Infância



Naquele tempo  tudo era alegria! O tempo nem parecia passar.

     Morávamos numa fazenda. Nossa casa ficava à beira de uma estrada que se estendia até o horizonte. O terreiro de chão batido era o lugar predileto onde eu e meus irmãos brincávamos, como num sonho bom. A casa era grande, daquelas antigas, feita com esteios de madeira e adobe. As janelas e as portas eram imensas, dando a ela um ar sombrio.

     Do outro lado da estrada ficava uma corrutela, com uma meia dúzia de casas. Um grande pé de ingá servia como ponto de ônibus, duas vezes por dia ele passava por ali. Tudo era maravilha, mas bom mesmo era quando ouvíamos o nhem-nhem-nhem do carro de boi. Era o senhor João Lourindo, fazendeiro que carreava cana-de-açúcar para o engenho de sua fazenda. Ele sempre nos presenteava com uma ou outra cana e seguia viagem. Era um contentamento só. Lentamente, a sombra da noite caía e, aos poucos, abraçava a réstia de luz que, acanhada, insistia em ficar. Ao longe, lá na curva da estrada, ainda se podia ouvir a melodia chorosa do nhem-nhem-nhem do carro que se distanciava cada vez mais. Corríamos gritando, alegres:

_ Êhh boi, êhh seu Lourindo! Nhem...nhem...nhem...

Que saudade!


Autor: Ranon De Amorim Machado


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