Outros tempos, outros valores



Outros tempos, outros valores

É verdade que entre a maioria dos jovens de hoje, poucos leram os gibis que líamos naqueles bons tempos de nossa juventude. Tempos, aqueles, em qual líamos as aventuras dos nossos heróis ao mesmo tempo em que, na vida real, nos batíamos contra um inimigo tão onipresente e cruel como o grande irmão (big brother) do George Orwell (sei que alguém deve ter lido "1984", a ficção científica que prenuncia o mundo da completa vigilância sob a qual todos viviam, muito parecido com o nosso): eram tempos de ditadura.
Entre os jovens atuais poucos desenvolveram o gosto pela leitura, talvez porque os gibis perderam seu espaço de encantamento. Não se lê mais porque alguns jovens freqüentaram uma escola que recebeu a missão de desensinar e por isso não sabem nem ler nem escrever; outros porque recebem seus "super-heróis" por meio de uma caixa de pandora chamada de Televisão... isso sem contar que os mais novos nem TV assistem mais... passam seu tempo clicando aqui e ali... e, quando lêem, são algumas poucas palavras criptografadas, tipo vc, pq, kkkk, rsrsrs... sem contar as inversões de significado: "irado" perdeu a ira para significar algo parecido com estupendo; ou então essa coisa que apareceu numa linguagem vazia: "véi" (era para ser velho, mas o interlocutor do que diz "véi" é um jovem... e outros códigos incógnitos. Mas a redação mesma, e a leitura, são competências que se perdeu no tempo... poucos, hoje, a desenvolvem...
Dito isso, vamos ao que nos interessa: a crise de valores que invade nossa sociedade. De onde vem isso? Evidentemente não do desenvolvimento da sociedade, mas da falta de perspectiva para o desenvolvimento; não das conquistas sociais, mas das limitações impostas pelos "donos do poder" sobre aqueles que precisam "ralar" para sobreviver.
O mundo que foi se formando na medida em que encolhia, (não por se tornar pequeno, mas por que os veículos de comunicação e de transporte podem nos aproximar de tudo... desde que para isso tenhamos condições de pagar) foi, simultaneamente, impondo novos valores. São, portanto, esses novos valores que explicam os maus comportamentos que vemos no dia a dia. E, por incrível que pareça, recebemos essas influências dos nossos antigos super-heróis...
Pode ser que seja só um texto baseado na ironia, mas o tom irônico que perpassa o texto do e.mail que circulou dias atrás, pode ajudar a explicar nossos comportamentos. Afinal os super-heróis foram criados para servirem de motivação e modelo para os leitores. Veja só:
"O Tarzan corria pelado, por aí...
Cinderela chegava em casa meia noite...
Aladim era ladrão...
Batman dirigia a 320 km/h...
Pinocchio mentia...
Bela Adormecida era uma vagaba...
Salsicha via fantasma e conversava com o cachorro...
Zé Colméia e Catatau eram cleptomaníacos e roubavam cestas de pic-nic...
Branca de Neve morava na boa com 7 homens (pequenos)...
Olívia Palito tinha bulimia
Popeye fumava um matinho suspeito!!!
Super Homem, doidão, colocava cueca por cima da calça;
A Margarida namorava o Pato Donald e saía com o Gastão"
Frente a esses exemplos (na verdade maus exemplos), o autor do texto, irônico, faz a afirmação não só retratado nossa sociedade, mas também a inauguração de outros valores, dizendo: "Olha os exemplos que eu tive! Agora pedem pra eu me comportar!"
E se pensarmos bem, se de um lado os super-heróis nos eram apresentados como personagens capazes de superar muitos obstáculos para vencer o mal, por outro, de forma subliminar nos davam esses exemplos de desequilíbrio pessoal e social. E por essas e por muito mais, estruturou-se o mundo atual, no qual gritamos contra os novos valores (corrupção, descompromisso social, desumanidade...).
Por essas e outras é que entendemos a crise e a encruzilhada em que se encontra nosso mundo. Os de nossa geração perdendo o controle, assistindo o começo do fim; os mais novos, os jovens, completamente desorientados. Porque? Porque em novos tempos, novos valores nos matam...

Neri de Paula Carneiro ? Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador.
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Autor: Neri P. Carneiro


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