A Estrutura do Emprego e da Economia Brasileira



Nos últimos 50 anos a sociedade brasileira e o Brasil passaram por transformações substanciais configurando um novo perfil para os brasileiros, com alterações significativas em seu modo de vida, comportamento, interesses, empregos e rendimentos. De 1960 até os dias atuais ocorreram mudanças profundas, em que muitas pessoas deixaram a zona rural e passaram a habitar as cidades, principalmente a grandes cidades, os tipos de empresas e empregos se alteraram e muitas outras mudanças que afetaram muito a vida das pessoas. Além disso, nesse período ocorreram fatos que deram ao povo brasileiro um novo entendimento de vida, como o processo inflacionário que durou mais de vinte anos, as fortes recessões dos anos 1980 e 1990 e a estabilização de preços a partir de 1994 proporcionada pelo Plano Real.


Recentemente, o IPEA publicou um estudo em que apresenta a evolução da composição da economia brasileira, revelando mudanças significativas, conforme era esperado. O setor primário (agricultura) em 1960 era responsável por 29,4% do PIB do país e por 60,6% de todo o emprego dos brasileiros, em 2008, esse setor era responsável por apenas 5,9% do PIB e por 18,4% dos empregos existentes no Brasil. É interessante observar que esse setor apresentou tendência de queda, em termos relativos em todo o período. Já o setor industrial (chamado de secundário) que em 1960 era responsável por 20,5% do PIB e por 16,9% do emprego no Brasil, em 2008 era responsável por 27,9% do PIB e por 24% dos empregos. Vale salientar que em 1980 esse setor era responsável por 38,6% do PIB. Assim, o setor industrial brasileiro há 50 anos era responsável por um quinto da economia, há trinta anos era responsável por mais de um terço e atualmente é responsável por menos de um quarto da nossa economia.


O setor terciário (serviços) desde os anos 1960 tem sido o setor mais importante da economia brasileira em termos de riqueza gerada. Nesse ano, era responsável por 50,1% do PIB e por 22,5% dos empregos ao passo que em 2008 era responsável por 66,2% do PIB e por 57,6% dos empregos. Apesar de ter havido uma forte aceleração do processo de industrialização do país nos anos 1970, o setor de serviços não perdeu importância na economia brasileira nesse período. Ao contrário, se configurou como exemplo muito claro da transformação da sociedade e da economia do Brasil.


No bojo dessas transformações, os rendimentos do trabalho e a redistribuição desses rendimentos também passaram por mudanças consideráveis nesse período. Dos anos de 1970 até o final dos anos 1990 os rendimentos de até um salário e meio passaram de 77,1% dos empregos existentes no país para 45%. Ao mesmo tempo, os assalariados com rendimentos acima de três salários mínimos passaram de 9% da força de trabalho em 1970 para 28,7% em 2000. Nos últimos anos tem havido uma tendência de aumento dos empregos com rendimentos até um e meio salário mínimo fruto tanto do fato de haver a geração de empregos com remuneração menor quanto pelo processo de valorização do salário mínimo verificado na última década. Em 2009, 16,4% dos empregos era de rendimento acima de três salários mínimos, 24,9% de rendimento entre 1,5 e três salários mínimos e 58,7% com salários até 1,5 salário mínimo.


As mudanças na nossa economia têm muito a ver com a estabilização de preços que foi alcançada a duras penas e a um custo muito alto para os brasileiros. Entretanto, os sacrifícios valeram e estão valendo muito a pena. Os rendimentos estão melhorando, as pessoas estão tendo ambiente de trabalho muito melhor do que era há quarenta anos, os esforços dos trabalhadores são muito menores e a perspectiva de vida das pessoas em geral é muito melhor. O brasileiro vislumbra um futuro muito melhor do era vislumbrado há algumas décadas. É preciso fazer muito mais, a mudança estrutural da nossa economia deve continuar mudando, incorporando novas tecnologias, aumentando a produtividade do trabalho e aumentando os rendimentos dos trabalhadores brasileiros.
Autor: Francisco Castro


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