Eros e Coadjuvantes



Eros, no Banquete de Platão é relatado como o resultado de uma relação sexual entre Pobreza (Pênia) e Recuros ou riqueza (Póros). Ocorria uma festa em homenagem ao nascimento de Afrodite, nesta festa estavam Prudencia (Métis), Recurso/ riqueza (Póros) e Pobreza (Pênia), que estava pela porta observando tudo. Quando viu que Póros, embriagado com o néctar dos deuses, se encaminhava para o jardim de Zeus, Pênia o seguiu e viu que Póros deitou-se e adormeceu. A pobreza se aproveitando que Póros estava embriagado deitou-se ao seu lado e concebeu o amor (Eros). Eros é o amor personificado, força preponderante responsável pela perenidade das espécies e pela harmonia no universo. Eros é o amor em si, deidade que foi chamada de cupido pelos romanos. O cupido que andava sempre um arco pelo qual disparava flechas sobre o coração de homens e deuses, fazendo-os se apaixonar, sentir amor pelo outro.

O amor, talvez seja o tema mais abordado por todas as arte e por todas a culturas. A filosofia se ocupou e ainda se ocupa da temática, para o filosofo Schopenhauer a perpetuação da espécie é o mantenedor do amor, o pretexto da vontade diante da racionalidade e vaidade humana para a procriação. A busca pelo melhoramento da espécie conduz o ser humano a pensar o amor como relação necessária e indispensável para a sobrevivência, logo o amor tem seu ápice nas relações sexuais, mesmo que sua definição romântica omita sua função e suas intenções.

A palavra amor tem varias definições que vão desde o conceito romântico que envolve afeição e a conotações com o termo apetite, desejo e libido. O amor pode ser platônico quando não tem intenções e estar alheio aos interesses, que só existe na forma ideal, nas ideias; amor espiritual que é chamado de Psique; Eros que é o amor sinônimo de relações sexuais; amor pratico em que o futuro é observado, como um investimento com fins a obter sucesso ; amor altruísta em que o outro é pensado sempre em primeiro lugar; amor entre amigos que não foca interesses físicos; amor emocional que leva em consideração o romantismo pleno. Sendo um ou outro, todos são interpessoais, pois se baseiam na relação entre os seres humanos. Essas relações podem estar voltadas para a atração física que contem interesses sexuais, libidinosos. Libido que Freud definiu como força quantitativamente variável que pode servir de medida do "processo e das transformações que ocorrem no campo da excitação sexual".

Quando se trata de pensar as relações que expectam pela realização de desejos sexuais, é necessário entender que as relações sexuais ocorrem por meio de uma transição, conflituosas ou não, que se ritualizam com a atração, o primeiro dialogo, as caricias verbais, o beijo e as caricias que antecedem a relação sexual desejada e por fim a primeira relação propriamente dita onde à penetração e a recepção dela acontece de fato. Desse ponto em diante o ser humano sente-se preparado para a vida sexual que ocorrerá mais comumente e que tem as ritualizações substituídas ou aperfeiçoadas. Mas o universo sexual humano não é tão simples, e não se esgota nesse percurso tão resumido e comum. Esse universo se compõe de fantasias, fetiches e praticas que exaltam a excitação e o prazer. As fantasias podem ser a parte desse universo em que a imaginação é fator importante para a formação dos desejos.

As fantasias são disposições psíquicas de satisfação de desejos que podem ou não ser saciados na realidade e que desempenham o papel de estimulador. É bem verdade que nem todas as fantasias sexuais podem ser realizadas por conflitarem com a moral social, e assim são inibidas pelo individuo quando, ainda, são apenas pensamentos. As fantasias se situam entre o principio de prazer em oposição ao principio de realidade, pois no principio de prazer a satisfação se dar pelas ilusões enquanto que no principio de realidade o sujeito tem no mundo exterior as suas restrições morais, éticas e sociais. Porém, a produção das fantasias acontecem em decorrência das proibições impostas pelo principio de realidade, e o principio de prazer afasta a realidade do sujeito oferecendo atividades no pensamento para a construção de fantasias que negam essa realidade. Porém, grosso modo, as fantasias são encenações da imaginação em que o individuo figura a realização de desejos.

