QUITOSANA: Contextualizando o ensino da química através das carapaças de caranguejos e camarões



INTRODUÇÂO:

Este artigo apresenta uma pesquisa em desenvolvimento no Laboratório de Química do Liceu de Camocim Deputado Murilo Aguiar, fazendo uma ponte entre ambientes pedagógicos, parceiros externos e a sala de aula, dentro do estudo dos Compostos Químicos, presentes nos conteúdos de Química, onde o mesmo apresenta problemas para uma compreensão clara. Devido a sua natureza abstrata, o aluno por muitas vezes não consegue compreender como estruturas tão pequenas podem nos rodear e nem mesmo somos capazes de percebê-las e diferencia-las. Na maioria das vezes esta explicação se restringe ao recurso de quadro, giz e livros.

Muito se tem falado sobre a necessidade de significar os conteúdos que ensinamos nas salas de aula, e isso passa, também, pela revisão da metodologia de trabalho dos professores de química. Essas podem voltar-se, seguindo a orientação dos Parâmetros Curriculares Nacionais, para a"contextualização" dos conteúdos e para a "interdisciplinaridade". O que se propõe aqui é pensar em estratégias para significar os conteúdos escolares, a partir da ênfase na problematização do objeto de estudo, já que a partir da criação de situações-problema, podemos estabelecer relações entre o conhecimento escolar com os dados da experiência cotidiana, de modo a "dar significado ao aprendido e a captar o significado do mundo, a fazer a ponte entre teoria e prática, a fundamentar a crítica, a argumentar com base em fatos, a lidar com o sentimento que a aprendizagem desperta" (Nunes, 2002: 77).

A inserção do desenvolvimento de investigação e problematização dos conteúdos visa estabelecer entre o aluno e o objeto do conhecimento uma relação de reciprocidade que,espera-se, provoque aprendizagens com significado. O problema proposto, refere-se a necessidade de compreensão de algo que os alunos parecem não compreenderem e uma situação da vida cotidiana poderá ser estimulante para buscar respostas e soluções. O objeto de conhecimento precisa, de alguma forma, estar vinculado à "necessidade" do grupo/comunidade escolar de explicar, compreender, intervir, mudar, prever, algo que desafia.

Diante de todas essas considerações, apresentamos neste trabalho a realização de uma pesquisa sobre Compostos Químicos presente nas cascas de camarões e caranguejo, animais de abundancia em nosso município, onde suas carcaças são jogadas ao lixo sem aproveitamento. Observando tão bem suas fórmulas moleculares, podendo assim identificar os elementos químicos presentes em tais estruturas, compreendendo como diferenciar as funções químicas presentes. A Quitosana é um dois compostos orgânicos que podemos encontrar nas cascas desses animais e que vem sendo estudados por a UFC ( Universidade Federal do Ceará) no setor conhecido como PADETEC (Parque de Desenvolvimento Tecnológico do Ceará) , sendo essa uma substância química usada para fins científicos,medicinais e comerciais, onde pesquisas revelam a sua eficácia na absolvição de gorduras ingeridas e diminuição do colesterol.Dessa forma elegemos os indicadores adotados por Amaral (2006) referentes a essa concepção como base para nossa análise. Segundo o autor, existe a necessidade de se trabalhar a "ciência como atividade humana". Dessa forma, a mesma deve ser apresentada historicamente contextualizada, não priorizando o cenário dos cientistas, e sim o cenário social-econômico-cultural, no qual são realizadas suas descobertas, os grupos e instituições a que pertencem ou que proporcionam meios para as suas realizações.

PARTE METODOLÓGICA:

Tendo em vista os objetivos traçados para este trabalho, utilizamos como metodologia a pesquisa de campo. De acordo com Arroio (2002), a investigação efetivada sob a perspectiva teórica da análise de conteúdo dimensiona as ações e orienta o olhar do pesquisador, permitindo maior compreensão de como se dá o processo de elaboração dos artigos de divulgação científica.

Para isso foi feito, inicialmente, um diagnóstico envolvendo indicadores de desempenho da escola sobre a aprendizagem dos alunos em torno desse conteúdo. Esses dados foram utilizados para fundamentar a proposta de implementação de um projeto para ser trabalhado no Laboratório de Química e em toda escola sobre Compostos Químicos, suas moléculas e elementos químicos presentes em sua estrutura. Junto aos relatos dos professores de química da escola a respeito das dificuldades dos alunos a respeito desse conteúdo, encontra-se o motivo para realização de tal projeto.

