A Casa Da Quarta Rua



A CASA DA QUARTA RUA

(Fogo e coisas estranhas)

... A nova empregada dizia sentir arrepios, cada vez que passava ali.

Depois de enfrentarmos os fantasmas de dois casarões, sem medo e sem nenhum stress, fomos morar em uma pequena, aconchegante e bonita casa na Quarta Rua da Cidade Alta da Bela Vista. Bonitinha mesmo, branca e rosa, com jardim, grades brancas nas janelas, floreiras, churrasqueira, uma área de serviço, um quintal e dois cômodos nos fundos.
Durante os seis primeiros meses, nada de estranho aconteceu. Mudamos para lá em abril, quando chegou setembro, o jardim ficou todo florido até porque era primavera e a proprietária da casa costumava cultivar muitas plantas cheirosas e de diversas cores.
Em outubro, as plantas começaram a perder folhas, as flores murcharam e iniciou-se um tempo de intenso calor, o que é normal para o clima da região norte. O que não é normal é que as lâmpadas novas que instalamos ao mudar na casa começaram a queimar. Cada semana trocávamos os bicos e abajures de algum quarto ou sala.
Na cozinha, muitos alimentos se perderam: a empregada passou a ter um comportamento agressivo conosco, não queria mais lavar a roupa nem limpar a casa e vivia queimando o almoço. O mais estranho é que, cada vez que íamos conversar com ela, não conseguíamos falar do assunto, como se houvesse um poder de paralisar uma tomada de decisão.
Mais fatos e coisas muito estranhas ocorreram no decorrer de dois meses. Passamos bem o 1º Natal naquela casa, fizemos a ceia muito bonita, entretanto, a nossa árvore no dia seguinte pegou fogo. As árvores do jardim que tinham sido enfeitadas com pisca-pisca caíram todas. Nossos eletrodomésticos passaram a dar tilt: geladeira, televisão, computador e fogão, durante sete dias não funcionaram. Somente no Ano Novo, mais precisamente, 2004, é que voltaram a funcionar. Parecia tudo ter voltado ao normal. Entretanto, depois do Dia de Reis, verificamos mais fenômenos intrigantes: as torneiras secavam misteriosamente; sapinhos pulavam pelas janelas; aranhas subiam nas cortinas, nas toalhas e nos panos de prato, além de aparecerem muitas vespas nas lâmpadas e locais onde havia claridade.
Havia no fundo da casa dois cômodos, um deles tinha sido uma sauna. Nunca soubemos o que teria acontecido ali. Porém, quando conseguimos mudar de empregada, fizemos uma faxina naqueles cômodos e tiramos muitos cacarecos de lá. A nova empregada dizia sentir arrepios, cada vez que passava ali. Depois de arrumar tudo, ela saiu do local gritando, pois alguém deu um sopro no ouvido dela. A partir daquele dia, nós começamos a ver um vulto de homem com uma toalha em volta do corpo, andando no fundo do quintal. Contamos para algumas pessoas da Rua que riram de nós e, claro, não acreditaram. Passamos a ver o homem todos os dias, a partir das seis horas da tarde, mas somente a nossa família via.
Toda semana alguma coisa na casa se estragava. A fossa explodia e espirrava no vidro da janela dos quartos, fezes e coisas podres. A suíte passou a ser fétida, apesar de ser limpa duas vezes por dia. A empregada ia lavar a calçada, mas a água vinha com sujeira, asas, pó de café e até chumaço de algodão. A água do tanque ficava escura e até manchava a roupa de um óleo que não se sabe de onde vinha. O encanamento vertia uma gosma preta que dificultava a limpeza do ralo. O encanador vinha ver para consertar mas nada encontrava.
Daí em diante, não conseguimos mais segurar colaboradoras em casa, todas iam embora porque não conseguiam dar conta do serviço. Mais uma vez chegou a hora da Turma da Oração. Chamamos o Grupo da Novena e fizemos a uma corrente de estudo bíblico, oração e jejum durante nove dias. O homem da toalha nunca mais apareceu. Não tivemos mais problemas, daí pra frente, até porque mudamos outra vez de casa, porque nosso contrato era só de um ano. Estamos agora, de novo na 1ª Rua, mas em outra casa, onde nenhum fenômeno sobrenatural ainda se manifestou, pelo menos até final de 2005.
Vocabulário:
TILT- problema técnico
CACARECO- tralha, coisas velhas
Autor: Djalmira Sá Almeida


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