As fantasias, segundo Laplache e Portalis (1995), podem ser conscientes, inconscientes e originarias. No caso das conscientes, revelam um desejo como em um sonho acordado; as inconscientes só são reveladas pela analise por meio do relato do sujeito; e as originarias estão relacionadas com a vivencia do individuo, experiências pessoais. São elas, as fantasias, fugas da realidade que se relacionam com alta libido, ou seja, com os desejos sexuais. Elas revelam, além de tudo, tentativas de gratificar desejos que em muitos casos são considerados proibidos, essa proibição pode ser real ou apenas reforçada pelo sujeito que imagina. As fantasias podem caminhar junto com o fetiche, o que não é regra porque a fantasia não tem um foco em especifico enquanto que o fetiche tem, um pode ser mais subjetivo enquanto que o outro pode ser mais objetivo em relação a seus objetos de desejo. O fetichista permite substituição do outro, como elemento complementar da realização das suas fantasias. Ocorrendo assim o deslocamento da atividade sexual para um objeto de fetiche.

O fetiche no sentido corrente do termo está ligado ao sexo, os objetos substitutos são escolhidos pelo fetichista por conter características táteis, olfativas, visuais e associações simbólicas. O fetichismo pode estar ligado à perversão, que é uma condição básica da sexualidade. A confusão com o termo "perversão" procede da palavra associada à ideia de desvio sexual em relação uma lei moral instituída. Quando na verdade a perversão nada mais é que uma maneira de alcançar o orgasmo por meio do coito que inclui uma organização dominante de relações objetais entre sujeito e objeto.

O pervertido é aquele que é portador de uma neurose erótica. O neurótico erótico vê na sua pratica a possibilidade de cura, uma tentativa de curar traumas, frustrações, conflitos entre outros transtornos, condições dolorosas que tem alivio oferecido pela perversão realizada. Quando praticada causa plena satisfação, mesmo que momentânea. Mas, não é a perversão exclusividade dos neuróticos eróticos, pois todas as pessoas ? em algum grau ? são perversas ao menos um pouco perversas. Stoller (1998, p. 20) diz que "há uma diferença essencial entre pessoas que realizam uma perversão, uma que evita realizá ? la mas necessita fantasiá ? la ( através de devaneio ou pornografia ) afim de se satisfazer bem, e uma que não precisa ou não precisa realizá ? la (?)." Sé a perversão é um comportamento erótico, então, em alguma medida ela se exteriorizará ou nunca deixará o universo mental do indivíduo.

Os fetiches (o que produz ou pode produzir excitação e até orgasmos, simbolismo de prazer), em sua grande maioria envolvem comportamentos perversos ou um pensamento perverso. O exibicionismo, por exemplo, é uma pessoa que sente prazer no ato de expor seu órgão genital. O exibicionista espera a reação dos que o assiste como fonte de prazer, a reação que pode ser de indignação, asco (repulsa física e/ou moral), reprovação e até punição. A possibilidade de ser punido pela ação exibicionista é o ponto mais excitante para o exibicionista. Meio a todas as possibilidades de repreensão e reprovação, um turbilhão de possíveis sensações por parte da (s) vitima (s), o exibicionista se mantem calmo e excitado. Para ele a excitação inicia no planejamento de sua ação, no percurso até o local em que praticará sua ação, esse meio tempo serve como preliminares, o ato praticado é o momento de clímax que pode se prolongar com a possibilidade de punição ou com a sua punição propriamente dita. De modo semelhante se comporta o voyeur, que se deslumbra em visualizar a atividade sexual de terceiros que são estranhos a ele, enquanto é observado por seu cônjuge que, também, pode ser observado. Em muitos casos o cônjuge é dado a alguém para que seu consorte o observe em ato sexual com um estranho. O voyeur se comporta como um ladrão de privacidade, um delinquente consentido que causa violação, que hostiliza o cônjuge. Seu prazer está no ato de se vê praticando o que é reprovável, sendo incriminado pelo pecado permissivo. Ainda nesse conjunto, há os que se vesti com roupas do sexo oposto para se excitar e causar excitação. O que é visivelmente uma busca de hostilização e humilhação na condição travestida do outro e para o outro.