A primeira etapa do trabalho consistiu em uma pesquisa, através de um questionário com 5 perguntas em toda a escola sobre a dificuldade que os alunos sentem em compreender tal conteúdo. Após a coleta desses dados os mesmos foram tabulados colocando em ordem crescente tais dificuldades. No mesmo questionário foram dadas sugestões de atividades para que os mesmos pudessem compreender melhor tal conteúdo. E com base das sugestões feitas por os alunos iniciamos nossas pesquisas sobre um composto químico que pudessem ser utilizados para estudos proporcionando uma para facilitar a aprendizagem dos alunos.

Pensamos em estudar as fórmulas químicas através de algo que fosse comum em nossa cidade, facilitando assim a compreensão dos alunos em nível microscópico e macroscópico. Devido também a presença do pólo da UFC em nossa cidade, procuramos começar sobre as pesquisas já realizadas por os mesmos e que pudessem ser aplicada a nossa realidade local. Cada uma das concepções apresentadas era examinada isoladamente, de modo que se fez necessário reler os textos várias vezes. Ao passo que cada uma das concepções era identificada, procurávamos verificar em que medida tais concepções estavam presentes em nossa realidade.

Escolhemos observar a quitosana, composto químico que vem sendo muito divulgado na TV e que esta presente na carapaça do caranguejo e casca do camarão. Essa substância vem sendo bastante estudada devido a suas propriedades de emagrecimento, diminuição do colesterol, absolvição de óleo em caso de acidentes ambientais, filmes plásticos de regeneração da pele e como cápsula de mudança do odor do corpo.

Do total de 32 artigos publicados na internet, 08 foram selecionados. A análise dos artigos foi feita a partir da leitura de cada um deles, procurando identificar as concepções sobre a quitosana e outros compostos químicos, observando sua estrutura molecular e de que maneira poderíamos usar esse estudo para facilitar a compreensão desse conteúdo em sala de aula.

Ao sentarmos reunidas com a professora fizemos uma leitura exploratória de todos os artigos sobre o carapaças de caranguejos e camarões e como relacionamos os mesmos com os conteúdos de sala de aula envolvendo as pesquisas sobre a quitosana.

Um problema encontrado sobre o caranguejo, foi que além de abaterem os caranguejos fora do tamanho permitido e durante muitas vezes no período de proteção, suas carcaças são jogadas ao lixo sem nenhuma tentativa de aproveitamento. Em relação ao camarão a criação do mesmo é uma atividade que está em amplo crescimento no Brasil, principalmente no Nordeste. Em nossa cidade a alta lucratividade do negócio acabou atraindo novos empreendimentos, que estão destruindo o ecossistema. A captura e o processamento do camarão têm gerado uma grande quantidade de cascas, que não servem para a fabricação de ração animal, devido ao elevado conteúdo em fibras. Esses resíduos gerados pela manufatura das indústrias são enterrados ou jogados clandestinamente em rios ou no mar, ocasionando graves problemas de poluição. O que as pessoas não sabem é que essas cascas são ricas em proteína e pode ser aproveitada para produzir farinha natural de camarão com aplicações em diversos segmentos alimentares.

Fomos visitar as barracas de praia de nossa cidade no intuito de saber a quantidade de caranguejos consumidos em média durante uma semana, procuramos também os maiores vendedores de camarão de nossa cidade e coletamos dados de quantidades de produção de casca de camarão semanais.

Solicitamos algumas carapaças e cascas de camarão no intuito de leva-las ao nosso laboratório de química para manufaturarmos para podermos extrair a quitosana para consumo. Procuramos o Dr. Afrânio Craveiro pesquisador do PADETEC através de e-mail , onde o mesmo é responsável por as pesquisas sobre a quitosana, para maiores informações sobre o aproveitamento dessas carcaças .

Devido a dificuldade de alguém em casa manufaturar a carapaça do caranguejo resolvemos, usar em maior escala as cascas dos camarões.

Através de nossa pesquisa pudemos observar que o processo de extração da quitosana da carcaça do caranguejo é algo não muito simples, mas em relação a casca do camarão pudemos obter uma farofa de simples manuseio e fácil utilização. A farinha natural da casca do camarão que obtemos no Laboratório é rica em proteína pode ser aplicada em diversos segmentos alimentares, de alto valor protéico como também auxiliadora no emagrecimento, a única restrição a ela foi em pessoas alérgicas a mariscos e crustáceos ( Ver caderno de campo).

Com base em todas essas informações e já a par de como processar a carcaça do caranguejo e casca do camarão, resolvemos utilizar os ambientes pedagógicos como o Lei para pesquisas e simuladores de montagem de moléculas químicas e o Laboratório de Química para o manuseio das cascas na pratica da obtenção da quitosana. Os monitores do Laboratório de Química como nossa professora de Química, trabalharam conceitos teóricos essenciais para uma boa realização, entendimento e contextualização da parte experimental. Os conceitos teóricos e os experimentos serão preparados para serem aplicados durante as aulas de química.

