Escritor Enxuto Mas Com A Mão Molhada



Li alguns comentaristas literários e ouvi até de outros escritores, que uma das maiores virtudes do grande cronista Luiz Fernando Veríssimo é o poder de síntese em seus textos.

Como fã incondicional desse escritor e pelo fato de considerá-lo o maior cronista do Brasil, além de tê-lo como modelo a tentar ser seguido para as coisas que escrevo, confesso que sempre percebi nele uma infinidade de virtudes e nunca tinha parado para pensar nesse aspecto em seus textos.

Sempre fui um perseguidor do poder de síntese, do atalho na exposição de motivos, no enxugamento do texto e das narrativas, tanto é verdade que não sou um bom leitor nem de contos, o que dirá de romances, indo direto, não para o último capítulo e sim para a última página.

Isso nem sempre dá certo, pois muitas vezes, o título do romance era "O Grande Mistério" e na última página, só tinha o seguinte texto:"...e no final, tudo permaneceu como sempre esteve."

Talvez até possa ser um sintoma de ansiedade, doença que afeta muita gente e que deve ser tratada, sendo típica dos tempos atuais, essa mania de ser objetivo, linear e querer ir direto ao assunto.

Muitos que compartilham dessa falta de paciência para rituais literários ou sociais, talvez o façam pelo fato de ganhar pouco ou gastar muito, estando sempre colecionando atividades ou bicos para recompor a renda familiar, não sobrando tempo livre para qualquer coisa que dure mais do que cinco minutos, inclusive o sexo.

Sempre abominei aquelas pessoas que vão contar uma piada e carregam consigo um controle remoto para o público, para tê-los a sua inteira disposição, enquanto ele vai ao banheiro, atende o celular ou faz um lanche dando um "pause" na platéia, como que a dizer: "não ousem sair daí, que ainda faltam quarenta e três minutos para eu terminar essa piada".

Sem falar que um terço do público já conhece a piada e ela não tem graça nenhuma, outro terço odeia piadas e o outro terço não está prestando atenção à piada (por isso que eu acho que essas empresas de pesquisas deveriam ser contratadas por comediantes, minutos antes deles começar a contar suas piadas).

Mas, voltando ao enxugamento do texto, um exemplo para ilustrar melhor o assunto é a seguinte frase, inserida em uma crônica ou texto:

"O Brasil é o melhor lugar do mundo para se fazer falcatruas".

Um escritor com um texto enxuto diria:

"O Brasil é o melhor para falcatruas".

Um escritor com a mão molhada diria:

"O Brasil é o melhor lugar do mundo".

Sérgio Lisboa.


Autor: Sérgio Lisboa


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