TERAPIA OCUPACIONAL - ATUAÇÃO EM ORTOPEDIA - NOVOS CONCEITOS E QUEBRA DE PARADIGMAS



TERAPIA OCUPACIONAL - ATUAÇÃO EM ORTOPEDIA -
NOVOS CONCEITOS E QUEBRA DE PARADIGMAS

*Ivens M. O. Pereira


Nos dias de hoje, a atuação da Terapia Ocupacional vai se tornando mais abrangente.
É cada vez mais exigente a entrada de profissionais no mercado de trabalho, e com isso, o campo de atuação em várias áreas vem selecionando profissionais mais qualificados, com maiores habilidades e competências. Um conceito mais moderno de competência é dado por Resende (2003) ao afirmar que a competência está relacionada com uma condição diferenciada de qualificação e capacitação das pessoas para executar seu trabalho e desempenhar suas funções. Inicialmente o conceito é aplicado a pessoas; num segundo momento passou a ser usado como requisito de bom desempenho de equipes, unidades e de organizações, de acordo com Irigon (1996 p.3).
Contudo, para o sujeito desenvolver competências pessoais vai necessitar transitar pelo estudo das ciências, que ganha um novo significado ao interagir com a realidade que se materializa no plano sócio-cultural. Desse modo, chegamos ao lugar onde apenas o saber fazer já não basta, e o saber fazer é substituído por ser competente (Desaulniers,1997). Fato que reforça o surgimento do conceito de competência como tentativa de atender exigências específicas do mercado de trabalho e da sociedade atual.
A Terapia Ocupacional não foge à regra, esperam-se muito mais habilidades e competência desse profissional e nesse campo, a ortopedia, a inda temos muito a aprender, aceitar, sintonizar, embora a atuação da T.O. na área de reabilitação física esteja presente desde os primórdios da profissão (Trombly, Mc Donald, Willard e Spackman, Teixeira, Pimentel, Ferrigno, Pedretti, entre outros).
Zafiran (2001, p.68) ao falar sobre competência propõe:

"Definição que integre várias dimensões, assim, a competência é tomar iniciativa e o assumir responsabilidade do indivíduo diante de situações profissionais com as quais se depara"

Para Antunes (2001, p.17), competente é aquele que pondera, aprecia, avalia, julga e depois de examinar uma situação ou um problema por ângulos diferentes, encontra a solução ou decide.
A T.O. tem sua atuação mais marcante nas áreas de saúde mental, neuropediatria e social, porém um campo que vem necessitando de profissionais T.O. é o campo da ortopedia. É esse "trauma" que deverá ser quebrado com muita competência.
Dentre vários, o maior recurso que a T. O. tem para a abordagem é a Atividade Humana, mas, o mais importante não é o "fazer" a atividade, e sim "como essa atividade é realizada", "para quê" e "porquê" ela é aplicada e quais os seus objetivos? Essa é a questão.
Na reabilitação física, o que estamos objetivando é "como" essa atividade está sendo realizada, pois o produto final que queremos é a reabilitação funcional do nosso cliente, o produto dessa atividade vem a ser uma conseqüência da realização desta, focar o indivíduo, em toda a sua plenitude: Biológica, emocional e social.
Quando focamos a maneira de "como" a atividade é realizada, estamos dando ênfase ao resgate funcional, ou seja, a capacidade residual do cliente e, ao perceber que suas dificuldades em realizar as atividades propostas vão diminuindo, ele se engrandece emocionalmente e socialmente, o que leva a um circuito fechado: Ele consegue realizar as atividades propostas com maior facilidade; fica animado com esta conquista e parte para uma atividade mais complexa, mais difícil. O terapeuta ocupacional deverá estar atento a essas superações e propor novas atividades com um grau de complexidade maior, para que ele vença as novas dificuldades e logre êxito nas atividades futuras.
O terapeuta ocupacional deverá estar atento a esta mudança de atitude do cliente. Faz parte dessa conduta, uma complexa avaliação da capacidade residual, ou seja, o que ele consegue ou não realizar e o que ele poderá realizar; um prognóstico a curto, médio e longo prazo deve fazer parte da rotina de atendimento desse cliente. Uma atividade de maior complexidade na qual o cliente não consegue realizar pode levá-lo a desanimar diante do tratamento, ao contrário que se as dificuldades forem postas de maneira gradativa. O objetivo do tratamento em terapia ocupacional é fazer com que esse cliente possa estar superando essas dificuldades.
Francisco (1980) cita Reed e Sanderson embasando nossa linha de pensamento quando diz que:

"Terapia Ocupacional é a aplicação de qualquer atividade que se emprega para a avaliação, diagnóstico e tratamento de problemas que interfiram na atuação funcional de pessoas debilitada por doença física ou mental, desordens emocionais, desabilidades congênitas ou de desenvolvimento, com objetivo e alcançar um funcionamento ótimo, prevenir e manter a saúde"

Francisco (1980) fala ainda sobre a atividade empregada, que pode ser qualquer uma, desde que esteja voltada para um fim, ou seja, ela deve ser utilizada desde a avaliação, o diagnóstico e o tratamento e tem seu objetivo explicito: Alcançar um funcionamento ótimo, prevenir e manter a saúde. Neste caso, a autora não cita a conclusão da atividade, fala apenas em atividade.
Willard e Spackman (1973) já falavam em restauração física através de uma atividade construtiva que proporcionasse uma melhora funcional de uma região incapacitada:

