O Casarão Da Primeira Rua



..Na última noite da novena, as almas começaram a se manifestar...

Do mesmo modo que foi fácil alugar o Casarão da Sexta Rua, não tivemos dificuldade de encontrar outro casarão, só que desta vez, confortável, sem nenhum problema na construção, com lindas portas e vidraças, além de um teto todo envernizado com lustres e candelabros da época colonial. Era realmente um lindo casarão, localizado na Primeira Rua, ao lado de outra vila, também no Jardim das Araras, nas proximidades da Praia do Sapo.
Moramos nesse casarão durante um ano. Entretanto, não podemos afirmar que tudo transcorreu na santa paz. Nos primeiros três meses ouvíamos batidas no teto. Pensamos ser morcegos, ratos, passarinhos ou até mesmo raposas que tivessem entrado no forro. Chamamos uma pessoa para verificar o teto, mas nada foi encontrado.
Três meses depois, novo incidente: objetos e vidraças começaram a aparecer quebrados, sem nenhuma interferência de pessoas ou explicação lógica. Contamos o fato para algumas pessoas e uma delas, participante da Pastoral da Oração, moradora do bairro, sugeriu fazermos uma novena para as almas, pedindo para que elas manifestassem seu desejo e depois se afastassem, que nós cumpriríamos a promessa.
Fizemos a novena com algumas pessoas do bairro. Na última noite da novena, as almas começaram a se manifestar: várias pessoas que estavam rezando viram uma mulher morena de cabelos pretos compridos, vestindo camisola rosa claro, com babadinhos no decote, passando do quarto para a cozinha, e da cozinha para a sala de jantar. Foi um comentário geral, mas, nós moradores da casa, não vimos nada.
Durante mais três meses, após a novena, a mulher passou a aparecer todos os dias, ou melhor, todas as noites, principalmente nas noites de chuva com trovões e relâmpagos. O que era mais estranho do que “visagem” aparecer sem explicação para os inquilinos de uma casa, de uma rua ou bairro inteiro, era a coincidência da “fantasma” aparecer sempre de cabelo molhado, de camisola e pés descalços, sempre por trás das vidraças das portas e janelas, sendo vista sempre dentro da casa pelos que estavam do lado de fora. Entretanto, a fantasma nunca era vista pelos moradores que estavam com ela no interior da casa.
Por decorrência do trabalho, fomos obrigados a fazer três viagens: No primeiro mês, fomos para Londrina e como decidimos viajar com urgência, não tivemos tempo de colocar a casa em ordem. Então, deixamos três rapazes cuidando da casa. A mulher da camisola rosa apareceu para eles, olhando triste por trás da vidraça, segundo contaram os vizinhos. Resultado: quando chegamos, encontramos a casa toda arrumada, coisa que os rapazes não fariam; não só por não saber arrumá-la como também porque não conseguiram dormir lá nenhuma noite. Afinal, durante aquele mês choveu todos os dias.
No mês seguinte, como precisávamos viajar para Brasília, convidamos um rapaz e um casal de amigos para ficar na casa. Porém, eles também viram a mulher passando lentamente do quarto para a cozinha, sendo confirmado por alguns vizinhos. Ficaram apenas um dia. Durante todas as noites, segundo eles, ela não saia da cozinha. No entanto, esses foram os únicos, segundo eles, a ver a mulher, dentro da casa.
Na terceira viagem quando fomos realizar uns exames em Santarém, mais pessoas da família se ofereceram para cuidar da casa. Diziam que não acreditavam nos comentários. Mas esses também só conseguiram ficar lá uma noite. Bastou “a mulher de camisola “ dar o ar da graça, os parentes foram embora. E assim o ano se passou sem pensarmos em sair da casa, pois além de confortável, tínhamos aquela mulher fantasma que cuidava da casa, da qual não tínhamos medo, até porque nunca a vimos e cuja história de aparição que os outros contavam já era para nós algo natural.
Nós, inquilinos, nunca vimos a tal mulher, apenas sentíamos que havia mais alguém conosco que, embora gostasse da gente, só queria que saíssemos da sua casa. Apesar de não termos a intenção de mudar, surgiu uma proposta de aluguel de uma outra casa mais barata, menor e mais perto do centro da cidade. Foi aí que decidimos sair desse segundo casarão, mesmo que gostássemos muito dele. Durante todo o ano que moramos no casarão da 1ª Rua, a mulher nunca ficou muito tempo na sua aparição, na maioria das vezes, noturna. Somente no dia da mudança, em um domingo de bastante sol, depois de tirarmos toda a mudança, fechar as portas e entrar em nosso carro para irmos de vez, todos os vizinhos, inclusive nós, vimos a mulher que nos olhava da vidraça da sala. Naquele momento, o fretista do caminhão perguntou:
-E aquela mulher não vai com vocês?
Dissemos em coro:
- Ela fica. É a Dona da Casa.

Vocabulário:

Primeira Rua: denominação de rua na cidade de Itaituba
Praia do Sapo: Praia fluvial mais próxima da sede cidade de Itaituba, também chamada Praia do Amor, onde realizam festivais de verão todos os anos.
Autor: Djalmira Sá Almeida


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