E quanto à pornografia publica e explicita contida em livros, revistas, vídeos, teatros e outros meios? É a pornografia um ato perverso? Não, pois ela é um devaneio que se utiliza de um objeto de som e imagem ou apenas imagens, ou ainda apenas a imaginação no caso dos livros, que fornece dados para que a imaginação seja estimulada e estimule. Enquanto que a perversão é um devaneio praticado, realizado, transformado em situação real. Stoller (1998, p. 33) entende que "A pornografia é um devaneio publicado. A perversão é um devaneio executado." A pornografia conduz a masturbação ou apenas a excitação, como um instrumento externo provocador da excitação. A masturbação segundo Brenot (1998, p. 57) "(?) se refere a um ato pessoal, de domínio privado, domínio do corporal e do intimo", ainda segundo Brenot (1998, p. 72) a masturbação "(...) é um elogio do narcisismo, cultura do prazer solitário, homossexualidade natural na imagem no espelho, que devolve o outro, idêntico àquele que é o único que pode compreender." Assim sendo a masturbação sendo uma relação solitária é uma condição que só o que a pratica compreende as razões do seu ato, mesmo que moralmente reprovada por outros. A perversão não se contenta com o si mesmo, pois seu objeto está além do capricho da imaginação, da fantasia, precisando e exigindo a realização pratica dos devaneios. O sadomasoquismo, por exemplo, é uma pratica em que o devaneio pelo devaneio não tem sentido, as fantasias precisam sair da imaginação para tomar lugar na pratica, na execução dos fatos. O sadomasoquismo é uma pratica que explora a troca entre fantasias que se externalizam por meio de ações onde prevalece a dor e o ato de causar dor, sendo que um dos envolvidos é masoquista e o outro sádico, porém ambos trocam entre si a dor e em certas situações invertem os papeis.

O masoquismo pode ser brevemente conceituado como uma relação em que o prazer sexual está relacionado com o desejo de sentir dor ou ser submetido a uma situação de inferioridade (sofrimento psicológico) perante o parceiro. A relação masoquista se complementa com a tendência sádica do parceiro de infligir dor no masoquista. Para compreender essa relação de dor e causador de dor como busca de prazer precisamos entender um dos lados da moeda, um dos jogadores, o masoquismo parece contribuir para as atitudes sádicas do seu parceiro. Para Freud o masoquismo de divide em três tipos de: o erógeno, o feminino e o moral.

"O masoquismo apresenta-se à nossa observação sob três formas: como condição imposta à excitação sexual, como expressão da natureza feminina e como norma de comportamento ? é o masoquismo erógeno, o feminino e o moral" (Freud, [1924] 1974: 201).

