ANÁLISE CRÍTICO-ARGUMENTATIVA DA OBRA "MACUNAÍMA, UM HERÓI SEM NENHUM CARÁTER"



Publicado em 1928, Macunaíma ? obra do escritor Mário de Andrade ? é um romance de linha Moderna, escrito em apenas seis dias, durante suas férias no interior de São Paulo, tornando-se um clássico da literatura brasileira, o qual aborda as aventuras de um herói sem nenhum caráter, personagem que dá nome à obra.
Todo o enredo da rapsódia se desenvolve em torno da perda e recuperação da muiraquitã ? objeto de valor sentimental para Macunaíma, presente de Ci, rainha das Amazonas, com quem tem um filho (este falece dias depois de nascido).
No desenrolar da trama, Macunaíma "brinca" com diversas mulheres, atraindo até sua cunhada, Iriqui, mulher de Jiguê; e levanta a questão se o herói é ou não o perfil do brasileiro, tido como sem caráter, sem consciência. Tal fato reforça-se ainda em um capítulo da narrativa, em que o personagem principal deixa a consciência na ponta de um mandacaru na Ilha de Marapatá e viaja para o Sul (Capítulo V).
Nota-se no contexto, a ausência da pontuação em algumas orações, uma linguagem simples, bem como a intenção do autor em retratar diversos problemas brasileiros, tais quais: a falta de definição de um caráter nacional, a cultura submissa e dividida do Brasil, o descaso para com as nossas tradições, a importação de modelos socioculturais e econômicos, a discriminação lingüística, entre outros fatores. Segundo Mário de Andrade, "este livro não passa duma antologia do folclore brasileiro. [...] Um dos interesses foi desrespeitar lendariamente a geografia e a fauna e flora geográficas. [...]" (1928, pág. 220)
Percebe-se ainda certa ousadia do autor em estabelecer uma relação entre o imaginário mítico e o tecnológico, no qual apresenta-se na fase em que Macunaíma, em busca da muiraquitã, vai para São Paulo e lá "mitifica" alguns objetos da civilização urbana por ele desconhecidos, como a máquina pathek, a máquina Smith-Wesson, a máquina telefone, a máquina bonde, a máquina roupa, luz elétrica etc., e, reciprocamente, é enfeitiçado por eles.
Enfim, notou-se ousadas intenções do autor em publicar a narrativa supracitada, tendo propósito precípuo a ruptura com qualquer traço de uma corrente literária que ainda prevalecia naqueles tempos, o Parnasianismo; e implantação de uma cultura genuinamente brasileira, sendo, a obra, alvo de críticas até nos dias atuais e um marco para a literatura brasileira.

Autor: Amanda Prates Domingues


Artigos Relacionados


Muita Saúva, Pouca Saúde: Macunaíma, Um Retrato Do Brasil.

Análise Da Linguagem Empregada No Romance Amar, Verbo Intransitivo, De Mário De Andrade

Hibridismo E Antropofagia Em Memórias Sentimentais De João Miramar, De Oswald De Andrade.

Machado De Assis: MemÓrias PÓstumas De BrÁs Cubas Na VisÃo De Roberto Schwarz

Análise Do Romance "iracema"

Os Espiões

O Maior Dos Problemas Do Homem