbrio das condições de superfície favoráveis à vida atual. Segundo Lovelock, o aquecimento global já interrompeu esse equilíbrio e o ponto de retorno já foi ultrapassado, já que o ser humano não se prepara para o desenvolvimento sustentável, mas, sim, para a retirada sustentável. No entanto, faz-se necessário encontrar alternativas para restabelecer o equilíbrio do planeta, e um dos meios para se alcançar isso é usar mais eficientemente a energia, de forma a não permitir sua degradação entrópica, mas, sim, incentivar a parcimônia termodinâmica.
Ao desenvolver energia renovável, e não poluente, diminui-se a emissão de gases que provocam o efeito estufa, mitigando o aquecimento global. Por volta de 80% desses gases são provenientes da queima de petróleo, carvão e gás, e os outros 20% são provenientes do desflorestamento e das queimadas. Cerca de 50% do CO2 liberado é reabsorvido pelos oceanos, por reflorestamentos e pelo crescimento vegetal (as plantas utilizam CO2 como fertilizante). O restante migra para a atmosfera.
Os combustíveis fósseis irão se extinguir da face da Terra, mas até que isso ocorra, em um horizonte que pode chegar a mais de um século, urge que se iniciem outras ações pela preservação das espécies e da vida. O transporte rodoviário contribui com 17% das emissões mundiais de CO2. Nos EUA, país detentor da maior frota de automóveis do mundo, a contribuição de veículos automotivos para o aquecimento global chega a 20% em virtude do alto consumo de seus enormes carros de luxo e da quase inexistência do uso de combustíveis renováveis.
O homo sapiens já provou, após 5 mil anos de civilização, que pode vencer os desafios da exaustão de recursos naturais, doenças e deteriorações do meio ambiente, apesar de, em casos isolados, como a Ilha de Páscoa, não ter sido capaz de fazê-lo. O grande erro humano é extrair, do local onde vive, energia em dimensões muito superiores àquelas que são naturalmente disponibilizadas pela natureza. Isso ocorre desde o início do século XIX e é um erro quantitativo, e não qualitativo, de degradação entrópica.
Chegou o tempo de uma nova ideia. As matrizes energéticas das nações serão compostas por diversas fontes, com migração cada vez mais intensa de energias sujas e finitas para fontes limpas e renováveis, como: eólica, solar, biomassa, geotérmica, das marés. E certamente novas fontes surgirão, oriundas da sapiência humana.
Autor: Rodnei Vecchia
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