A PLURALIDADE DE PÁTRIAS



A PLURALIDADE DE PÁTRIAS

A citação tão famosa de Fernando Pessoa "A minha pátria é a língua portuguesa" tinha como objetivo algo mais do que apenas expressar a sua devoção por essa língua no sentido real da frase. A questão principal é trazer a problemática com relação ao conceito de pátria e o que isso significava literalmente para Pessoa. Vejamos brevemente o conceito de pátria e nação pesquisado no Minidicionário da Língua Portuguesa de Evanildo Bechara: pátria (pá. tri:a) sf. País onde se nasce e/ou do qual se é cidadão. [Do lat. patria, ae.] ; nação ( na.ção) sf. 1Comunidade politicamente organizada em território definido e cujos membros são regidos pela mesma constituição. 2Esse território; país. 3O povo que habita esse território. 4Terra natal; pátria. 5Tribo indígena. [Pl.: nações.] [Do lat. natio, onis.].
Eduardo Lourenço no seu texto "Da língua como pátria", mostra o que realmente Fernando Pessoa estava querendo nos dizer quando se refere à pátria na sua citação, na verdade Pessoa está se referindo a sua "identidade", porque é através dessa língua que ele se inventa, deixando em suas obras as características peculiares da sua língua mãe, a Língua Portuguesa. Observe nesse fragmento de Pessoa retirado do texto de Eduardo Lourenço "... essa língua que através de mim se torna uma realidade não só viva, mas única, a língua através da qual me invento Fernando Pessoa, é ela a minha pátria." Eduardo Lourenço explora durante todo o texto o conceito de pátria e nação. Pátria é considerada como um grupo humano, uma tribo, que se comunicam e se entendem a partir de uma língua própria. É mencionado no texto a CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) que fazem parte os países que foram colonizados por Portugal e que até hoje utilizam a língua portuguesa para a comunicação e também esclarece que a língua está em constante mudança por ser um corpo vivo e imaterial, fazendo referência a Babel (Torre de Babel- Bíblia) em que ocorre a confusão das línguas em toda a terra.
Ao citar no texto a língua-Vieira (Padre Antônio Vieira ? Barroco), língua - Garrett (Romantismo), língua-Eça (Eça de Queirós-Modernismo) e língua-Pessoa (Fernando Pessoa), o autor está querendo nos chamar a atenção para a evolução da língua portuguesa através dos séculos, os dialetos característicos de cada época, subtendendo-se os períodos literários e a situação histórica /política de cada época.
O Brasil é mencionado no texto como uma dessas "pátrias", no qual utilizamos um português-outro, próprio, modificado, entretanto não perdendo a sua raiz, que é a língua portuguesa. O Brasil e os outros países que utilizam um português próprio são classificados como pátria por utilizarem um português diferenciado e originado de uma única língua, que é a língua de Portugal e por esse motivo Portugal é ressaltado como nação. O autor está correto quando diz que "o único sujeito da língua portuguesa, dessa língua que vivemos como pátria, ou a alma dela, são as gentes que a falaram, que a falam e a falarão no futuro". A pluralidade de pátrias é algo real e inconstante, é a perfeita transformação de um povo. É um idioma e ao mesmo tempo um outro idioma quando nos comparamos com os angolanos, os moçambicanos, os cabo-verdianos. os guinenses e até com os portugueses. É o que chamamos de linguajar informal, coloquial, característico de um povo, mas com o resquício do que nos originou, do que nos colonizou e o que é até hoje determinado com a língua-padrão, a língua culta.

Autor: Daiana S. Moura


Artigos Relacionados


A Pronúncia Do Fonema ''th'' Na Língua Inglesa: Uma Análise Detalhada

O Linguajar Nosso De Cada Dia

Ensino Bilingue: Língua Portuguesa Para Surdos

DiscussÃo Acerca Da InclusÃo Da LÍngua Portuguesa Como Idioma Oficial Da Onu

Estrangeirismo: Substituição Ou Acréscimo Da Língua Nacional?

O Desenvolvimento ContemporÂneo Da ProduÇÃo LiterÁria Africana De LÍngua Portuguesa

Do Gamelan Ao Fado