Concepção De Texto Na L.D.B.E.N. – 9394/96



O principal eixo da proposta é o respeito à diversidade. Por tratar-se de área básica, a linguagem tem sido objeto de estudo da Filosofia, Psicologia, Sociologia, Epistemologia, História, Semiótica, Lingüística, Antropologia, etc., e, por ter essa natureza transdisciplinar, exige que o professor a considere como a capacidade humana de articular significados coletivos e participar das experiências sociais.

Nessa perspectiva, a principal razão dos atos de linguagem é a produção de sentidos, e seu objetivo primordial. Desse modo, o texto é concebido como produto e produção cultural de caráter criativo, contraditório, pluridimensional, múltiplo e singular, ao mesmo tempo; uma multidão de vozes, tanto no rol das competências da área que devem ser desenvolvidas no Ensino Médio quanto no de objetivos gerais, desdobrados em habilidades.

Essas competências e habilidades que facilitam o entendimento dos eixos básicos necessários ao prosseguimento de estudos no Ensino Médio constituem-se de Representação e Comunicação, Investigação e Compreensão e Contextualização Histórica e Sociocultural que servirão como indicadores de avaliação .

Por isso, para o Nível Médio, as propostas de mudanças indicam a sistematização de disposição e atitudes, como pesquisar, selecionar informações, sintetizar, argumentar, negociar significados, cooperar, para que o aluno participe do mundo social: cidadania, trabalho e continuidade de estudos.

Com a pretensão de recuperar o momento histórico da gênese e do uso da linguagem, a P.C.E.M. sugere a articulação com as áreas de Ciências Humanas, Ciências da Natureza e Matemática. Essa inter-relação entre as disciplinas podem ocorrer sob a forma de pesquisa de determinados conteúdos comuns, presentes nas diferentes linguagens. O conhecimento teórico ocidental (teorias explicativas sobre as linguagens ainda consideradas como paradigmas, os princípios cartesianos, os comportamentos científicos e os diferentes campos da linguagem) continua esbarrando na Filosofia. A transposição didática em uso na escola reflete ainda o conservadorismo e pontos de vista sem base teórica mas fundados no senso comum.

Assim, para entendimento e superação do achismo faz-se necessário o confronto de opiniões, o debate, o diálogo, a pesquisa e o questionamento como formas de auxiliar o aluno a construir um ponto de vista articulado sobre o objeto em estudo. O aluno, de espectador passa a proprietário de um discurso, compreendendo o discurso do outro com a possibilidade de expor suas idéias com objetividade. No entanto, para compreender a linguagem como interação social é preciso que a variante-padrão seja considerada de modo igual às outras variantes, em seus aspectos fonológicos, sintáticos e semânticos, ocorrendo também o mesmo entre as línguas estrangeiras modernas e a língua materna, a TV, o cinema, os efeitos de arte e a informática.

Esses recursos, com finalidade comunicativa, permitem a relação entre sujeitos de diferentes grupos e esferas sociais, alcançando os limites da transversalidade dos usos da linguagem no social.

Dentro dessa perspectiva, o desenvolvimento da competência lingüística do aluno, no Ensino Médio, está pautado no saber utilizar a língua em situações objetivas e subjetivas em diferentes graus de distanciamento e reflexão sobre contextos e discursos diversos de vários interlocutores. Assim, a língua estrangeira moderna recupera, de alguma forma, a importância que lhe foi negada, passando a ser uma nova ferramenta de formação pessoal, acadêmica e profissional. Como as tecnologias da comunicação e informação resultam dos processos sociais e negociações concretas, elas permitem reproduzir as dimensões da vida no mundo moderno de modo plural, considerando novos modos de sentir, pensar, viver e ser construído socialmente.

Com essa pretensão, essas tecnologias permeiam o novo currículo e suas disciplinas, enfatizando a Informática a qual faz parte do cotidiano e do mundo atual do trabalho. Sendo assim, conhecer as linguagens da parabólica, dos sistemas digitais e dos satélites de telecomunicações passa a ser, mais que uma necessidade, um direito social.

O Conhecimento da Língua Portuguesa na LDB-5692/71, dicotomizado em Língua e Literatura e com organização que divorciava os conteúdos gramaticais dos estudos literários e da redação, ocasionaram as posturas ainda existentes do livro didático, dos vestibulares, das escolas particulares e cursinhos, que reproduziram esse modelo e adotaram especialistas de cada conteúdo, como se não houvesse nenhuma ligação entre si. Porém, ainda hoje, persiste a concepção gramatical que confunde descrição e norma na análise da frase, deslocadas do uso, da função e do texto, não nas propostas curriculares, mas sim na realidade das escolas.

A concepção adotada no currículo novo é a da língua como linguagem que constrói e destrói significados sociais; um processo de construção de significados em que o sujeito interage socialmente, usando a língua como instrumento que o distingue como pessoa entre pessoas. É um estudo de língua contextualizado, dialógico que impõe, para efeitos de estudo, um tratamento transdisciplinar, e, pela determinação de objetivos da escola e da aprendizagem, exige um tratamento interdisciplinar.

Apontando para uma nova opção metodológica de verificação do saber lingüístico do aluno, o caráter sociointeracionista da linguagem verbal serve como ponto de partida para desenvolvimento do conteúdo, com base no valor da linguagem, da língua e suas variedades. Os conteúdos tradicionais de ensino de língua tomam outro rumo. O estudo da gramática torna-se uma estratégia para compreensão/interpretação/produção de textos. A literatura passa a integrar a área de leitura. Assim,
Autor: Djalmira Sá Almeida


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