O masoquismo erógeno é uma ligação entre Eros e pulsão de morte, ou seja, o desejo e atração libidinosa e a necessidade de destruição de causar dor e sofrimento se unem como sentimentos contribuintes para a formação do desejo masoquista. O masoquismo feminino estaria mais voltado para um impulso de submissão que fornece ao outro o direito de maltratar, de humilhar e de submeter, posicionando a mulher numa condição de humilhação permitida. O masoquismo moral é mais social, pois tende a submissão irrestrita às obrigações impostas pelo outro, o lado que sente prazer na humilhação tudo aceita desde que o faça sofrer, caso contrario o masoquista arquiteta situações que o conduz a alguma humilhação proveniente do parceiro. O sádico é apenas um masoquista envolvido com outro que buscam prazer abalando o sentido da sensação de prazer entendida comumente, pois o prazer dos sadomasoquistas existe em conjunto com a dor. Outra pratica que busca prazer com atitudes pouco comum é o swing, que nada mais é que a troca de casais estáveis para a pratica de sexo grupal. O sexo grupal entre casais pode ter variáveis diferentes partindo de um envolvido para o outro, mas o objetivo é o mesmo, prazer. O sexo grupal é a maneira pela qual os indivíduos se doam uns aos outros por meio da identificação com o outro, com sua condição no nível da unicidade, uma constante tensão entre vontade e coerção se misturam como fonte excitativa e fornecedora de prazer. A excitação está na condição libertina de se relacionar sexualmente sem limites sociais ou moral. A pratica do swing que converge para o sexo grupal conduz a auto identificação em que os indivíduos envolvidos abraçam como uma maneira de preencher as necessidades utilitárias na relação conjugal. Giddens (2002, p.79) entende que "um conjunto mais ou menos integrado de práticas que um indivíduo abraça, não só porque essas práticas preenchem necessidades utilitárias, mas porque dão forma material a uma narrativa particular da auto - identidade".

A excitação e erotização em todos os casos é a antecipação de uma provocação que fornece possibilidades, funcionando na mente do individuo como fantasias emergindo em relação com o corpo que é entendido como ferramenta passível de ser utilizada. Porém, as possibilidades não significam certeza de prazer alcançado. O perigo, por exemplo, é causador de excitação, mais ainda a antecipação de possibilidades de perigo, o que não quer dizer que o perigo em si causará prazer e sim que servirá de elemento estimulante, que aumenta o prazer sexual. Stoller (1998, p. 85) conceitua a excitação como "(...) uma oscilação eufórica, entre outras coisas, entre o sentido de perigo e um sentido de domínio, que conduz à satisfação." Que o perigo pode ser fonte de excitação já foi entendido, mas quanto ao domínio? O domínio é uma sensação de controle da situação e do outro como objeto de uso e ferramenta de prazer, não ocorrendo de maneira forçada e sim permitida pela submissão. A excitação flui entre o "senhor" e o "escravo" de maneira prazerosa.

Para muitos o perigo está nas ações mais simples do ponto de vista do observador, mas que na visão do individuo que está no jogo (o jogador em si) o que é simples pode também ser perigoso e assim excitante, como é o caso da conquista do que aparenta ser difícil, pois oferece ritualizações que precisam ser respeitadas como regras que se infringidas podem comprometer a todo o processo da conquista que leva até a realização prazerosa. Sem a luta, sem as dificuldades, sem esforços aplicados, não há excitação e assim não há motivadores para a busca do prazer. O perigo e o domínio se complementam, um é o caminho que conduz até o outro que fornece controle e prazer.

A obscenidade, também, entra no rol das situações, dos comportamentos, produtores de excitação, pois formula como condição primordial para sua realização o segredo, o perigo que se oculta e que é percebível, a inversão dos papeis, uma queda de braço entre o lado poderoso que é desafiado pelo lado submisso na qual a vitima busca ser vitoriosa no jogo em que ambos os jogadores conhecem as regras e, que sabem que o jogo só acaba quando o obsceno não precisa mais jogar porque seu intuito de prazer foi alcançado. O obsceno é um tentador vivendo tentações, é aquele que fere o pudor.

Na vida sexual, prefixos são usados para definir a orientação sexual das pessoas, uns se reconhecem como heterossexuais, outros como homossexuais, bissexuais, travestir e há os que se definem como transexuais, que na essência são o mesmo que travestir no sentido comum da identificação do individuo, diferente do transvertido que apenas se utiliza das roupas do sexo oposto para sentir excitação . Todos buscam o prazer por meio de comportamentos eróticos resultantes de condicionamentos repetidos que causaram prazer e que se imprimem como causadores de prazer. Além do que, a orientação sexual é também uma identidade do individuo no meio sociocultural do qual faz parte.