"En la restauración de la función fisica el valor de la Terapéutica Ocupacional reside en la partipación mental y física del paciente en una actividade constructiva que le proporcione el ejercicio requerido y le ajude a desarrollar el uso normal de la región incapacitada"

Em 1977, novamente Willard e Spackman afirmaram:

"El objetivo de la Terapéutica Ocupacional consiste en el restabelecimento de el movimeniento en una articulación atravéz del uso da la actividade constructiva, que distende las contracturas, elimina las adherencias, fortalece los músculos debilitados y disminuy el edema"

Como vemos acima, os autores estão preocupados em restabelecer os movimentos que o indivíduo não realiza, devido a contraturas, aderências, debilidades musculares e ao próprio edema, e este é o quadro do paciente vítima de traumas ortopédicos. A abordagem da T.O. deve ser imediata, seja no pós-trauma, na enfermaria ou em sua residência, pós-imobilização, pré e pós-cirúrgico imediato.
São com esses embasamentos teóricos que a T. O. vem atuando nesse setor com muita competência, sendo muito bem reconhecida em sua atuação, identificando a necessidade do cliente, obtendo bons resultados no que tange a recuperação funcional do membro afetado e é isso que objetivamos: Resultados.
Para Resende (2003) os movimentos que colocam em evidência competência, não são modismos porque possuem requisitos de consistência, aplicabilidade e oportunidade que garantiram sua permanência. O que dá personalidade ao conceito moderno e forte de competência é a idéia subjacente de resultado. São idéias claras ou implícitas de saber fazer, saber aplicar, saber agir, saber resolver, porque o saber fazer operacionalizado resulta em resultados.
Os resultados que esperamos na atuação em ortopedia são justamente o resgate funcional do cliente, mesmo que o mesmo venha apresentar seqüelas, teremos de estar atentos a elas e tentar resolve-las, seja usando recursos como órteses e/ou próteses, seja encaminhando esse cliente de volta ao ortopedista (nos casos de nova intervenção cirúrgica). Para isso, o T.O. deverá ter competência e habilidade para fazer uma avaliação, traçar objetivos de tratamento, fazer um diagnóstico terapêutico ocupacional, fazer um prognóstico, trabalhar em conjunto com a ortopedia para encaminhamentos, nos casos de intervenção cirúrgica nos casos indicados. Esse tripé (médico - cliente - terapeuta ocupacional) será de suma importância, pois haverá possibilidade de troca de opiniões e informações e quem ganha com isso é o cliente, que obterá boa recuperação funcional e o terapeuta ocupacional poderá estar realizando a abordagem de maneira mais precocemente possível, possibilitando melhores resultados.
Melhor resultado é o que objetivamos com essa "nova postura" do terapeuta ocupacional, não só em ortopedia, mas em todas as áreas de atuação. Assumir essa nova postura com competência e responsabilidade é o que pretendemos.
A competência, portanto, não se limita a uma quantidade de conhecimentos adquiridos pelo indivíduo, mas se refere à capacidade da pessoa assumir a iniciativa, ir além das expectativas, ser hábil em entender e dominar novas situações no ambiente de trabalho, ser responsável e reconhecido por suas atitudes. Todos nós temos a capacidade de desenvolver nossas competências por meio de treinamentos, de prática, de erros, da reflexão e da repetição. A identificação, desenvolvimento, reconhecimento e valorização das competências constituem uma importante mudança de paradigma, com relação a conceitos e valores, que terão grande influencia nos destinos da organização, nas carreiras e na evolução da sociedade. (Carletto, et all. 2005).

*Terapeuta Ocupacional
Responsável pelo Serviço de Terapia Ocupacional na Clínica Ortopédica do H. E. Adão Pereira Nunes ? SESDEC ? RJ
Membro da Sociedade Brasileira de Terapeutas da Mão
Membro do Colegiado da ATOERJ.




Referências:

ANTUNES, Celso.(2001) ? Como desenvolver as competências em sala de aula. Petrópolis: Vozes

CARLETTO, Balduir; FRANCISCO, A. C.; KOVALESKI, J. L. Competências essenciais: Contribuições para o aumento da competitividade. In Anais do XXV Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Porto Alegre, 2005. p 3250-3257.

DESAUNIERS, Julieta Beatriz Ramos. (1997) ? Formação, competência a cidadania. In Revista Educação& Sociedade. São Paulo: CEDES. No.60.

FRANCISCO, B. R., Terapia Ocupacional, ed. Papirus, SP.

IRIGON, Maria.(1996) ? En torno del concepto de competência: Programa de fortalecimento de serviços de servicio de salud. Lima.Peru

LIANZA, S., Medicina de Reabilitação, ed. Guanabara Koogan, 1982, RJ.

RESENDE, Ênio J. (2003) ? O livro das competências: desenvolvimento das competências: a melhor auto-ajuda para pessoas, organização e sociedade. 2a. Ed. Rio de Janeiro. Qualitymark.

TROMBLY, C.A., Terapia Ocupacional para a Disfunção Física, 2a. Edição, ed Santos, 1998.

ZAFIRAN, Philipe.(2001) ? Objetivo competência: por uma nova lógica. Tradução de Maria Helena C. V. Trylinki.; Atlas. São Paulo.

Autor: Ivens Messias De Oliveira Pereira


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