No início das atividades do projeto ministrou-se uma aula prática sobre segurança em laboratório, realizada por nossa professora de Química em todas as salas da escola. Foi uma atividade particularmente interessante, pois foram selecionados e demonstrados, durante a apresentação da aula, experimentos simples que envolvem reações químicas perigosas. Estes experimentos chamaram a atenção dos alunos e foram utilizados para enfatizar a necessidade dos cuidados a serem tomados no laboratório, no armazenamento e manuseio dos produtos químicos bem como na nossa vida diária com o manuseio dos produtos domésticos de limpeza, perfumes remédios, etc., compostos de nosso cotidiano.

Durante a apresentação de tais conteúdos em sala de aula o professor poderá utilizar essa pesquisa para mostrar na Tabela Periódica os elementos encontrados na carapaça e casca do caranguejo, pode utilizar os simuladores virtuais para montagem da molécula da quitosana, poderá ainda simular uma reação química da absolvição da gordura por a quitosana. No conteúdo do 2º Ano o professor poderá trabalhar os cálculos de concentrações usados no manufaturamento da quitosana e no 3º Ano podemos relacionar esse composto químico com a parte orgânica observando as funções químicas presentes na quitosana e formula molecular.

Ao final de cada aula experimental avaliou-se o nível de aprendizagem dos alunos em relação ao conteúdo ministrado. À partir das respostas obtidas nos questionários fez-se o tratamento estatístico dos dados coletados, podendo assim avaliar o percentual de aproveitamento em relação ao conteúdo aplicado. As estratégias do projeto foram: trabalhar a abordagem dos conceitos fundamentais, contextualizar o ensino da química com os fatos do panorama atual e motivar o aluno para as aulas de química.

CONCLUSÕES:

Os dados revelam que o ensino da química deve ser realizado associando exemplos significativos com os princípios teóricos de maneira lógica e agradável para o entendimento da química como uma ciência articulada, visando sua compreensão e aplicações na sociedade atual. O trabalho articulando teoria e prática, com o auxílio dos monitores, possibilitou uma melhor condução das atividades experimentais despertando o interesse tanto dos profissionais do ensino da química quanto dos alunos do ensino médio pelas aulas de química. Nesse contexto atuamos como facilitadores na interpretação da linguagem química mostrando a ligação entre o mundo macroscópico, em que se evidenciam as transformações químicas, e o microscópico, em que as mudanças de estrutura são estudadas e interpretadas por modelos.
A partir das análises conclui-se que é necessário um maior detalhamento nas relações dos fenômenos cotidianos e ambientais com a química clássica, visto a dificuldade constatada que o aluno apresenta em transpor os conceito teóricos para entender problemas sócio-ambientais atuais. É necessário empenho e habilidade do professor para que ele atue como facilitador no processo de reelaboração das idéias fazendo a transposição do senso comum para o conhecimento científico.

Os alunos apresentavam uma visão restrita dos fenômenos químicos ambientais onde estes eram atribuídos a fontes antrópicas e não naturais. É evidenciado também que a bagagem pessoal do aluno não influencia na motivação ao estudo de química e dessa forma não conseguem atribuir a fenômenos rotineiros explicações baseada na química. Pode-se constatar que os alunos consideram a química importante, porém eles não conseguem perceber a dimensão da química no cotidiano.

Verifica-se que as atividades desenvolvidas provocam a especulação, da maior parte dos alunos, tornando os mais participativos e facilitando a construção e reconstrução de idéias e conceitos. Oferece também aos professores a oportunidade de melhorar suas competências e habilidades com a troca de experiências.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

A experiência revelou que o ensino da química deve ser realizado associando-se a exemplos significativos, repassando-o de maneira lógica e agradável para o entendimento da química como uma ciência articulada, visando sua compreensão e aplicação na sociedade atual. Verificou-se que as atividades desenvolvidas provocaram maiores interesse de considerável parte dos alunos, tornando os mesmos mais participativos, facilitando a construção e reconstrução de idéias e conceitos dos assuntos em estudo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Amaral, I. A., Megid Neto, J., Fracalanza, H., Amori, A. C. R. & Serrão, S. M. (2006).

Arroio, A. Química do cotidiano. Revista Eletrônica de Ciências - Número 6 - Abril de 2002.

NUNES, Clarice. Ensino Médio. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.

PCNEM. Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (2002). Brasília: MEC; SEMTEC

? http://www.abrelivros.org.br/abrelivros/texto.asp?id=154

? http://www.saudenarede.com.br/fitoterapicos/quitosana.html

? http://www.padetec.ufc.br/alex11.htm

? http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/biodiversa

Autor: Francisca Rosângela Araújo Rocha


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