O heterossexual se pretende praticante de relações sexuais com indivíduos do sexo oposto ao seu, o centro de excitação e o foco de prazer é o outro diferente de sua constituição física e com requisitos apreciados. Os requisitos podem ter origem cultural, se bem que em muitos casos são produzidos pelas expectativas sexuais do próprio individuo. É também entendido como a única orientação sexual que é capaz de perpetuar a espécie humana, sendo que sua contrariedade levanta polêmicas por está em desacordo biológico e moral. A relação entre sexos opostos é uma relação que se pretende como perpetuadora da espécie e como produtora de prazeres. O homossexualismo, por sua vez, passa a ser rejeitado por muitos por ser contrario a essa perpetuação da espécie e por ser dependente do heterossexualíssimo para esse fim. Porém é inegável que o homossexualismo constitui uma fonte produtora de prazer, caso contrario não seria uma identidade, uma orientação sexual e uma ação praticada por muitos. Homossexual é todo aquele que identifica no outro do mesmo sexo as possibilidades de sentir prazer.

Os homossexuais, para muitos pesquisadores, não nascem homossexuais, do mesmo modo que o heterossexual não nasceu heterossexual. Eles se tornaram o que são sexualmente por meio de influencias externas que se somam ao ambiente familiar. A família e eventos sociais são contribuintes e influenciadores que podem despertar o interesse pelo outro do mesmo sexo ou do sexo oposto. Situações, acontecimentos, eventos sociais, podem fazer despertar o interesse sexual pelo outro do mesmo sexo que pode perdurar por toda a vida ou apresentar oscilações e até mudanças de orientação sexual. As contingências da vida conduzirão o individuo para a homossexualidade, assim como reforços positivos ou negativos podem favorecer a orientação homossexual. Bem como traumas, ansiedade, conflitos entre outros podem contribuir fortemente a decisão pelo homossexualismo.

Freud entende a opção homossexual como uma inversão que ao ser absoluta passa a sugerir como objeto sexual, fonte de prazer, indivíduos do mesmo sexo. "Podem ser invertidos absolutos, ou seja, seu objeto sexual só pode ser do mesmo sexo, enquanto o sexo oposto nunca é para eles objeto de anseio sexual, mas antes os deixa frios ou até lhes desperta aversão sexual." (1996, p. 129). Essa inversão acontece quando o objeto passa a ser o individuo do mesmo sexo, e quando absoluta o sexo oposto pode causar aversão ao homossexual. Já no caso do bissexual essa repulsa não acontece porque sua opção oferece possibilidades de alcançar prazer com o individuo independente da sua constituição física, neste caso o bissexual busca o prazer pelo prazer que é, também, considerado um hibrido psíquico, pois ainda não se definiu e talvez não venha a se definir por qual orientação sexual seguir por toda a sua vida.

O bissexual tem seus desejos sexuais dotados de expectativas tantos para o sexo masculino quanto para o sexo feminino. O bissexual bem como o travestir são híbridos psíquicos, mas no caso do travesti sua condição nos conduz a pensar o hibridismo tanto nas vias psíquicas como nas vias físicas, pois sua percepção de sexo se dar na transformação do corpo com manutenção do órgão genital, ou seja, sua aparência feminina acompanha sua condição masculina. A conjugação dos caracteres é a manutenção do corpo ora masculino, ora feminino, como objeto sexual com vistas ao oposto ou aos iguais. Freud (1998, p. 137) citando a cultura grega sobre a pratica da relação sexual entre homens do mesmo sexo diz que "(...) está claro que o que inflamava o amor do homem não era o caráter masculino do efebo [adolescente], mas sua semelhança física com a mulher (...)". O adolescente por suas características físicas, por estarem próximas da feminina, contribuía para sua aceitação como objeto sexual entre os homens, desse modo o travesti por ter características femininas torna-se objeto de desejo sexual com aceitação maior entre os homens. Por transexual entendemos o individuo que, por meio de procedimento cirúrgico, muda sua constituição sexual, realizando uma transição de seu sexo para o sexo oposto. Stoller (1993) classifica os transexuais em primários e secundários. Os primários são os que não vivenciaram em si mesmo episódios de masculinidade, desde tenra idade buscavam viver como sendo do sexo oposto. Em muitos casos são retraídos em relação a pratica do ato sexual por se sentirem constrangidos por causa de seus próprios genitais. Os secundários, diferente dos primários tiveram experiências com o genital masculino e sua condição surge após a infância através de experiências que reforçam a orientação sexual. Laplache e Pontalis (1995, p. 226) entendem que a identificação do transexual com o sexo oposto é um "(...) processo psicológico pelo qual um sujeito assimila um aspecto, uma propriedade, um atributo do outro e se transforma, total ou parcialmente segundo o modelo desse outro". O elemento excitante está na condição imaginada do sexo oposto num corpo diferente dele, ou seja, o vestir e se transformar no outro é causador de excitação, quanto ao objeto do transexual é o outro do seu sexo de nascença o do travesti é invariável e muitas vezes indefinido, pois pode ocorrer oscilação entre o homem ou a mulher. O travestir tem um órgão genital que ele afirma que não é de sua natureza e com isso afirma a si mesmo essa "verdade" imaginada, logo o próximo degrau é a substituição do pênis pela vagina, a transformação do corpo para compatibilizar com a visão de si sobre o sexo escolhido.
Em todas as situações imaginadas, registradas, conhecidas e até bizarras que envolvem a sexualidade humana, a busca por prazer, está ligado a fatores como o principio de prazer e o principio de realidade. O principio de prazer e o principio de realidade se correlacionam, um pela busca prazer a qualquer custo e outro por meio da renuncia do prazer momentâneo. Sendo que a plenitude da obtenção do prazer é impossível por causa das implicações sociais, culturais e morais. Logo nem tudo o que é desejável pode ser realizado plenamente, uma parcela que não destrói ou expõe o sujeito à destruição é permitida e todo o resto é renunciado como meio de equilíbrio entre o psíquico e o social, o cultural e a moral. O eu servindo-se a si mesmo em correspondência com o outro e com o mundo.

A sexualidade humana tende a auto sublimação que justifica a busca intensa e ampliada de tudo o que é reconhecido e aceito como fonte de prazer. Gratificação sexual mais duradoura precisa da suspensão da razão e até da consciência para garantir prazer ao indivíduo em sua condição, o mínimo possível, próxima da plenitude esperada. O amor em toda sua exaltação libidinal é a busca constante de prazer do ser humano, esse prazer que também pode ser frustrado, continua sendo o principio de vida que se estendeu para além da relação puramente sexual e se introduziu nas diversas esferas de atuação social do próprio ser humano. Eros filho de Póros (riqueza) com Pênia (pobreza) continuará excepcionalmente exaltado por sua beleza e altamente valorizado por sua astúcia em realizar desejos comuns e ocultos nas fantasias dos seres humanos.

Referencias bibliográficas

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GIDDENS, Anthony. Modernidade e Identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002.
LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J.-B. (1967). Vocabulário da psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
SCHOPENHAUER, Arthur. Metafísica do amor, metafísica da morte. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
STOLLER, Robert J. Observando a imaginação erótica. Trad. Raul Fiker e Marcia Epstein Fuiker. Rio de Janeiro: Imago, 1998.
________________. Masculinidade e feminilidade: apresentações de gênero. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.
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Autor: Chardes Bispo Oliveira


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